"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 3 de fevereiro de 2013

MORREU O QUE IMPEDIU A PRIVATIZAÇÃO DE FURNAS

 

Morreu quinta-feira, em São Paulo, o ex-deputado, ex-ministro e ex-presidente de Furnas, Luiz Carlos Santos, aos 81 anos de idade. Participou do governo Fernando Henrique como ministro extraordinário para Coordenação de Assuntos Políticos. Nessa condição, em 99, foi nomeado presidente de Furnas Centrais Elétricas, que se encontrava em processo de privatização.


Santos foi designado para viabilizar tal tarefa. Mas ao chegar à empresa verificou que se tratava de um absurdo total e, com base nas informações do corpo técnico, passou a se opor à ideia. A proposta de venda de Furnas, a maior operadora hidrelétrica brasileira, calculava um preço, denunciou na época, dez vezes menor do que seu ativo.

Isso sem considerar sua importância econômica, responsável, como é até hoje, pelo fornecimento e transmissão de 41% da energia consumida no país e por 63% da produção industrial brasileira. São quinze hidrelétricas, duas térmicas, vinte mil quilômetros de linhas de transmissão. Espinha dorsal do sistema elétrico nacional, como há pouco classificou o atual presidente da empresa, Flávio Decat.

A luta em que se empenhou não foi fácil. Ao contrário. Enfrentou e superou fortes pressões, sobretudo com o ex-presidente do BNDES e que exercia também a presidência do Conselho Nacional de Desestatização, Pio Borges.

A diretoria atual de Furnas, em comunicado oficial, destacou o respeito de que era credor, frisando que será sempre lembrado por sua ética e capacidade de mobilização. Ajudou Furnas a se tornar o que é hoje, um dos principais agentes do desenvolvimento brasileiro.

UM POLÍTICO DE VALOR

Vereador, deputado estadual, deputado federal, administrador, seu curriculum é dos mais amplos. Foi filiado ao Partido Democrata Cristão, ao PFL, finalmente ao PMDB. Na Câmara Federal, tornou-se relator de grande número de projetos de extrema relevância para o país como foi caso da Reforma do Poder Judiciário e do Código de Defesa do Consumidor. Nos últimos tempos encontrava-se afastado das atividades políticas e administrativas.

Assumindo a presidência de Furnas em 99, permaneceu no cargo até 2002. Compreendeu o papel de Furnas, valorizou a participação da empresa no sistema elétrico. Em 2002, elegeu-se deputado federal para o que seria o último mandato de sua carreira e de sua vida.

Sua morte consternou a atual diretoria e o quadro funcional da empresa, que hoje poderia, não fosse sua atuação, encontrar-se fora da rede estatal e portanto não integraria a holding da Eletrobrás.
Santos compreendeu a importância de seu papel e exerceu o cargo com eficiência, independência, dignidade.
A direção de Furnas e os funcionários destacaram que o Brasil será eterno devedor desse grande ser humano. Perfeito. Luis Carlos Santos foi um administrador notável, um ser humano excepcional. A frase, embora tão repetida ao longo do tempo e em várias situações, no caso de Luiz Carlos Santos, se aplica integralmente: o país muito deve a ele.

Furnas, hoje, é uma potência ainda maior do que era. A sobrevivência da empresa, no final do período FHC, garantiu a continuidade que hoje todos a reconhecem, admiram e exaltam como exemplo de eficiência e progresso.

03 de fevereiro de 2013
Pedro do Coutto

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