Não é de hoje que déspotas da esquerda socialista terminam mumificados e exibidos ao público. Lênin, Stálin e Mao precederam Hugo Chávez nesse destino. Se o marxismo privilegiou na teoria os movimentos mecânicos e impessoais da história e das classes, na prática não dispensou os seus faraós.
Antes de optar pela mumificação, os mandatários bolivarianos devem ter sopesado o fato de que Chávez não foi um ditador genocida, no que se diferencia de outros líderes socialistas cujos corpos foram preservados da decomposição. Prevaleceu a vontade de reforçar o mito, e com ele o "statu quo", ao menos até a eleição presidencial do mês que vem.
Faz sentido a urgência. A utilidade política das múmias socialistas prescreve antes do preparado que as embalsama. Stálin de glicerina tornou-se logo um incômodo e foi enterrado. Menos de 40 anos após sua morte, a União Soviética desceu à cova.
A China e o Vietnã só não seguiram o mesmo caminho porque, contrariando seus fundadores embalsamados, transformaram-se em ditaduras capitalistas. A pobreza e a degradação campeiam em Cuba e na Coreia do Norte, dois microexperimentos remanescentes.
O chavismo na Venezuela tem a vantagem de não configurar-se como regime socialista. A economia venezuelana, antes e depois de Chávez, é basicamente a mesma. Extrai petróleo e o troca por tudo o que consome.
Os sucessores do caudilho terão de bater-se com agruras típicas de uma economia monoexportadora, agravadas pelo surto de despesas eleitoreiras do ano passado. Prevê-se em 2013 uma forte redução no crescimento do PIB, para 2% ou menos, contra 5,6% em 2012. A fim de diminuir seu deficit, o governo desvalorizou a moeda, o que terá impacto na inflação e no abastecimento.
Na urna de cristal, o cadáver de Chávez terá cada vez menos serventia para enfrentar o agastamento que esse quadro provocará.
11 de março de 2013
Vinicius Mota, FOLHA DE SÃO PAULO
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