Depois de mais um resultado decepcionante do desempenho econômico do Brasil – o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu apenas 0,6% no primeiro trimestre do ano -, a expectativa do governo para o crescimento da economia, de 3% ao final deste ano, fica cada vez mais distante.
O resultado do primeiro trimestre, informado nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou bem abaixo das estimativas de analistas, que previam alta entre 0,8% e 1% no período.
O dado decepcionou o mercado e, segundo analistas ouvidos pelo site de VEJA, indica que a presidente Dilma Rousseff vai amargar um novo “pibinho” em 2013. Desde que assumiu o poder, em 2011, o melhor PIB obtido por Dilma foi o daquele ano, de 2,7%. Para analistas, os dados do primeiro trimestre indicam que a marca não será igualada em 2013.
Comenta Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim: “Nós continuamos nos frustrando com a economia. É algo que aconteceu ao longo de todo o ano de 2012″. Se o dado já veio ruim no começo do ano, a expectativa para os próximos trimestres não é muito animadora. Antes mesmo da divulgação do dado de hoje, a Tendências Consultoria – que apostava em alta de 0,8% no primeiro trimestre – trabalhava com projeções menores de crescimento para os demais trimestres do ano, uma média de 0,7%.
Após a divulgação do PIB, a economista-sócia da Tendências Alessandra Ribeiro já fala em crescimento próximo a 2,5% no ano. Para Padovani está cada vez mais difícil fazer um diagnóstico da economia. “Os dados econômicos têm sido muito instáveis”, afirma.
A economista do Santander Fernanda Consorte diz que a divulgação do PIB é ainda muito pior na “abertura dos dados”, ou seja, quando é observado o desempenho dos itens que compõem o PIB de forma mais detalhada. Ela explica que, ao analisar os componentes que formam o indicador, pode-se perceber que o crescimento ficou escorado no grande avanço da agropecuária, que subiu 9,7% na comparação com o último trimestre de 2012.
O resultado foi o melhor desde o segundo trimestre de 1998, quando o setor registrou expansão de 13,9%. Fernanda reforça que o resultado visto na agropecuária nos primeiros três meses do ano é pontual e não deve se repetir ao longo do ano. “Agropecuária não deve cair, mas também não vai crescer sempre a um ritmo de quase 10%”.
Outra surpresa negativa foi a indústria. Enquanto economistas esperavam recuperação, houve uma queda de 0,3% na comparação com o último trimestre de 2012. O que mais pesou para o dado foi a indústria de extração mineral, que registrou queda de 2,1% no período.
Padovani explica que o recuo é marcado pela queda de produtividade da indústria petroleira, mas que isso deve ser algo mais pontual, devido a manutenções que interrompem as atividades. Além disso, o setor de serviços também desacelerou, o que já era esperado, mais a um ritmo mais intenso do que o previsto. A expansão dos serviços foi de apenas 0,5% no trimestre, ante alta de 0,7% no último trimestre de 2012.
Na análise de Fernanda, um olhar detalhado sobre os dados mostra que no primeiro trimestre a oferta teve desempenho maior do que a demanda. O PIB é analisado pelos economistas sob duas óticas: a da oferta, representada pelo setor produtivo (agropecuária, indústria e serviços) e a dos gastos, ou demanda, representada por investimentos, consumo das famílias, gastos do governo e balança comercial (exportações menos importações).
Para ela, essa discrepância entre as duas óticas pode refletir numa estagnação nos próximos trimestres, visto que a produção foi maior do que o consumo, ou seja, os estoques devem permanecer altos e isso deve conter o setor produtivo.
O consumo, que sustentou o crescimento econômico no governo Lula, dá cada vez mais sinais de enfraquecimento. No primeiro trimestre deste ano, o esse indicador ficou praticamente estagnado, com alta de apenas 0,1% na comparação com o quarto trimestre de 2012. “Ainda que esperássemos um consumo das famílias mais fraco, o dado veio pior”, comenta Fernanda. Ela lembra que o endividamento e a inflação elevada estão diminuindo a renda da população. “O mercado de trabalho está morno, há quase nenhuma criação de vagas. Além disso, o crédito também ficou bem fraquinho nesse começo de ano.”
Para Alessandra, o cenário econômico que está se desenhando no Brasil é bastante assustador. “Nós vamos crescer pouco e com inflação muito alta. Não fossem os estímulos (desonerações), estaríamos com inflação na casa de 7%. O mundo todo está crescendo muito pouco, mais a inflação lá é menor”, critica.
Investimentos
Ainda sob a ótica da demanda, o resultado mais animador foi o dos investimentos, ou formação bruta de capital fixo (FBCF), que é uma medida dos investimentos realizados na expansão da capacidade produtiva interna. Para Padovani, houve um alívio, mas abaixo do esperado por ele. Entre janeiro e março, os investimentos subiram 4,6% na comparação com os três últimos meses de 2012, quando a FBCF teve a única alta do ano passado, de 1,3%.
Padovani esperava uma expansão maior dos investimentos, na casa de 5,5%. O economista ressalta que a melhora nos investimentos “não significa que não haja desafio”. Para ele, o maior deles é construir um quadro regulatório que consiga atrair capital da iniciativa privada. Ele enumera a necessidade de mudanças estruturais para resolver problemas como carga tributária elevada, dificuldades em logística, em infraestrutura e mão de obra.
O cenário revelado pelo PIB do primeiro trimestre mostra que as sucessivas desonerações que o governo vem fazendo não estão apresentando resultado para o setor produtivo. E pior: isso só compromete cada vez mais as contas fiscais.
Para conseguir atingir a meta de superávit primário, o governo vem fazendo sucessivos malabarismos e usando créditos adicionais para cobrir o rombo da arrecadação. Recentemente, foi publicada uma decisão no Diário Oficial da União que permite que o governo use antecipadamente créditos da usina de Itaipu para fazer repasses ao Tesouro Nacional, o que compensaria a baixa arrecadação e ajudaria nas contas do superávit primário.
Para Alessandra, o governo não está fazendo a lição de casa. O consumo, que era então o motor propulsor do PIB, já não deve crescer muito. Ela enfatiza que o problema que afeta a economia do país não é de falta de demanda, mas sim de falta de oferta.
Segundo a economista, as mudanças no marco regulatório – como o governo tem feito nas concessões de aeroportos, ferrovias, rodovias e portos, por exemplo – são feitas “às avessas”. “O governo não faz nada para mudar isso. Nós temos de aumentar a capacidade produtiva e isso leva ainda algum tempo”, explica.
29 de maio de 2013
Talita Fernandes, na VEJA
Reinaldo Azevedo
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