Notícias Faltantes - Foro de São Paulo
Ilmo. Sr.
Breno Altman
Opera Mundi
Prezado senhor,Em face do seu artigo “A mão que balança o berço”, peço e exijo, no uso do meu direito de resposta, a publicação do texto que se segue.
Atenciosamente,
Olavo de Carvalho
Filosofia de Breno Altman
Antes de tudo o mais, devo perguntar: Quais são os títulos das obras filosóficas de Breno Altman e onde posso adquiri-las? Elas devem existir e ser nada menos que admiráveis, a julgar pelo tom de superioridade magisterial com que aquele que supostamente as escreveu julga e condena as minhas, rebaixando-me à condição de “filósofo de bordel”, “boçal”, “charlatão”, “energúmeno”, “embusteiro”, “mentiroso contumaz”, “calça-frouxa”, “vampiro”, “lobo”, “mequetrefe”, “verme”, “inseto” e “degenerado”, tudo isso num só artigo, com o detalhe especialmente mimoso de que o último qualificativo veio repetido três vezes, para maior esclarecimento do distinto público.
Compreende-se que, gastando todas as suas energias na busca de adjetivos insultuosos, o referido não tivesse nem tempo, nem espaço, nem fôlego, seja para nos dar uma amostra ainda que mínima do seu grande gênio filosófico, seja para responder a qualquer dos argumentos que lhe apresentei contra o Foro de São Paulo, entidade à qual ele atribui as qualidades mais excelsas e os feitos mais sublimes, esquecendo-se porém de mencionar entre estes últimos – certamente por modéstia – o de haver providenciado o patrocínio estatal e privado para o seu site “Opera Mundi”.
Tímido e circunspecto como ele só, em contraste com a grandeza das obras filosóficas que lhe granjearam reputação mundial entre as pessoas jamais nascidas e fizeram dele o mais abalizado juiz do meu trabalho nessa área, o sr. Altman revela, de fato, especial recato ao falar (ou antes, deixar de falar) sobre assuntos financeiros, sendo esse decerto o motivo pelo qual ele sonegou qualquer resposta à minha pergunta sobre a origem do dinheiro que permitiu ao Foro de São Paulo manter milhares de pessoas em constantes viagens pelas várias capitais da América Latina, durante vinte e três anos, sem jamais apresentar uma só nota fiscal, uma ordem de serviço, uma prestação de contas, um arremedo de contabilidade sequer.
Nem em pensamento, também, quis ele roçar no episódio dos dois discursos em que o sr. Luís Inácio Lula da Silva confessava, com a candura admirável de quem se sente protegido pela discrição dos ouvintes, a intromissão pertinaz e cínica do Foro de São Paulo – e dele próprio – na política interna de várias nações do continente, ao ponto de reconhecer que a ascensão e manutenção do sr. Hugo Chávez no poder havia sido essencialmente obra do Foro.
Muito menos desejou ele tocar no tema especialmente desconfortável do apoio solidário dado pelo Foro a organizações criminosas como as Farc e o MIR chileno. As primeiras notabilizaram-se pelo fornecimento de cocaína ao traficante Fernandinho Beira-Mar, o segundo por uma infinidade de seqüestros, entre os quais os dos brasileiros Washington Olivetto e Abílio Diniz, ocasiões em que os partidos legais de esquerda se mobilizaram, nas ruas, no Parlamento e na mídia, para libertar, não os seqüestrados, mas os seqüestradores. Não creio errar ao supor que essas duas experiências de união indissolúvel entre o crime e o combate político aparentemente legal inspiraram, por sua eficiência, a criação do Foro de São Paulo logo em seguida. O sr. Altman, é claro, não diz nada a respeito, embora essa questão estivesse no centro do meu artigo ao qual ele fingia responder.
Para não dizer que ele não responde a nenhuma das afirmações, reconheço que ele fez uma débil tentativa nesse sentido ao proclamar que o Foro de São Paulo “desde a fundação, realiza todas as suas reuniões de forma pública, abertas à cobertura de imprensa”.
Desafio o sr. Altman a me mostrar uma única notícia ou reportagem sobre o Foro de São Paulo publicada na grande mídia nacional antes de que eu pusesse o assunto em evidência pelos meus artigos no “Jornal da Tarde” e em “O Globo” a partir de 2001, quando essa entidade já funcionava fazia onze anos.
Em contrapartida, posso lhe mostrar inúmeros artigos e mensagens, seja de celebridades, seja de joões-ninguéns, em que a existência ou pelo menos a relevância política de uma entidade que reunia governantes e criminosos em pé de igualdade eram abertamente negadas, e chamado de “teórico da conspiração” quem ousasse tocar no assunto.
Posso lhe mostrar também os dois discursos acima mencionados, em que o sr. Lula reconhecia o caráter secretivo e sorrateiro das atividades do Foro, especialmente os encontros reservados em que, fora das assembléias gerais, ele e outros potentados da América Latina decidiam os destinos de povos e nações “sem que parecesse e sem que as pessoas percebessem qualquer interferência política” (sic).
Posso também mostrar-lhe a chamada de capa do jornal “Granma” (edição interna cubana, não internacional) que noticia uma reunião em Miami entre líderes do Foro de São Paulo e do Diálogo Interamericano (órgão do Partido Democrata americano) realizada em 5 de maio de 1993. Procurei como um doido a página interna com a reportagem detalhada, mas, por uma coincidência literalmente inacreditável, justamente aquela edição, e só ela, havia desaparecido dos arquivos da Biblioteca do Congresso, e conseqüentemente também das bibliotecas universitárias americanas que a Biblioteca do Congresso coordena. Somava-se a isso a coincidência ainda mais inacreditável de que, naquela época (foi em 2008) a diretora da seção latino-americana da Biblioteca do Congresso fosse a mesma pessoa que havia organizado o encontro em Miami.
Se tudo isso não comprova uma secretude quase maníaca, não sei mais qual seja a diferença entre esconder e divulgar.
O sr. Altman afirma também que meus artigos “exaltam gangues fascistas como as que atacaram integrantes do Foro de São Paulo”. Ele que mostre, então, uma única linha da minha autoria que fale bem dessas pessoas ou enalteça os seus feitos, se é que estes aconteceram mesmo e não são apenas mais um factóide inventado para lançar sobre bodes expiatórios “de direita” as ações criminosas encomendadas pelo Foro de São Paulo e pelo próprio governo federal. Até agora, todos os supostos “agitadores fascistas” aos quais se atribuíam violências cometidas durante os protestos populares em várias cidades brasileiras acabaram comprovando não ser senão agentes comunistas, alguns deles treinados em campos de guerrilha urbana para esse fim. Admito, para raciocinar por hipótese, que o caso da “agressão ao Foro de São Paulo” possa ser uma exceção, mas até o momento não posso deixar de reparar que, como todos os anteriores, ele tem todas as características de coisa pré-fabricada. Como escreveu o Felipe Moura Brasil em comentário a outro artigo do “Opera Mundi”:
“Vinte pessoas de preto SEM NOME - mas de extrema direita! - agrediram não se sabe quantos participantes SEM NOME do Foro de São Paulo em um restaurante SEM NOME localizado a uma distância não esclarecida do hotel do evento do Foro... e, segundo testemunhas SEM NOME, bradando contra o Foro e os movimentos de esquerda da América Latina; de modo que foram levadas por policiais militares SEM NOME para a 78ª DP, onde foram liberadas quem sabe por outros policiais SEM NOME...” (V. http://operamundi.uol.com.br/
É com base em tão evanescente corpo de dados e contrariando a lei das propabilidades na comparação com os episódios anteriores, que o sr. Altman, com aquela escrupulosidade jornalística aprendida com Willi Münzenberg e Joseph Goebbels, já conclui pela autoria direitista e daí tira conseqüências definitivas e incontornáveis.
Se é tão avaro e mudo em respostas aos argumentos que lhe apresentei, o sr. Altman, no entanto, é prolífico em me atribuir intenções e em inventar episódios da minha biografia.
Ele afirma, por exemplo, que “o degenerado Carvalho tem saudades dos tempos da tortura e do desaparecimento, das prisões e assassinatos”. Isso nada pode contra a evidência repetida do julgamento severo que faço daquela época e daquele regime, com a única ressalva de que, desde o devido recuo no tempo, entendo hoje que eram preferíveis, em hipótese, ao morticínio multitudinário que, naquelas mesmas décadas, os comunistas queridinhos do sr. Altman empreendiam no Camboja, na China ou em Cuba. Entre tantas declarações minhas no mesmo sentido, o sr. Altman poderia ao menos ter lido esta, que saltou das mensagens do Facebook para uma visibilidade maior no site “Mídia Sem Máscara”:
“O governo militar instituiu a pena de morte para terroristas, mas, temendo críticas, não teve a coragem de aplicá-la. Preferiu deixar que os policiais matassem prisioneiros às ocultas. Se isso não foi um caso de estupidez criminosa, não sei o que mais pode ter sido... E notem que a Justiça Militar, naquele tempo, sempre agiu com lisura e honradez, coisa que os advogados de presos políticos reconhecem abertamente. Uma sentença de morte lavrada pelo STM teria um peso moral formidável. Por que, em vez disso, preferir matar gente no porão, escondidinho? Não há explicação, não há desculpa. Os apologistas do governo militar jamais terão alguma autoridade moral enquanto não reconhecerem o óbvio.”
Será esse o tom característico de um devoto nostálgico? Não tendo lido – ou tendo propositadamente esquecido – esse trecho e muitos outros, o sr. Altman poderia ao menos ter investigado alguma coisa sobre a minha carreira de jornalista e notar que estive entre os primeiros a denunciar o assassinato do meu colega Vladimir Herzog, numa época em que isso não rendia aplausos do sistema nem patrocínio da Petrobrás.
Na área de comentários do seu artigo, o sr. Altman já foi tão desmascarado, espancado e esmagado sob dezenas de argumentos fulminantes, que nenhuma palavra mais seria preciso acrescentar à oração fúnebre da sua reputação, se não também do seu respeito por si mesmo.
Mas é interessante notar que, entre os remetentes, aqueles poucos que têm o descaramento de defender o sr. Altman neste episódio nada mais fazem senão copiar o seu estilo de argumentação, nada respondendo ao que eu disse mas espalhando a meu respeito toda sorte de invencionices e lendas urbanas, como por exemplo:
(1) O Olavo disse que era formado em filosofia na USP e foi "devidamente desmascarado com documentos". (Ninguém mostra uma linha da minha autoria onde eu tenha afirmado isso, e aliás não vejo como uma universidade pode provar com documentos que alguém NÃO a freqüentou; seria um certificado de não-aluno?)
(2) O Olavo se diz jornalista profissional mas não tem registro e não é reconhecido por nenhum sindicato da categoria. (NB - Registro 8860 no Ministério do Trabalho, matrícula 3786 no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo desde há mais de trinta anos. Por ironia, não apenas sou membro do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo mas fui um dos animadores do seu Cine-Clube, junto com Ênio Squeff e Olga Kan, e um dos editores do seu jornal "Unidade", justamente na época em que este denunciava o assassinato de Vladimir Herzog.)(3) O Olavo fugiu para os EUA para escapar do processo que lhe foi movido por um professor da Unicamp que ele acusou falsamente de ter participado do assassinato do capitão Charles Chandler. (Cheguei nos EUA em 2005, o processo -- contra a Associação Comercial e não contra mim, aliás -- só começou em 2007. Devo ser o Exterminador do Futuro.)O leitor pode julgar, por esses fatos, qual de nós, eu o sr.Altman e seus defensores, se dedica a “agredir reputações, inventar histórias e disseminar cizânia” (sic).Resta o detalhe de que, após ter-me chamado de “filósofo de bordel”, o sr. Altman fez beicinho de dignidade ofendida quando lhe respondi com uma piada cruel. Nada poderia ser mais significativo do seu caráter do que essa reação de quem se atribui o monopólio do direito de xingar e ainda exige ser respondido com polidez e afagos.Em todo caso, embora eu tenha antes respondido a seus xingamentos com xingamentos, não acho mais que faça sentido xingar essa criatura. Ela está abaixo da possibilidade de ser xingada.
03 de agosto de 2013
Olavo de Carvalho
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