"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

REDE LANÇADA. E AGORA?

Nem oposição, nem situação. Centro volver? Não. Então que diabos de posição? A própria. Se preferir, leia “in-de-pen-den-te”. Qual é o jogo? Por enquanto apenas o lançamento da Rede Sustentabilidade, sábado passado, pela ex-senadora Marina Silva.

Que até tem uma carinha de pescadora. Mas, na sua biografia, o retrato é de uma estudiosa formada em História, também autodidata compulsiva, com um enredo de vida extraordinário. Mesmo assim, muita gente (por preguiça ou preconceito) a considera uma coitada ingênua; que não fala “coisa com coisa”.

Outras pessoas, para quem suas palavras fazem sentido, julgam Marina espertíssima. Ou uma idealista capaz de semear reflexões pertinentes. Principalmente porque a Rede não pretende ser um partido apenas para disputar eleição. Entre suas pretensões, a transformação dos eleitores, que passariam de espectadores a protagonistas da política.

O objetivo, no caso, seria dispersar as manadas partidárias. Para quê? Para “enredar” cabeças criativas. Juntá-las, sem inibir sua capacidade individual de pensar, a fim de mudar crenças, atitudes e sistemas superados para a civilidade de uma cidade, o desenvolvimento real de um país, a pacificação do mundo e a sustentabilidade do planeta.

Utopia? Talvez o Brasil esteja precisando... Até porque, numa democracia, podem existir vários tipos de jogos políticos desde que as regras de cada um sejam claras e respeitadas.

Por falar em jogo, uma das cobranças mais comuns a Marina é por sua insistência em subir no muro. Interpretada como covardia em revelar de que lado está: contra ou a favor do governo.

Pudera, em uma nação polarizada, a maior torcida acaba sendo para a luta entre inimigos desesperados. Um para tomar o poder, o outro para preservá-lo.

Não, não se pode negar que Marina gosta de paisagem. Ela sobe destemidamente no muro para enxergar mais longe, vislumbrar novos horizontes. Perceber melhor a direção dos ventos, a intensidade dos raios solares, o movimento das ondas.

E se expor...

Mesmo sabendo que vai se tornar alvo de pedradas vindas dos dois lados. Quer saber? A ex-senadora do Acre é muito corajosa.

Tomara que a Rede Sustentabilidade sirva para ajudar a juventude brasileira a encontrar uma forma de praticar política com dignidade (esta palavra ainda existe?). É cedo para discutir nomes para as próximas eleições, mas já está na hora de debater o que se deseja daqui por diante.

Afinal, tem muita gente neste país observando o clima político de cima do muro.

19 de fevereiro de 2013
Ateneia Feijó é jornalista

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