Ainda não é hora de mandar a conta, mas na tesouraria dos partidos já vêm
sendo preparadas as notas promissórias.
A mais polpuda é do PMDB: só apoiará a reeleição de Dilma caso seu vice continue sendo Michel Temer e se receber, até as eleições de 2014, ministérios melhor aquinhoados no orçamento, mantendo e até ampliando diretorias de empresas estatais e procurando candidatos a governador capazes de contar com o apoio do PT, podendo a recíproca ser também verdadeira. Não em todos os estados, por certo, mas num número razoável em condições de manter a aliança em seu favor.
Em seguida vem o PR, que de republicano tem pouca coisa. O alvo principal é o ministério dos Transportes, uma espécie de vingança do senador Alfredo Nascimento, demitido por corrupção no começo do governo Dilma, mas agora preparado para derrubar o substituto, Paulo Passos, e ver um de seus parlamentares ocupar o cargo.
O ex-ministro não leva Valdemar da Costa Neto para seus encontros com a presidente. Seria demais, o deputado logo começará a cumprir pena de cadeia, condenado que foi pelo Supremo Tribunal Federal, no processo do mensalão. Mas levou Anthony Garotinho, até pouco um dos maiores detratores do PT. Pelo jeito, os “republicanos” sairão vitoriosos na parcela inicial a receber pelo apoio à reeleição.
Depois, o PDT, não mais de Leonel Brizola, mas de Carlos Lupi. Também demitido por acusações de corrupção, no caso do ministério do Trabalho, o cacique trabalhista quer primeiro derrubar seu sucessor, Leonel Brizola Neto, por querelas internas. Depois, pretende emplacar um protegido qualquer, para só então declarar que seu partido apóia o segundo mandato de Dilma. Enquanto isso, namora os tucanos e mantém perigosas relações com os socialistas. Para o que der e vier, poderá formar com qualquer um deles.
O Partido Socialista vem na fila. Eduardo Campos entoou juras de amor para o governo do PT, detém dois ministérios mas joga em todas as posições. De beque, quando lhe convém confirmar sua condição de fiel adepto da reeleição de Dilma, mas de atacante quando manda espalhar que sua vez chegou e que será candidato em 2014. Para aguardar uma débâcle econômica do governo do PT ou para valorizar seu desprendimento em seguir a reboque do poder. Tanto faz, mas, para o governo, é inconfiável. A menos que receba mais ministérios e compensações capazes de mantê-lo à tona até 2018.
O PTB continua à venda. Mesmo com Roberto Jefferson dentro de pouco tempo conduzido para atrás das grades, outro arcabuzado pela condenação no processo do mensalão, a outrora legenda criada por Getúlio Vargas perdeu sua identidade desde os tempos do general Golbery do Couto e Silva.
De trabalhista não tem mais nada, apenas de fisiologista. Dependendo do que Dilma pode oferecer, o PTB formará na primeira linha da reeleição. Mas sem afastar a hipótese de apoiar Aécio Neves, José Serra, Geraldo Alckmin ou até Marina Silva. Quem der mais, leva.
O partido de Paulo Maluf, o PP, faria corar frades de pedra, se ainda houvesse algum. Tendo apoiado Fernando Haddad para a prefeitura de São Paulo, abraçado com o Lula, o ex-candidato presidencial deve estar se vingando de tudo o que a vida lhe negou. Aceitará uma fotografia com Dilma ou uma entrevista com Aécio, mas quem garante que não vai declarar ser Marina desde criancinha, ou que sempre apoiou José Serra?
A procissão é imensa. Dela não escapa o PSOL, flutuando na lagoa escura, depois que fizeram submergir seu único líder coerente, Plínio de Arruda Sampaio.
O balaio de legendas ditas cristãs, pentecostais, ambientalistas, sociais e até comunistas aguarda o leilão. Não haverá um partido que alegue seu programa para subordinar apoio em troca de coerência. Jamais o quadro esteve tão deteriorado quando agora.
Do PC do B, subserviente ao PT, que sempre o desprezou, ao PPS, com nova fantasia, melhor evidência não há de que o Muro de Berlim caiu para nunca mais levantar.
Tem saída? À exceção da truculência dos governos militares ou da anterior extinção dos partidos, em 1937, parece que não. Aliás, nunca teve, desde o tempo dos liberais e dos conservadores.
22 de fevereiro de 2013
Carlos Chagas
A mais polpuda é do PMDB: só apoiará a reeleição de Dilma caso seu vice continue sendo Michel Temer e se receber, até as eleições de 2014, ministérios melhor aquinhoados no orçamento, mantendo e até ampliando diretorias de empresas estatais e procurando candidatos a governador capazes de contar com o apoio do PT, podendo a recíproca ser também verdadeira. Não em todos os estados, por certo, mas num número razoável em condições de manter a aliança em seu favor.
Em seguida vem o PR, que de republicano tem pouca coisa. O alvo principal é o ministério dos Transportes, uma espécie de vingança do senador Alfredo Nascimento, demitido por corrupção no começo do governo Dilma, mas agora preparado para derrubar o substituto, Paulo Passos, e ver um de seus parlamentares ocupar o cargo.
O ex-ministro não leva Valdemar da Costa Neto para seus encontros com a presidente. Seria demais, o deputado logo começará a cumprir pena de cadeia, condenado que foi pelo Supremo Tribunal Federal, no processo do mensalão. Mas levou Anthony Garotinho, até pouco um dos maiores detratores do PT. Pelo jeito, os “republicanos” sairão vitoriosos na parcela inicial a receber pelo apoio à reeleição.
Depois, o PDT, não mais de Leonel Brizola, mas de Carlos Lupi. Também demitido por acusações de corrupção, no caso do ministério do Trabalho, o cacique trabalhista quer primeiro derrubar seu sucessor, Leonel Brizola Neto, por querelas internas. Depois, pretende emplacar um protegido qualquer, para só então declarar que seu partido apóia o segundo mandato de Dilma. Enquanto isso, namora os tucanos e mantém perigosas relações com os socialistas. Para o que der e vier, poderá formar com qualquer um deles.
O Partido Socialista vem na fila. Eduardo Campos entoou juras de amor para o governo do PT, detém dois ministérios mas joga em todas as posições. De beque, quando lhe convém confirmar sua condição de fiel adepto da reeleição de Dilma, mas de atacante quando manda espalhar que sua vez chegou e que será candidato em 2014. Para aguardar uma débâcle econômica do governo do PT ou para valorizar seu desprendimento em seguir a reboque do poder. Tanto faz, mas, para o governo, é inconfiável. A menos que receba mais ministérios e compensações capazes de mantê-lo à tona até 2018.
O PTB continua à venda. Mesmo com Roberto Jefferson dentro de pouco tempo conduzido para atrás das grades, outro arcabuzado pela condenação no processo do mensalão, a outrora legenda criada por Getúlio Vargas perdeu sua identidade desde os tempos do general Golbery do Couto e Silva.
De trabalhista não tem mais nada, apenas de fisiologista. Dependendo do que Dilma pode oferecer, o PTB formará na primeira linha da reeleição. Mas sem afastar a hipótese de apoiar Aécio Neves, José Serra, Geraldo Alckmin ou até Marina Silva. Quem der mais, leva.
O partido de Paulo Maluf, o PP, faria corar frades de pedra, se ainda houvesse algum. Tendo apoiado Fernando Haddad para a prefeitura de São Paulo, abraçado com o Lula, o ex-candidato presidencial deve estar se vingando de tudo o que a vida lhe negou. Aceitará uma fotografia com Dilma ou uma entrevista com Aécio, mas quem garante que não vai declarar ser Marina desde criancinha, ou que sempre apoiou José Serra?
A procissão é imensa. Dela não escapa o PSOL, flutuando na lagoa escura, depois que fizeram submergir seu único líder coerente, Plínio de Arruda Sampaio.
O balaio de legendas ditas cristãs, pentecostais, ambientalistas, sociais e até comunistas aguarda o leilão. Não haverá um partido que alegue seu programa para subordinar apoio em troca de coerência. Jamais o quadro esteve tão deteriorado quando agora.
Do PC do B, subserviente ao PT, que sempre o desprezou, ao PPS, com nova fantasia, melhor evidência não há de que o Muro de Berlim caiu para nunca mais levantar.
Tem saída? À exceção da truculência dos governos militares ou da anterior extinção dos partidos, em 1937, parece que não. Aliás, nunca teve, desde o tempo dos liberais e dos conservadores.
22 de fevereiro de 2013
Carlos Chagas
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