Notícias Faltantes - Foro de São Paulo
O sr. Breno Altman, do “Opera Mundi”, vinha discutindo comigo sobre o Foro de São Paulo, mas, vendo-se encurralado, esgotado o estoque de evasivas e chavões que constitui todo o seu repertório de idéias, decidiu de repente mudar de assunto por completo e sair-se com uma diatribe contra a “direita” em geral, tomando como alvo de suas imprecações uma imagem composta que é ao mesmo tempo eu, o Reinaldo Azevedo, o Augusto Nunes, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador Geraldo Alkmin, o ministro Joaquim Barbosa e não sei mais quantos. Sem dúvida é muito mais fácil fazer isso do que responder ordenadamente aos argumentos de um só indivíduo, no mínimo porque o alvo múltiplo e heterogêneo, não existindo como unidade nem mesmo num sentido remoto e analógico do termo, nada pode retrucar.
Caso os leitores não se recordem, eu havia apontado cinco crimes do Foro de São Paulo. O sr. Altman não desmentiu nenhum deles. Fez de conta que não ouviu e, com a cara mais inocente do mundo, passou a disparar sobre a minha pessoa insultos em quantidades tais que só podiam resultar num efeito involuntariamente cômico.
No meio dessa salada de desconversas, o único e tímido esforço que ele fez para absolver o Foro de São Paulo dos delitos que eu lhe imputava foi sua afirmativa sumária, e obviamente impossível de provar, de que todas as atividades dessa organização eram públicas e transparentes. Ele não poderia ter-se desmascarado de maneira mais espetacular, pois desde 2008 já se conhece a prova, extraída dos computadores de Raul Reyes, de que ele próprio, Breno Altman, havia articulado contatos ultra-secretos entre esse comandante das Farc e o então ministro José Dirceu. Tão secretos que nem a Secretaria de Relações Internacionais do PT podia saber de nada: só o homem do Mensalão, o fornecedor maior de cocaína ao mercado brasileiro e o estafeta de confiança de ambos, Breno Altman em pessoa. O colunista do “Opera Mundi” tinha, pois, boas razões para evadir-se desse assunto o mais rapidamente possível, arrastando para a sombra do esquecimento o seu volumoso rabo preso, e nada melhor para esse fim do que fingir valentia esbravejando contra um alvo genérico.
Considero, pois, encerrado o nosso debate sobre o Foro de São Paulo, por absoluto sumiço do meu adversário, e passo a analisar esta nova produção de uma das mentes mais pobres com que já me defrontei (v. http://www.brasil247.com/pt/
Começo com uma breve nota sobre o uso pejorativo do termo “astrólogo”, que vem logo na primeira linha. Exerci esse ofício entre 1976 e 1977, tendo-o abandonado, portanto, há mais de três décadas e meia, quando o sr. Breno Altman tinha apenas dezesseis aninhos de idade. Rotular-me por esse termo, hoje, só faz sentido como tentativa de insinuar que depois disso não me tornei nada de mais valioso, dando por subentendido que todo astrólogo é um charlatão ou no mínimo um idiota. Só há um problema: astrólogo, no Brasil, é profissão regulamentada, legalmente reconhecida pelo Código de Ocupações do Ministério do Trabalho de 2002 (título 5167-5). O uso pejorativo do nome que a designa assinala portanto uma intenção criminosa de criar preconceito e hostilidade contra toda uma categoria profissional, e de incluir nessa imagem depreciativa alguém que nem mesmo pertence à mencionada categoria.
Por uma ironia altamente significativa, aliás, o sr. Altman, judeu renegado, aprendeu esse cacoete verbal com um notório anti-semita, cujo nome não vem ao caso, que o pôs em circulação como vingancinha quando, a pedido de organizações judaicas, o expulsei do quadro de redatores do “Mídia Sem Máscara”. O estilo é o homem. Bem, às vezes é um meio-homem.
Entremos logo na parte mais interessante. Procurando justificar o oxímoro “liberal fascista” com que ele rotula a mim e aos demais componentes de uma corrente ideológica que só existe na sua imaginação, o referido, com a autoconfiança dos simplórios, acusa-nos de ignorância histórica e pergunta:
“O que foram as ditaduras militares da Argentina e do Chile, para citarmos dois casos notórios, que não uma fusão entre liberalismo econômico e fascismo político? Nas duas situações, a agenda da hegemonia do mercado foi imposta pelo terror de Estado. A repressão em grande escala, sufocando o movimento operário e os partidos progressistas, emergiu como instrumento para aplicar programa de privatização, desregulamentação e eliminação de direitos que destravassem a acumulação de capital.”
A propósito desse interessantísimo parágrafo – interessantíssimo como amostra laboratorial de um caso típico de inépcia fulgurante --, devo fornecer aqui algumas explicações que, embora elementares, pairam muito acima da capacidade de compreensão do sr. Altman, ao qual, obviamente, elas não se dirigem.
Desde logo, se ele pretende ao mesmo tempo nos rotular de “liberal-fascistas” e de saudosistas do regime de 1964, ele deveria provar que liberal-fascista foi a ditadura militar brasileira, não a argentina ou a chilena. Mas isso ele não pode fazer, pela simples razão de que o governo militar do Brasil criou mais empresas estatais do que qualquer governo esquerdista antes ou depois dele. No mínimo, não é elegante esquecer que a conversão do mais famoso liberal brasileiro ao livre mercado foi bem posterior ao seu período de ministro do Planejamento do governo Castelo Branco, quando ele criou projetos tão nitidamente intervencionistas quanto o Estatuto da Terra, a primeira iniciativa brasileira de reforma agrária, e ajudou alegremente a destruir a carreira do líder político mais privatista e pró-capitalista da época. O sr. Altman, desde o alto da superior cultura histórica que ele se arroga, nem imagina que estou falando de Roberto Campos e Carlos Lacerda respectivamente. Se imaginasse não viria com essa conversa boba de liberal-fascismo.
Em segundo lugar, só um menino inexperiente e semiletrado confunde “justaposição” com “fusão”. Fusão aconteceria se os dois elementos, liberalismo e fascismo, se articulassem organicamente numa fórmula ideológica, numa doutrina unitária e organizada, coisa que jamais aconteceu. Uma ideologia, por definição, é um modelo com pretensões de universalidade, calculada para ser imitada urbi et orbi, como por exemplo o socialismo, o fascismo ou a democracia liberal. Um arranjo local e provisório sem qualquer respaldo doutrinal nem ambições de tornar-se modelo mundial não constitui de maneira alguma uma ideologia.
Todas as ditaduras latino-americanas, sem exceção, se apresentaram como soluções de emergência, não como modelos ideológicos universais à maneira do fascismo italiano, do socialismo russo ou da democracia americana. A expressão liberal-fascismo, se algum sentido tivesse, seria no máximo como nome de um desses arranjos de ocasião, não o de uma ideologia de pleno direito, que pudesse continuar angariando adeptos depois de mais de meio século e em países distantes daqueles onde foram criados originariamente.
A coisa mais óbvia do mundo é que ditaduras montadas às pressas para fazer face a alguma ameaça iminente não têm em geral nenhuma autodefinição ideológica pronta e, na maior parte dos casos, se contentam com arranjos provisórios. Não podem, portanto, ser descritas nos termos que servem para regimes ideologicamente definidos, como socialismo, democracia liberal, fascismo etc. Isso é tanto mais verdade no caso de regimes autoritários que se autodefinem expressamente como soluções transitórias em vez de formular modelos de sociedade com pretensões de durar e fazer discípulos por toda parte. O sr. Altman, com toda a evidência, não sabe distinguir entre contingências políticas e doutrinas ideológicas, não tem portanto a menor noção do que seja uma ideologia. Ele imagina que basta um governo recorrer a políticas heterogêneas, em resposta a uma situação imediata, para que essas políticas passem automaticamente a constituir uma doutrina ideológica identificável, apta a rotular pessoas e grupos distantes, no tempo e no espaço, desse artifício inicial. É o mesmo que dizer que o governo russo, por apoiar ao mesmo tempo a Igreja Ortodoxa e os movimentos islâmicos, personifica uma nova ideologia, o cristianismo islâmico, ou que Stálin, por fomentar o poder militar nazista ao mesmo tempo que estimulava campanhas antinazistas na Europa Ocidental, criou a ideologia do nazismo antinazista. Exemplo mais patente de síntese confusa não poderia haver.
Ao apontar como “prova” da existência do liberal-fascismo o fato de que o economista Milton Friedman serviu de conselheiro para o governo Augusto Pinochet, o sr. Altman logo imagina que essa justaposição do economista liberal e do ditador militar forma por si uma síntese ideológica. Mas quem quer que conheça um pouco as doutrinas da escola liberal sabe que qualquer adepto dela, convidado a assessorar economicamente um regime de força, aceitará o convite sem pestanejar, não porque aprove o regime, mas porque um dos pontos fundamentais da sua doutrina é a crença de que a liberalização econômica produzirá necessariamente a liberalização política, como de fato acabou acontecendo na Argentina e no Chile. Pode-se discutir essa doutrina indefinidamente, e eu mesmo acho que ela tem uma validade muito limitada (não funcionou na China, por exemplo), mas que ela é um dos pilares do pensamento liberal, é. E que funcionou naqueles dois casos, funcionou.
Mesmo que os militares argentinos e chilenos pretendessem perpetuar-se no poder, hipótese que a própria ausência de uma doutrina ideológica universal desmente, resta o fato incontrovertido de que, instruindo-os a liberalizar a economia de seus países, Friedman e outros economistas liberais não os ajudaram a isso, mas sim a devolver o poder aos civis, como de fato eles o haviam prometido desde o início e, sem exceções, acabaram cumprindo.
Se existisse portanto um “liberal-fascismo” ele teria de consistir num fascismo autocontraditório que fomentasse, por meio da economia, a sua própria extinção.
Mas, para piorar, todo o raciocínio do sr. Altman baseia-se na presunção de que os governos militares latino-americanos fossem fascistas, crença que ele se abstém de demonstrar, tão natural e inquestionável ela lhe parece.
Para o historiador e o cientista político, o fascismo é um tipo de regime bem determinado, reconhecível por certas características objetivas.
O demagogo comunista clássico, porém, usa esse termo a torto e a direito, não como conceito descritivo e sim como insulto, para denegrir todos os inimigos do comunismo e associar a sua imagem não tanto à do fascismo italiano, mas à do nazismo, com todo o cortejo de horrores que esta simples palavra evoca.
Para esse fim, ele tem de rotular de “fascistas” governos, regimes e pessoas que de fascistas não têm absolutamente nada além da hostilidade ao comunismo, mesmo quando essa hostilidade é moderada até o limite da omissão cúmplice, como é o caso de próceres tucanos e similares que ele inclui nessa classificação. O fascismo vem assim definido não objetivamente pelo que ele é em si mesmo, mas subjetivamente, pelo temor e ódio que um de seus inimigos em particular sente ao pensar nele. É como se, ao perguntar quem é o sr. Fulano de Tal, a resposta não viesse sob a forma de informações sobre a sua profissão, classe social, nível de cultura, hábitos pessoais e outros dados objetivos, mas sob a forma de invectivas saídas da boca de uma ex-esposa abandonada e furiosa.
Na boca do sr. Altman, a palavra “fascismo” é um insulto e nada mais. Ele tem, evidentemente, o direito de insultar a quem bem deseje, desde que arque com as conseqüências legais desse procedimento. O que não cabe, o que é absolutamente intolerável e obsceno, é que ele tente vender esse rótulo insultuoso como se fosse um conceito objetivo, intelectualmente útil e respeitável. Eu, por exemplo, considero que o termo “Breno Altman” é altamente insultuoso, mas, se me perguntarem quem é a criatura designada por esse nome, terei de responder que é um jornalista comunista, editor do “Opera Mundi”, mensageiro secreto do sr. José Dirceu etc. etc., e não imaginarei ter dado alguma informação objetiva a respeito dele mediante a simples expressão do desprezo que a sua pessoa me inspira. Já o sr. Altman acredita ter dito algo de substantivo a meu respeito sem mencionar absolutamente nada das minhas obras e pensamentos e limitando-se a me qualificar de “Filósofo de bordel”, “boçal”, “charlatão”, “energúmeno”, “embusteiro”, “mentiroso contumaz”, “calça-frouxa”, “vampiro”, “lobo”, “mequetrefe”, “verme”, “inseto” e “degenerado”. A distância entre a conversação séria e a demagogia histérica não poderia ser maior.
Objetivamente, o fascismo é definido pelos seguintes traços:
1 – É um regime hiper-nacionalista, baseado no culto da glória nacional e, quando possível, do expansionismo imperialista ou pelo menos da intervenção em outros países.
2 – Nele o culto da nação condensa-se na idolatria de um líder carismático tido como encarnação das tradições nacionais apresentadas em versão propositadamente deformada para esse fim.
3 – É uma ideologia de massas, com vasta militância popular, adestrada no fanatismo dos símbolos e slogans e não raro militarizada para servir de força auxiliar do governo.
4 – É um regime altamente centralizador e estatista, que procura manter não só a economia, mas todos os setores da vida social e todas as classes sociais sob o controle estrito do governo. Como disse Mussolini, “Tudo para o Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado.”
Desses traços, o primeiro, o segundo e o terceiro estão ausentes por completo nas ditaduras militares latino-americanas, embora estejam presentes na Venezuela e em Cuba, que o sr. Altman, por motivos que nada têm de científicos mas têm muito a ver com os seus meios de subsistência, seria o último a chamar de “fascistas”. A falta do item terceiro é especialmente significativa: elevadas ao poder por movimentos de massa, as ditaduras militares, em vez de consolidá-los e de fazer deles pilares do novo regime, trataram logo de dissolvê-los e de fechar-se num elitismo tecnocrático hostil a tudo o que lhes parecia desprezível “demagogia populista”, abrindo portanto um vácuo que logo foi ocupado pelos movimentos de oposição. Coisa mais distante do fascismo não se poderia imaginar. O quarto item é desmentido pelo próprio sr. Altman no que toca aos exemplos da Argentina e do Chile, quando professa que essas ditaduras implantaram o livre mercado (sem prejuízo de que mantivessem sob controle outras áreas da vida social). No caso brasileiro pode-se até assinalar alguma dose de estatismo, uma política econômica antiliberal bem significativa, e mesmo um tímido ensaio de discurso nacionalista, mas, na ausência da militância de massas, seria absurdo enxergar nisso algo mais do que uma vaga pretensão fascista jamais realizada. E mais absurdo ainda seria chamar de liberal-fascismo um fascismo incipiente e antiliberal.
Se os governos militares da Argentina e do Chile não eram fascistas, se não tinham sequer uma autodefinição ideológica própria e distinta, se consentiram em deixar-se guiar por liberais no campo econômico e se seu resultado último, malgrado inúmeros percalços no caminho, foi o retorno desses países ao estado de democracias capitalistas liberais como aliás fôra prometido desde o começo, algumas conclusões se impõem necessariamente:
1 – Ideologicamente, o liberalismo stricto sensu acabou por predominar, pela simples razão de que não havia, da parte dos militares, nenhuma alternativa ideológica que a ele pudesse se opor no curso do tempo.
2 – O que os militares impuseram não foi nenhum “liberal-fascismo”, mas o liberalismo puro e simples. A violência autoritária foi usada apenas como instrumento provisório para dar cabo de resistências, e não como modelo ideológico destinado a consolidar-se e durar. O próprio sr. Altman se trai quanto a esse ponto, ao declarar: “O fascismo se transformou, com facilidade, na janela de oportunidade para o liberalismo se impor como modelo de economia e sociedade.” Como explicar essa facilidade a não ser pelo vazio ideológico que o liberalismo preencheu, isto é, pela total ausência de uma ideologia fascista e de um movimento fascista de massas para dar respaldo aos governos militares?
Uma contraprova é oferecida pelo caso chinês, onde a expectativa liberal da transformação fatalística da liberdade econômica em liberdade política, ao contrário do que sucedeu na América Latina, falhou por completo. Falhou por que? Falhou porque o governo chinês tinha precisamente o que as ditaduras latino-americanas não tinham: uma ideologia organizada e uma vasta militância de massas, isto é, os fatores necessários e suficientes para que pudesse aproveitar-se do liberalismo econômico em vantagem própria e jogá-lo fora antes que a liberdade econômica resultasse em qualquer liberalização política significativa.
Quanto ao argumento de que os militares latino-americanos usaram a supressão de liberdades e direitos para “destravar a acumulação do capital” (o cultíssimo escreve tão bem que dá a impressão que os direitos é que “destravavam a acumulação do capital”), é algo que não define um fascismo de maneira alguma, de vez que a acumulação forçada do capital se observou com maior truculência ainda nas ditaduras comunistas da Rússia, da China etc. O próprio Marx, aliás, embora esse modelo de cultura que é o sr. Altman jamais ouvisse falar disso, já tinha previsto esse fenômeno ao anunciar que a primeira etapa na construção do socialismo seria a do “capitalismo cru”, em que todo o aparato de liberdades, direitos e valores morais que suavizavam as relações capitalistas na fase anterior seria demolido para que o novo governo pudesse, justamente, acumular capital. A acumulação forçada aparece onde quer que um governo autoritário ou totalitário se veja face a face com a necessidade de superar rapidamente o atraso econômico. Ele não caracteriza de maneira alguma o fascismo em particular.
Muito menos é possível aceitar que os governos militares da Argentina e do Chile tenham sido “fascistas” pelo simples fato de usarem da violência repressiva, mesmo em doses consideráveis, para remover os obstáculos à implantação de uma economia liberal. Muito tempo atrás, em alguns países da Europa, como a França e a Itália, o liberalismo não entrou na história política batendo gentilmente na porta, mas impondo-se pela guerra e pelo terror. Não há nada de estranho que, em circunstâncias adversas, voltasse a fazê-lo na América Latina. A idéia, ou antes o velho cacoete comunista, de rotular toda violência como “fascista” só ocorreu ao sr. Altman para ajudá-lo a confundir-se a si próprio para melhor confundir a platéia. Nenhum regime fascista, nem mesmo o da Alemanha, pôde jamais comparar-se ao comunismo chinês ou russo em matéria de violência genocida. A farsa de Katyn, em que o assassinato de vinte mil poloneses pelas tropas comunistas foi atribuída falsamente aos nazistas (como se estes padecessem de uma escassez de culpas), tornou-se uma espécie de modelo infinitamente repetido, de modo que à simples menção da palavra “violência” o público pense logo em “fascismo”, e não, como recomenda o senso das proporções, no comunismo em primeiro lugar.
Porém, se o liberalismo foi muitas vezes implantado por meio da violência, esta é suprimida quase que por completo no funcionamento posterior do regime (como aconteceu no Chile e na Argentina), ao passo que a violência comunista cresce ilimitadamente depois que o Partido assume o poder, e então não cessa nunca mais. Isto é um fato histórico jamais desmentido, que o sr. Altman conhece perfeitamente bem, mas que não admite em público pela simples razão de que lhe traria dano financeiro, dependente como ele é de patrocínios e apoios do movimento político que representa.
Todo conhecimento começa com a percepção de alguma analogia. Analogia é uma mistura de semelhanças e diferenças, vistas confusamente como se formassem a unidade de uma coisa, de um fenômeno, de um processo, de uma qualidade. A analogia, uma vez verbalizada, corresponde àquilo que em lógica se chama uma “síntese inicial confusa” ou, dito de outro modo, um símbolo não analisado. A análise descasca as várias camadas de significado embutidas no símbolo, separa alhos de bugalhos e reconstrói a articulação dos elementos numa síntese final distinta. É só então que se possui um conceito cientificamente viável do objeto, fato ou processo aludido.
A linguagem da propaganda e da demagogia foge da análise como o diabo da cruz e se contenta com a síntese inicial confusa, com o símbolo não analisado, precisamente porque não quer chegar à compreensão de coisa nenhuma, mas apenas produzir, por efeito da confusão mesma, alguma emoção tosca na mente de uma platéia aturdida e crédula.
É precisamente nesse sentido que o sr. Altman usa também os termos “neoconservador” e “fundamentalismo” – não como conceitos descritivos correspondentes a fatos identificáveis, mas como símbolos confusos carregados de veneno. Deixarei para analisá-los numa outra oportunidade, se ele insistir nesse blefe ridículo de ostentar uma superioridade cultural jamais provada por suas obras inexistentes ou por um currículo onde seu mais alto posto foi o de menino-de-recados de delinqüentes.
O sujeito é um demagogo comunista dos mais chinfrins, não alguém com que se possa travar um diálogo intelectualmente sério. No fundo, nada mais que um simplório querendo posar de esperto.
09 de agosto de 2013
Olavo de Carvalho
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