O Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em recente declaração, afirmou que a opinião pública trata a corrupção de maneira superficial e maniqueísta, acrescentando que há causas mais profundas, sociais e históricas a serem discutidas.
Incorporemos por alguns instantes o espírito do linguista e egiptólogo francês Jean François Champollion e tentemos decifrar esta charada apresentada pelo Ministro, agente do governo encarregado de garantir e promover a cidadania e a justiça, através de ação conjunta entre o Estado e a sociedade.
Evidentemente, a primeira parte da sentença possui considerável conteúdo político, com o objetivo de aliviar a tensão sobre os réus do mensalão, grande parte dos quais pertence às fileiras do partido do governo, ao qual serve.
Como o referido processo, já julgado, aguardando cumprimento de penas por parte dos condenados, envergonha a sociedade, ansiosa pelo desfecho, fica claro que não está havendo ação conjunta entre esta e o Estado no sentido de repaginar a justiça brasileira, o que modularia a opinião pública positivamente.
Quanto às causas mais profundas a que se refere, o mistério é um pouco mais insondável.
Não se sabe se quis afirmar que a sociedade brasileira nasceu e formou-se com o micróbio da corrupção - neste caso, o mensalão concluído seria uma boa oportunidade para extirpá-lo - ou se os homens públicos brasileiros são corruptos em umas circunstâncias, podendo, no entanto, resistir à tentação em condições semelhantes mas com ambientes político-sociais diferentes. Por esta leitura, parece evidente que sua interpretação está diretamente ligada ao fato de que um quadro é legalmente mais leniente que o outro.Não há dúvida que, no caso brasileiro, a impunidade faz a diferença.
Outras traduções do posicionamento enigmático do ministro podem aparecer, o que poderá levar a um esclarecimento mais detalhado de sua charada. Por enquanto, parece não haver dúvida que ele, como representante do estado, é que está sendo superficial e maniqueísta, por não ser capaz de explicitar à sociedade o seu pensamento e, assim, estabelecer a ação conjunta prevista na missão de sua pasta.
Seria interessante vir de novo a público e tirar as dúvidas que estão perturbando a população.
Só resta recorrer a Deus.
03 de agosto de 2013 Paulo Roberto Gotaç é Capitão-de-mar-e-guerra – reformado.
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