Isso não é um súbito “despertar de cidadania”, é apenas, a exposição pública de um grau de alienação grotesco das massas.
Um dos livros mais interessantes para se ler nesses dias marcados por “manifestações” é “O homem revoltado” de Albert Camus, no qual o autor apresenta a fenomenologia do “espírito da revolta” mostrando que todos os grandes atos de revolta ao longo da história, podem ser encarados como uma revolta metafísica, uma rebelião contra Deus e uma negação da realidade. “Se Deus não existe, tudo é permitido”, diria Dostoievsky.
No fundo, igualitarismo, socialismo, marxismo e todas essas ideologias modernas são apenas uma elaboração intelectual “elegante” para expressar os sentimentos mais primitivos de revolta e de negação.
Mais de 40 anos de revolução cultural gramsciana em curso no Brasil, com a doutrinação maciça, em especial, da juventude nos colégios e universidades, entronizaram o vírus da revolta como algo bom e como a expressão máxima da democracia.
Acostumados a ver o PT, MST, ONGs e “movimentos sociais” tomando as ruas e trazendo o caos com a desculpa de lutar por “um mundo melhor” e “democrático”, nada mais natural para milhares e milhares de pessoas, que expressarem seu descontentamento com o status quo, reproduzindo o mesmo modus operandi absorvido.
Qual foi mesmo o partido que destruiu adversários, adestrou uma enorme militância e ganhou apoio popular liderando a "luta contra corrupção" e pela "ética na política"? Pois é.
Querer “fazer algo" só por fazer, expondo reclamações difusas e aleatórias, mostra apenas um sentimento imaturo de frustração e revolta.
Isso não é um súbito “despertar de cidadania”, é apenas, a exposição pública de um grau de alienação grotesco das massas. Milhares de pessoas na rua, gritando contra "tudo isso que está aí", sem perceber que, ao provocarem uma situação artificial de convulsão social, precipitam mudanças, as quais, no fim, favorecem quem está no poder, ampliando exatamente “tudo isso que está aí”.
Embora haja muitos manifestantes - talvez a grande maioria - que tenham até boas intenções, eles servem de massa de manobra para quem verdadeiramente encontra-se posicionado para impor sua agenda à sociedade.
As manifestações são a constatação empírica de que a cosmovisão esquerdista alcançou o ideal do lendário Sun Tsu - o estrategista militar chinês - em seu clássico livro “A Arte da Guerra”: “lutar e vencer todas as batalhas não é a glória suprema. A glória suprema consiste em quebrar a resistência do inimigo sem lutar. É preferível capturar o exército adversário a destruí-lo. (…) Dominar o inimigo sem combater, isso sim é o cúmulo da habilidade”.
Quando se comenta da falta de representatividade dos partidos políticos, pouco é mencionado sobre o vácuo resultante da inexistência de partidos com uma orientação conservadora, próxima ao sentimento médio da maioria da população brasileira.
A maré pode virar? Pode, mas para isso acontecer, teriam que existir lideranças capazes de conduzir esse descontentamento para fora deste zeitgeist vermelho dominante, da luta por mais “direitos”, passe livre, por mais saúde e educação e, como consequência, mais impostos e mais Estado provedor e interventor. Tais lideranças, porém, ainda não se avistam no horizonte.
Por enquanto, o que temos é o tom profético das palavras do saudoso Roberto Campos: "A burrice, no Brasil, tem um passado glorioso e um futuro promissor".
Essa é a revolução gramsciana perfeita.
04 de julho de 2013
Rodrigo Sias é economista do Instituto de Economia da UFRJ.
Rodrigo Sias é economista do Instituto de Economia da UFRJ.
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