"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

ACENDER LUZES

 

Pode-se dizer, sem muito exagero (como se sabe, um pouco de exagero é considerado aceitável, aparentemente por ser inevitável, na imprensa do mundo inteiro) que a bola da vez na política brasileira é o senador alagoano Renan Calheiros.

No momento, ele se refugia no spa gaúcho Kurotel, que por acaso conheço. Posso garantir que é muito bonito e tranquilo; faz muito bem à saúde do corpo e, para quem precisa, também aos nervos. Lamentavelmente, os hóspedes, por assim dizer, depositam seus problemas e aflições ao chegarem, mas essa bagagem espera por eles na saída.


Ao voltar para casa, o presidente do Senado, coitado, terá esperando por ele uma petição que já colheu mais de 1,5 milhão de assinaturas na internet pedindo o seu impeachment. Não há registro de iniciativa popular com esse peso, sem qualquer ligação com partidos e líderes políticos.

É mais impressionante do que a campanha pela Lei da Ficha Limpa. Se alguém não se lembra, ela nasceu de um movimento popular que reuniu mais de um milhão de assinaturas que produziram uma lei aprovada pelo Congresso em 2010 e foi declarada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal dois anos depois.

Pois a petição contra Renan — e isso tem importância considerável — leva o jamegão de mais cidadãos do que aquela lei. Pode-se dizer que o povo não esqueceu a força que tem.

Um dos redatores da Lei da Ficha Limpa, o juiz Marlon Reis, comparou os dois movimentos populares e chegou a uma conclusão óbvia: no mínimo, disse ele, esta nova manifestação da vontade popular “vai acender uma luz amarela para o Congresso rever suas práticas”.

Acender luzes, de qualquer cor, costuma ser boa coisa.

19 de fevereiro de 2013
Luiz Garcia, O Globo

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