A Europa estava ontem agarrada à esperança de nova queda nos juros para combater a recessão, e os EUA ainda estão em recuperação. Nesse contexto, qualquer desaceleração da China é má notícia para o Brasil e os vizinhos.
Todos sabem que aumentou a dependência da América Latina em relação à China. Mas a proporção espanta: as exportações da AL para a China saíram de US$ 3 bilhões para quase US$ 100 bi entre 2000 e 2012.
Além do Brasil, Chile, Peru e Venezuela são os que mais foram beneficiados por este salto e, portanto, são os mais vulneráveis. De 2001 a 2010, o crescimento médio do PIB chinês foi de 10,5%, segundo a consultoria Capital Economics.
No primeiro trimestre desde ano, o PIB se expandiu 7,7%, abaixo das projeções de 8%. A taxa, divulgada na semana passada, ainda é alta para os padrões mundiais, mas a era do PIB de dois dígitos ficou para trás. Ontem foi divulgado que o PMI, índice de atividade industrial calculado pelo HSBC, caiu.
Segundo Marcos Troyjo, diretor do BricLab da universidade de Columbia, a mudança de modelo econômico que ocorre na China só é comparável ao período de 1949, com o controle do país pelo partido comunista; e 1978, com o pragmatismo de Deng Xiaoping que permitiu parcerias do Estado com a iniciativa privada.
Com a crise de 2008, o protecionismo comercial no mundo aumentou, e a China quer depender menos das exportações e fomentar o consumo interno.
— A China está mudando o DNA de seu perfil econômico, para diminuir seu risco externo, que é ter uma economia focada nas exportações.
Está buscando ter marcas globais chinesas, está investindo pesado em pesquisa e desenvolvimento e migrando seus ativos industriais para países periféricos ao seu redor, que têm mão de obra mais barata.
O país quer deixar de montar produtos, para desenvolver produtos próprios. Ao mesmo tempo, vai estimular o consumo interno e desestimular a poupança — explicou.
O salto do comércio do Brasil com a China, nosso principal parceiro comercial, é de US$ 2,3 bilhões, em 2000, para US$ 75 bi, em 2012. Alta de 3.160%. As exportações saltaram de US$ 1 bilhão para US$ 41 bilhões. Nossas importações foram de US$ 1,2 bi para US$ 34 bi, e o saldo comercial, que era negativo, foi para o azul em U$ 6,9 bi. O que acontecer lá terá efeito aqui.
Segundo o FMI, o preço médio do minério de ferro, em número índice, cresceu 10 vezes entre 2000 e 2012. O cobre subiu de preço 3,3 vezes e a soja, 2 vezes. Esse aumento de preço beneficiou principalmente Chile, Peru, Venezuela e Brasil, que agora também podem ser os países mais prejudicados.
Adriana Abdenur, do Centro de Estudos e Pesquisas Brics, acha que o novo modelo continua abrindo possibilidades de negócios para o Brasil. O aumento do poder de compra vai mudar hábitos de consumo dos chineses. Ao invés de exportar matérias-primas, o país pode, por exemplo, vender alimentos processados.
De qualquer maneira, o Brasil tem que continuar de olhos na China porque continuaremos diretamente influenciados por eles.
24 de abril de 2013
Míriam Leitão, O Globo
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