"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 3 de fevereiro de 2013

O BRASIL ESTÁ DE LUTO

Lembro como se fosse hoje quando tive o primeiro contato de minha vida com senadores. Foi na primeira metade dos anos 1950, o Rio de Janeiro era a capital do que se chamava oficialmente Estados Unidos do Brasil.

Minha mãe durante a campanha presidencial de 1950, que elegeria Getúlio Vargas, trabalhara como repórter do jornal A Tribuna, simpatizante da candidatura de Cristiano Machado.

Fernando Collor & Renan Calheiros
Fernando Collor & Renan Calheiros

Morávamos no distante subúrbio do Jacaré e ir à cidade, para mim era uma grande alegria, invariavelmente minha mãe me levava a sorveteria Babini, que ficava na rua Senador Dantas, para comer um sorvete tipo italiano. Num destas, fomos mais adiante e ela me fez entrar no saguão de um hotel chamado OK.

Nas poltronas e circulando tinha um monte de senhores com expressões séries e minha mãe sussurrando, como se estivesse na igreja, me explicou que eram “Senadores da República”, ato continuou, apontando-os com o queixo, dizia-lhe o nome, com a voz mais baixa ainda.
Portanto ficou-me marcada na lembrança algo como se tivesse entrado num templo povoado de santos.

Era um tempo que os senadores não tinham ajuda moradia, sem carro oficial ou alguma das outras mordomias nababescas atuais. Sendo o Senado no Palácio Monroe, o hotel ficava fica bem perto o que permitia ir até lá andando.

Com o passar do tempo, eu ia à cidade sozinho e quando voltava, para pegar o ônibus era obrigado a passar por aquele local, mas jamais deixei, em sinal de respeito, de tirar o boné.

Essa longa introdução e para fazer entender como me sinto com a eleição para à presidência daquela que foi uma respeitável Casa, de um pulha da marca de Renan Calheiros.

Teve que renunciar à presidência dessa mesma Casa em 2007, para não ser cassado, mas continua indiciado pelo Supremo Tribunal Federal por peculato, falsidade ideológica e utilização de documentos falsos.

Como um individuo com esse ficha pregressa pode ocupar o quarto mais importante cargo do país (ele é o terceiro na linha de sucessão presidencial).

Todavia ele não tem culpa, safado se é ou não se é, e ele sempre o foi. Os responsáveis por essa parte negra da história nacional, são os 56 senadores (entre 81), que valendo-se da pusilanimidade do voto secreto o elegeram.

A foto é terrível, mostra dois facinorosos políticos; Fernando Collor de Melo, que renunciou à presidência da Republica por ser em relés ladrão e o já citado Renan Calheiros, comemorando com agressiva desfaçatez a vitória do mal impune, contra o bem sofrido.

Paro aqui, pois vou até o banheiro vomitar, chorar escondido, pela perda dessa parte de minha pureza infantil que guardava como uma rica lembrança, e que me foi violentamente roubada.

(1) Principais escândalos que envolvem o senador Renan Calheiros Caso do laranjal alagoano, Caso Mônica Veloso, Caso Schincariol e Golpe no INSS

03 de fevereiro de 2013
Giulio Sanmartini

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