O senador Aécio Neves também vem se movimentando nos bastidores para pavimentar possíveis acordos partidários quando sua candidatura à Presidência da República for confirmada oficialmente pelo PSDB. Joga com os mesmos descontentamentos que seu provável adversário Eduardo Campos vem tentando explorar na aliança governista, e ambos dependem também da economia para viabilizar suas candidaturas.
Campos mais que Aécio, pois terá que romper com o governo para lançar-se candidato, enquanto o senador mineiro é a escolha natural dos tucanos em 2014. Além disso, o PSDB tem sido o repositório da votação oposicionista nas últimas três eleições, por pior que seja sua situação interna ou a fraqueza de sua atuação no Congresso. Na hora decisiva, ainda é a sigla que une os que não querem um governo petista, tendo tido uma média de 40% dos votos nacionais no segundo turno, fosse qual fosse o candidato.
Na eleição de 2010, o PSDB chegou a ter 45% dos votos, devido mais à fragilidade da candidata Dilma do que por seus próprios méritos. Passar desse nível para desbancar o PT do governo depende, sobretudo, da situação do país e da campanha que fizer.
As circunstâncias das últimas campanhas levaram o PSDB para uma posição mais conservadora do que seria necessário para ampliar essa votação no segundo turno, a tal ponto que o hoje governador Geraldo Alckmin teve menos votos no segundo turno de 2006 do que no primeiro.
É ponto pacífico entre os políticos que um acordo formal entre os candidatos no segundo turno não é tão importante quanto o candidato classificado encarnar uma proposta capaz de ser aceita pelos eleitores que, no primeiro turno, votaram contra a candidatura oficial.
No caso de 2014, a se confirmarem as candidaturas de Marina Silva, Eduardo Campos e Aécio Neves, não é provável que todos estejam juntos no segundo turno.
No momento, o PSB não admite apoiar Marina Silva, por exemplo, considerando-a uma fundamentalista que prejudicaria o país com suas ideias. É provável até mesmo que já no primeiro turno os dois divirjam mais do que concordem.
Tanto Campos quanto Aécio têm mais possibilidades de receber apoio mútuo, mas o PSDB não tem tantas divergências assim com Marina e poderia receber o apoio dela e de Campos num segundo turno, sendo claro que Aécio tem um perfil conciliador que facilita os acordos.
Aécio pretende dar à sua campanha um ar mais progressista, evitando a armadilha petista de pôr os tucanos como reacionários na política e entreguistas na economia. O que Aécio teria a mais que seus companheiros oposicionistas é a estrutura partidária do PSDB espalhada pelo país. Devido a isso, o PSDB considera que, no momento decisivo, parceiros tradicionais como PPS e DEM permanecerão coligados.
Aécio vem conversando nas mesmas áreas em que o governador de Pernambuco está testando suas possibilidades, como o PDT, mas também com o PTB e o PP, presidido pelo senador Francisco Dornelles. Mas só aceitará concorrer se estiver convencido de que o PSDB-SP ficará ao seu lado.
Assim como Campos, também Aécio trabalha com a hipótese de o PMDB-RJ romper com o governo devido não só à questão dos royalties do petróleo como também à candidatura Lindbergh Farias, pelo PT, ao governo do Rio. Nesse caso, Aécio tem a vantagem do relacionamento estreito que mantém não apenas com o governador Sérgio Cabral, mas com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, ambos vindos dos quadros do PSDB.
Além disso, Aécio pretende explorar sua ligação pessoal com o Rio e também trabalha para conseguir um acordo sobre os royalties. Ele sabe, porém, que o partido terá pela frente, provavelmente no ano da eleição, que encarar o julgamento do chamado “mensalão mineiro”, que envolve o hoje deputado federal Eduardo Azeredo, à época presidente nacional do partido.
A partir da decisão do STF, no julgamento do mensalão do PT, de que não há caixa dois com desvio de dinheiro público, as chances de Azeredo escapar de uma condenação são mínimas. Ele já foi avisado de que, ao contrário do PT, o PSDB não pretende assumir sua defesa e, se não se desligar do partido, será expulso se condenado.
17 de março de 2013
Merval Pereira, O Globo
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