Os governos do PT perseguem, há mais de dez anos, duas coisas que não existem e por isso, precisamente, nunca conseguirão encontrar nenhuma das duas. A primeira é a fantasia segundo a qual a imprensa livre, que vive expondo seus desastres e conta com a admiração da maior parte do público que acompanha o noticiário, perceba um dia que tem pelo menos três obrigações.
Para começo de conversa, precisa admitir “controles sociais”, aceitando algum tipo de supervisão, ainda não definido, sobre o que escreve, fala ou mostra em imagens, por parte da “sociedade”. Além disso, teria de levar em consideração, por respeito à vontade do eleitorado, os méritos de governos colocados na Presidência da República há três eleições seguidas.
Enfim, deveria desistir do tiroteio que faz em suas informações e opiniões a respeito da inépcia, da corrupção e da burrice da administração, em reconhecimento aos fenomenais índices de “popularidade” tanto do ex-presidente Lula como da presidente Dilma Rousseff.
A segunda quimera é que gastando dinheiro público para criar e sustentar uma imprensa “a favor", pelos mais variados truques à sua disposição, conseguirá anular a voz dos meios de comunicação independentes e levar o jogo, pelo menos a um honroso empate. Essa busca, como no samba Ronda, é inútil, mas o PT, Lula e a sua tropa não desistem: ao contrário, insistem em encontrar a chave capaz de abrir uma solução definitiva para seus problemas com a “mídia”, como gostam de dizer. Mas perderam essa chave no quintal, e estão procurando no jardim. Não vão achar.
Não há registro na história de imprensa que tenha mudado de hábitos ou de conduta por causa de discursos, “audiências públicas”, passeatas de estudantes e sindicalistas pagos pelo governo, ou, para resumir, “pressões da sociedade”. Também não se conhecem casos de autocrítica, arrependimento ou remorso que tivessem levado algum meio de comunicação, por sua própria vontade, a mudar de linha na seleção do noticiário que publica ou em suas opiniões.
Órgãos de imprensa só mudam pela aplicação da força bruta, o que exige a montagem de uma ditadura, ou em troca de dinheiro, caso em que deixam de ter o valor que tinham e passam a não servir para nada.
Nada disso é um dos três segredos de Fátima. Políticos em primeiro mandato já sabem que a imprensa não se incomoda com ataques verbais, barulho de “setores populares” ou mesmo com o bom e velho empastelamento das máquinas, que hoje se transformou em opção inválida — vá alguém tentar quebrar, no braço, uma impressora Cerutti 7, ou uma Frankenthal-KBA Commander CL, para ver o que acontece. Ninguém está ligando, também, para os 101% de popularidade de Lula e Dilma ou para os boletins do TSE com os resultados das últimas eleições.
Veículos da imprensa livre só têm medo, de verdade, de uma coisa: censura prévia. Por via de conseqüência, como gostava de dizer o ex-vice-presidente Aureliano Chaves, o PT tem uma única pergunta a se fazer: dá ou não dá para instalar censura prévia à imprensa, televisão e rádio no Brasil de hoje, sem falar na internet? Se chegarem à conclusão de que não dá, deveriam desistir de ficar procurando a chave no lugar errado e sair atrás de alguma outra coisa para fazer.
10 de junho de 2013
J.R.Guzzo, Veja
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