Desabafo de empresário e colaborador do Planalto sobre excesso de ministérios toca no ponto fraco do Estado -o império da fisiologia
O empresário Jorge Gerdau, que a título de voluntariado exerce o cargo de presidente da Câmara de Políticas de Gestão da Presidência da República, declarou considerar uma "burrice" a existência de 39 pastas no país.
Em entrevista a Fernando Rodrigues e Armando Pereira Filho, o empresário alterna momentos de esperança e desespero. A rigor, combinam-se: é numa avaliação de desespero esperançoso, por assim dizer, que Gerdau acrescenta: a burrice "talvez já tenha chegado a seu limite".
Não se trata, evidentemente, de crítica à capacidade intelectual da presidente, com quem o encarregado de racionalizar a administração pública federal mantém bom relacionamento e compartilha, sem dúvida, opiniões parecidas.
A questão é que, para acomodar a ampla variedade de partidos políticos que apoiam o governo, cargos são criados e distribuídos sem nenhum motivo técnico. Vai-se chegando ao paradoxo: para garantir a chamada "governabilidade" do país, a estrutura do próprio governo se torna ingovernável.
Em face das pressões sempre crescentes do empreguismo e da fisiologia, são bastante modestos os avanços que Gerdau pode creditar a seu trabalho no governo.
Pequenas coisas foram obtidas, diz o empresário, e dá como exemplo o aeroporto de Guarulhos. A capacidade de atendimento do maior aeroporto brasileiro era de 900 usuários por hora; de 2011 para 2012, o índice passou a 1.500.
A minúcia dessa conquista já consiste, por si só, em sintoma de que os problemas estruturais da administração federal -à qual competiria, em tese, resolvê-los- passam longe da esfera de poder concedida a Gerdau e encontram sua origem num sistema político que, burramente, subsiste inalterado no país.
A burrice talvez tenha chegado a seu limite, espera Gerdau. Será? Anunciou-se na sexta-feira, por exemplo, uma mudança de nomes na Secretaria da Aviação Civil -órgão que, para quem não sabe, tem status de ministério no Brasil. Seu titular, um técnico sem filiação partidária, cede espaço a um político do PMDB. É que outra secretaria, a de Assuntos Estratégicos, antes destinada ao peemedebista, pareceu insuficiente à agremiação.
O problema, para resumir, parece não ser tanto o de que a burrice tenha limites. É que, na política brasileira, a esperteza não os tem de modo algum.
17 de março de 2013
editorial da Folha
Nenhum comentário:
Postar um comentário