"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 9 de agosto de 2013

"A EDUCAÇÃO DE DILMA ROUSSEFF"

 
O que a presidente terá aprendido com o fracasso de suas previsões e análises sobre a economia?
 
NA PRIMEIRA VEZ em que reuniu seus ministros, 13 dias depois de tomar posse, Dilma Rousseff acreditava que o Brasil cresceria em média 5,9% ao ano, um ritmo 50% mais rápido que o dos anos Lula. Os economistas do governo diziam, com a anuência da presidente, que o crescimento seria de 5% em 2011, 5,5% em 2012 e 6,5% em cada ano do biênio final do mandato.
 
A inflação cairia até chegar a 4,5% em 2012. Não haveria mais "ajuste fiscal" (redução do deficit das contas do governo), mas "consolidação fiscal", pois o "ajuste clássico" provocaria desemprego e baixa dos investimentos. Haveria "racionalização das despesas e aumento da eficiência do gasto público".
 
Em setembro, com o caldo daquele ano de 2011 entornado, a presidente e seus economistas não mais previam, mas se davam a meta de fazer o país crescer 4% ao ano. O governo pouparia o equivalente a 3,1% do PIB das suas receitas.
 
O país cresceu 2,7% em 2011, 0,9% em 2012 e deve crescer algo entre 1,8% e 2,7% neste 2013. O deficit aumentou, a inflação foi maior.
 
Não importa o "erro de previsão" nem o fracasso em acertar o alvo. Interessam as ideias que embasavam prognósticos e diagnósticos, além das subsequentes decisões tomadas a princípio para "corrigir rumos" e, a seguir, para salvar a todo custo e desesperadamente a face política.
 
O governo assumiu com a ideia de que o Brasil estava pronto para crescer no ritmo mais rápido de sua história. Eram desnecessárias mudanças institucionais (leis, rearranjos do Estado, da intervenção na economia etc.), entre outras.
 
Quando se frustrou o crescimento previsto, aumentou-se cada vez mais o gasto público direto e indireto (com a estatização parcial do crédito bancário, via endividamento para a capitalização de bancos públicos).
 
Ansioso, depois desesperado, o governo atacou com estímulos desordenados ao consumo, como um time de futebol fraco e pueril que parte em massa para o ataque a fim de virar o jogo, levando goleada infame.
 
Nova frustração do "estímulo ao crescimento" suscitou a desconversa derrotada de que o importante mesmo é o desemprego em recorde de baixa e o povo satisfeito.
 
De mãos quase atadas, pois não tem como manejar o gasto público e os juros sobem, dada a inflação persistente, o governo agora limita o diálogo público a queixas sobre o pessimismo de seus críticos ou inimigos.
 
O que terá aprendido Dilma Rousseff?
 
Não revê o seu curso apenas porque está emparedada pela eleição próxima, a qual poderia perder se mexesse a fundo na economia? Sua mudez e isolamento são apenas uma estratégia de evitar conversas perigosas para sua reeleição? Ou teimosa e iludida acredita que foi vítima dos azares de um mundo conturbando e do pessimismo de adversários?
 
Candidata, vai ainda tentar manter as aparências e evitar qualquer conversa racional sobre mudanças para o país?
 
Se eleita, enfim vai apresentar um programa de mudanças, uma conversa adulta e informada sobre as insuficiências da economia, dos problemas da administração pública e dos conflitos políticos que precisam ser resolvidos (com perdas e danos para alguns)?
 
O que dirá Dilma Rousseff sobre um segundo mandato? O primeiro acabou.

09 de agosto de 2013
Vinicius Torres Freire, Folha de São Paulo

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