A economia brasileira está numa certa encrenca. O Banco Central admite que a inflação está alta e se acomodando num patamar mais elevado, mas demonstra ter limitações para fazer seu trabalho. Os juros foram politizados e a presidente está em campanha para a reeleição. O BNDES tem errado, persistido no erro e mesmo assim está convencido de que está certo.
A ata do Copom tem um parágrafo surrealista. O BC admite que a inflação está espalhada e resistente. Que a dinâmica é desfavorável, que o fenômeno pode não ser temporário e que a inflação pode se acomodar em patamar mais alto. Dito isso, a conclusão só pode ser elevação de juros, a ferramenta que se tem para lutar contra o problema. Mas ele conclui que a política monetária deve ser usada com cautela.
Em outro momento da ata o BC diz que trabalha com a hipótese de R$ 155,9 bilhões de superávit primário este ano e de 3,1% do PIB no ano que vem. Nesse ponto mostra um espantoso alheamento da realidade. Como todos viram, a Fazenda mudou tanto a fórmula das contas públicas que os indicadores perderam parte da consistência e, além disso, está dando sucessivos sinais de que o superávit primário será reduzido.
O próprio BC fez uma mudança de termômetro desconcertante. Quem for, daqui a alguns anos, ler as atas para alguma tese acadêmica ou à procura de uma série estatística, ficará confuso. Na ata de janeiro, está escrito que a inadimplência total tinha recuado de 5,9% para 5,8% e o calote das pessoas físicas tinha aumentado de 7,8% para 7,9%. Na ata seguinte, de março, milagrosamente a taxa geral ficou estável em 3,7% e a de pessoa física ficou estável em 5,5%.
Como assim a inadimplência caiu tanto de uma reunião para outra? Simples. O termômetro foi alterado. E por uma mera nota publicada pelo BC mudaram-se os critérios. O BC passou a misturar crédito livre, que envolve as operações comuns de mercado, com crédito direcionado, subsidiado pela Caixa, principalmente para financiamento imobiliário e crédito rural. Fez a inadimplência da pessoa física cair de 7,9% para 5,5%. Assim fica fácil.
Os economistas têm dificuldade de explicar de onde virá o crescimento. Há expectativa de que a indústria e os investimentos voltem a crescer. Mas, quando se olha setor a setor, o quadro não é bom. O segmento de petróleo e gás ficou cinco anos sem rodadas de licitação. A torcida é para que a atual dê certo.
A Petrobras enfrenta queda da produção e viu seu caixa sangrar com o subsídio da gasolina. As ações da OGX caíram para o patamar mais baixo da história. A indústria do álcool está com mais esperança, mas enfrenta competição desleal do combustível fóssil. A construção civil cresceu demais e enfrenta desafios da mão de obra. O momento é de entrega de projetos, redução de dívidas, e não de novos lançamentos.
O custo do frete para exportação da soja aumentou 50%, segundo a AEB. No início de 2012, o transporte da tonelada do grão, do interior do Mato Grosso ao porto de Santos, custava US$ 100. Este ano bateu em US$ 150 porque o diesel ficou mais caro, houve mudança na legislação trabalhista dos motoristas e os gargalos na infraestrutura provocam filas de caminhões. O real desvalorizou. Tudo isso gera custo.
A bolsa é termômetro de confiança porque investidores tentam antecipar períodos de crescimento que aumentem os lucros. O Ibovespa está em queda de 6%. Outras bolsas estão melhores. O Dow Jones, da bolsa americana, sobe 11% no ano e atingiu o pico.
O BNDES colhe sucessivas controvérsias e insucessos na política de campeões nacionais, o BNDESpar aumentou a concentração de suas participações. Continua emprestando muito a poucos.
Seus números gordos de liberação desafinam diante da queda de 4% na taxa de investimento. Com todo esse quadro, tudo o que se pode dizer é que a economia está vivendo uma série de encrencas, das quais não se sabe como sairá.
17 de março de 2013
Miriam Leitão, O Globo
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