"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 29 de maio de 2013

A ALIANÇA DO PACÍFICO E O MITO DO LIVRE-COMÉRCIO

 

 Li por obrigação profissional a matéria da edição de Veja (25/05/13) cujo título “O Quarteto Fantástico” rasga elogios para a união comercial chamada de Aliança do Pacífico.

Composta por Chile, Colômbia, Peru e México, formam um bloco comercial cujos países membros são todos assinantes de Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos.

Colegas da área classificam a Aliança como uma extensão da extinta Área de Livre Comércio das Américas, a famigerada ALCA, estratégia do Império para uma integração forçada, subordinando os parceiros, tal como fizera com seus vizinhos no acordo do NAFTA.

O Brasil entraria de parceiro privilegiado neste desenho, e graças à ação da agressiva política externa venezuelana, timidamente o governo de Lula ajudou a enterrar a ALCA na IV Cumbre das Américas, realizada em novembro de 2005, em Mar Del Plata, Argentina.

Passados oito anos e deparamo-nos com duas constatações. É certo que o MERCOSUL não consegue avançar em acordos múltiplos, brecando por tabela a projeção do Brasil para o Continente.

 


 

E, para desgraça do desenvolvimento, setores inteiros da sociedade brasileira continuam pensando em termos de relações carnais com a economia do Império, ou contentando-se em transformar a América Latina em uma enorme plantação de algumas monoculturas legais.

Ressalto este aspecto porque nas monoculturas ilegais, como folha de coca e pés de maconha, Colômbia e México estão bastante irrigados por extrema liquidez com fundos desta origem.

A Aliança do Pacífico passa a funcionar dia 30 de junho e 90% dos produtos circularão entre os países membros com isenção de tarifas. Portanto, as portas estão escancaradas para a burla. Empresas “maquiladoras”, usinas de montagem localizadas na fronteira entre os EUA e o México poderão circular “livremente” como produto mexicano.

A entrada de manufaturas também se dá através dos TLCs bi-laterais. 82% dos produtos industriais estadunidenses entrarão na Colômbia com tarifa zero. O conflito na economia colombiana será o mesmo dos dramas na OMC.

Os países industriais querem proteger seu setor primário e vender “livremente” produtos com valor agregado, sem transferir tecnologia. Quem julga isso progresso, está totalmente equivocado.

Voltando para a matéria, esta afirma que: “Não há maneira mais eficiente para reduzir a pobreza e distribuir a riqueza de um país do que o livre-comércio.”

Tamanho absurdo histórico vai de encontro a qualquer estudo sério de economia do desenvolvimento dos países industrializados.

29 de maio de 2013
Bruno Lima Rocha é cientista político e professor de relações internacionais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário