O Palácio do Planalto sediou ontem uma tensa reunião na qual o próprio PT de Dilma Rousseff criticou a articulação política do governo e pediu mudanças para evitar danos à campanha à reeleição da presidente em 2014. As queixas, que até então eram manifestadas mais por aliados como o PMDB, incluem falta de diálogo com a base governista, esvaziamento da ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e "duplo comando" na interlocução com Congresso.
No encontro reservado no terceiro andar do Planalto, onde fica o gabinete de Dilma, alguns dos principais ministros petistas e líderes do partido no Legislativo constataram: ou a interlocução muda, ou pode haver problemas em 2014. Um dos participantes contou que o líder da bancada na Câmara, José Guimarães (CE), fez uma defesa enfática de Ideli, enfraquecida nos últimos meses devido à insatisfação dos aliados com o tratamento dado pelo Planalto -PMDB à frente.
O congressista comentou que Ideli está desmoralizada, mas que não seria a culpada pela crise com o Congresso ou por haver "duplo comando", em referência a negociações feitas por ela e que são desautorizadas por colegas ou por Dilma. A titular da pasta se manteve em silêncio, segundo os relatos. Diante do diagnóstico, o presidente do PT, Rui Falcão, também conforme a descrição da conversa, questionou a razão de o Executivo ter uma sustentação partidária tão numerosa e, ainda assim, enfrentar problemas políticos na Câmara e no Senado. Procurado, Falcão disse apenas que a reunião ocorreu por um pedido seu para discutir a reforma política.
A discussão esquentou quando o assunto chegou ao PMDB, foco das recentes dores de cabeça do Planalto. Sobre o partido, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, afirmou que a relação com a sigla não é "programática", mas que o governo não vai repetir um tipo de convivência partidária que, nas suas palavras, custou caro ao PT no passado. E continuou, de acordo com alguns dos participantes: "Se a gente tivesse escolhido o PSB..." A frase foi rebatida por Falcão e pelo ministro Aloizio Mercadante (Educação). "O PMDB é estratégico" à coalizão e não se pode dizer que o PSB seja um partido programático, pois faz alianças ecumênicas Brasil afora. Em São Paulo, por exemplo, é parceiro do PSDB.
Como solução para os problemas, petistas sugeriram uma operação: resgatar as reuniões do chamado Conselho Político, instância formada pela presidente e por todos os líderes dos partidos aliados, e fortalecer Ideli, a interlocutora oficial de Dilma com o Congresso. Falta combinar com Dilma: a ideia já foi apresentada outras vezes, sem sucesso. Para o PT, a saída é colocar um ponto final no chamado "duplo comando", em que a ministra ora negocia projetos com deputados e senadores, ora é desautorizada por outros ministros. Houve crítica específica ao Ministério da Fazenda, que teria "atravessado" a Secretaria de Relações Institucionais na votação de propostas na área econômica. A Casa Civil também teria desautorizado a ministra na discussão da medida que reformulou o sistema portuário do país.
(Folha de São Paulo)
29 de maio de 2013
in coroneLeaks
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