Correspondentes do NY Times em Londres informavam, na semana passada, que mais seis jornalistas que trabalham para The Sun ou trabalhavam para The News of the World, dois dos tablóides sensacionalistas de Rupert Murdoch, foram presos e tiveram suas casas devassadas, ainda com relação às investigações de escutas telefônicas, hackeamento de computadores, interceptação de mensagens e suborno de policiais nos anos de 2005 e 2006 para conseguir informações sobre celebridades ou crimes e publicá-las em primeira mão.
Mais de 100 repórteres, editores, policiais e funcionários públicos já foram presos nessa investigação. Rupert Murdoch sentiu-se obrigado a fechar o The News of the World, o mais lucrativo dos seus tabloides em junho de 2011 para tentar aplacar a indignação do público que ameaçava contaminar todos seus títulos em papel, na TV ou em bits, 169 vítimas desses atos de invasão de privacidade entraram com processos e 144 já foram indenizadas em valores em torno de US$ 1 milhão cada.
Perfeito! É o mínimo que tem de acontecer com picaretas desse naipe num país civilizado.
Agora, o que possivelmente ficará para os historiadores explicarem a nossos filhos é porque invasões de privacidade, bisbilhotagem, arapongagem e roubo de informações para proporcionar lucro fácil a quem se entrega a essas práticas é punida de forma proporcional à ofensa e ao prejuízo produzido quando praticados pela “old mídia” e até pelas companhias telefônicas mas não apenas é permitido como, até, é saudado como um paradigma de autêntica ação democrática em favor do bem comum quando praticada pelos donos dos meios modernos de comunicação online como o Google, o Facebook e todas as famigeradas “third parties” a quem todo mundo que possui algum “hub” ou ponto de trafego de alguma significância na internet encarrega de espionar seus clientes e usuários para vender legalmente as informações assim obtidas a qualquer um que queira pagar por elas.
Qual a diferença entre subornar um policial que prega o seu grampo no telefone de uma ou outra celebridade para obter as informações e pagar pelas que a legião de programadores ultra-especializados dos senhores Page ou Zuckergberg arranca de todos nós, celebridades ou não, abrangendo todas as nossas movimentações físicas e financeiras, nossas perambulações pela rede, nossas conversas, nossas intimidades e até as fotografias que trocamos com os amigos, senão a solerte afirmação deles próprios de que não fazem isso pelas dezenas de bilhões de dolares que isto lhes rende por mês, coisa de somenos, mas sim pelo bem da humanidade?
Por que razão deixar ir adiante esse tipo de espionagem interessa a governos é uma pergunta cuja resposta não exige muito tirocínio. Por que isso interessa a partidos totalitários e a inimigos da democracia como os apedrejadores das yoanis sanchez da vida, menos ainda.
É multimilenar a luta dessa gente pelo controle e o esmagamento do indivíduo. É proverbial a sua ânsia de espionar.
Mas, mais que tudo, o que lhes espicaça o apetite neste momento particular é a ameaça mortal que decorre do roubo sistematico de informações para o jornalismo independente, seu inimigo figadal desde sempre. Sobretudo em países de instituições periclitantes como o Brasil onde a imprensa professional e livre é o ultimo obstáculo entre eles e o poder absoluto.
Agora por que uma massa enorme de intelectuais, cientistas e pessoas geralmente bem intencionadas sanciona e aplaude os “big brothers” que invadem nossas vidas por todos os lados hoje em dia é algo mais difícil de responder, embora também não seja novidade.
Não existe caso na História de ditadura ou de opressão totalitária que tenha conseguido se instalar no poder sem o concurso decisivo desse tipo especial de imbecil cujo cérebro entra em curto-circuito à menção de certas palavras mágicas, que é quem de fato arma a mão dos genocídas e só acorda para a realidade quando já é tarde demais.
Isso quando não é posto para dormir para sempre pelos próprios “heróis” pelos quais costumava babar…
19 de fevereiro de 2013
vespeiro
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