Abaixo do polegar, um pouco acima do punho, levo uma cicatriz. As circunstâncias que a produziram fizeram com que essa cicatriz formasse um risco negro, fino, quase uma tatuagem a marcar a pele da mão. Claramente visível. Com um procedimento simples, seria possível removê-la. Sempre me recusei. Já se vão décadas que ela me acompanha. Ela faz parte do que sou.
Toda cicatriz conta uma história. Por trás de cada uma delas tem o caminho, a série de eventos que resultaram naquela marca no corpo, na alma ou na consciência. Parte da vida é colecionar cicatrizes. É aceitar a inevitabilidade do sofrimento. É transformar o sofrimento da ferida no aprendizado e na história que a cicatriz marca.
As cicatrizes no corpo, na alma ou na mente são o mapa da trajetória de cada um. Elas são de todos os tipos. Algumas causam orgulhos, outras causam tristeza, outras não se fecham jamais. Mas todas contam historias. Todas marcam eventos. Todas imprimem o tempo.
O ser humano parece estar sempre condenado a ter a própria alma ferida e a ferir a alma do outro. Ser simultaneamente vítima e causa de sofrimento. Ser, ao mesmo tempo, portador e causa de cicatrizes.
Cicatrizes são marcas que não perdoam. Permanecem lá como testemunhas e memória permanente da trajetória de cada um. Registram erros e acertos; atos de coragem e de covardia; vitorias e derrotas; o certo e o errado. Transformam sofrimento em experiência e aprendizado.
As marcas que a vida deixa na pele, na alma e na mente são parte importante da experiência humana. Talvez sejam elas, as marcas, que nos tornam, a cada um de nós, alguém especial, único.
Por isto não removo minhas cicatrizes. Sem elas, eu não sou.
01 de abril de 2013
Elton Simões mora no Canadá. Formado em Direito (PUC); Administração de Empresas (FGV); MBA (INSEAD), com Mestrado em Resolução de Conflitos (University of Victoria).
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