"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 1 de abril de 2013

A IMPRENSA PUBLICA O QUE IMAGINA QUE O NEURÔNIO SOLITÁRIO QUIS DIZER EM DILMÊS

Os palavrórios em dilmês exigem tradução simultânea, legendas e versão dublada

Incompreensível em qualquer tema, o dilmês se torna impenetrável quando o assunto é economia. A confusão armada por Dilma Rousseff ao tentar explicar o que acha da inflação nada tem de surpreendente para os leitores da coluna.

Como no discurso que inspirou o post republicado na seção Vale Reprise, o neurônio solitário fez o que sempre faz quando penetra nesse campo minado: não disse coisa com coisa.

A performance na África do Sul confirmou que a presidente não pode falar de improviso sem ter ao lado um craque em tradução simultânea. E os vídeos que registram o palavrório em dilmês exigem legendas em português. Caso a inovação pareça excessivamente constrangedora, a coluna sugere aos marqueteiros do Planalto o imediato lançamento da versão dublada.
01 de abril de 2013
Augusto Nunes

PUBLICADO EM 26 DE AGOSTO DE 2011

Jornais e revistas nunca publicam o que disse a presidente em dilmês ─ arcaico, rústico ou castiço. Publicam a versão em português do que acham que a presidente quis dizer no estranho subdialeto que inventou.

Essa preciosidade linguística só pode ser encontrada em dois lugares: nesta coluna (sobretudo nos grandes textos de Celso Arnaldo) e no Blog do Planalto.
Talvez por temerem um pito, talvez por não entenderem nada, os redatores federais não ousam mexer no palavrório da chefe.
Transcrevem o que ouvem nas gravações, reimplantam os erres amputados dos verbos no infinitivo e ponto final.

Contemplado em sua inteireza, o dilmês em estado bruto escancara os labirintos percorridos pelo neurônio solitário quando acionado para discorrer sobre qualquer tema.
Na entrevista coletiva desta semana, por exemplo, um repórter quis saber o que a presidente tem a dizer sobre a crise econômica internacional.
O que saiu na imprensa não tem nada a ver com o que saiu da cabeça da entrevistada. Conforme a assustadora transcrição feita pelo Blog do Planalto, foi o seguinte:

“A crise internacional deve nos preocupar sempre, mas a gente tem sempre de ter consciência de uma coisa. Sabe qual é? Nós, hoje, estamos em muito, mas em muito melhores condições para enfrentar. Ela é uma crise de outra característica, é a mesma crise, começou lá atrás. Na verdade, começou no final de 2007, inicio de 2008. Ela é uma crise financeira profunda do sistema financeiro dos países envolvidos. É uma crise de confiança porque não se recupera o consumo, nem o investimento. O dinheiro está empossado, ela pode durar mais tempo do que se espera. Agora, o Brasil nessas condições deu vários passos. Hoje, nós demos mais um passo. Qual é o passo? É contar com a imensa força dos 190 milhões para investir, para consumir, para trabalhar e para empreender. Além disso, nós temos 350 bilhões de reserva, da última vez que eu vi, e temos quase 420 bilhões de depósitos compulsórios”.

Oremos.

01 de abril de 2013
Augusto Nunes

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