Amarildo Dias de Souza é pedreiro, 43 anos, residente da comunidade da Rocinha, São Conrado, Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. Este trabalhador, pai de seis filhos e casado há vinte anos, encontra-se desaparecido desde 14 de julho. As circunstâncias do desaparecimento indicam fortes indícios de participação de policiais militares lotados na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do local.
Infelizmente, Amarildo não é um caso isolado. Segundo a Anistia Internacional, apenas nos últimos vinte anos desapareceram mais de 90 mil pessoas no Brasil. A democracia realmente existente trata a base da pirâmide social da mesma forma que a ditadura militar tratava a dissidência política. A “novidade” não é a possibilidade de crime por parte de um agente da lei e sim a reação popular, e a incorporação desta pauta em movimentos de tipo político.
Aparentemente, o país se transforma e de baixo para cima. As instituições estatais não vêm sofrendo alterações substantivas e menos ainda a promíscua relação entre o agente econômico e os governos federal, estaduais e municipais.
O “papódromo” que terminou como o “mar de lama de Guaratiba” assim como o suposto cartel formado por empresas executores de contratos junto ao sistema de transporte de São Paulo (CPTM e Metrô) dão prova disso.
As mudanças que cito são perceptíveis na capacidade de reagir, tornando indignação o que antes era visto como “natural”, politizando temas básicos.
Alguns analistas caracterizam a violência policial apenas como parte do “entulho autoritário”, uma forma de excrescência antidemocrática, resquício da ditadura. Discordo.
A violação de direitos no país, em específico de direitos humanos, é parte da injustiça estrutural sofrida pela maior parte dos brasileiros.
Os dois filmes do diretor José Padilha, Tropa de Elite 1 e 2, explicitaram as entranhas do aparelho policial fluminense assim como a relação promíscua entre crimes de Estado e oportunismo político.
Parece que, a partir dos protestos de junho, as pautas por direitos se unificaram.
No Rio de Janeiro, o desaparecimento de Amarildo materializa a faixa levada nos protestos contra as relações pouco republicanas do governador Sérgio Cabral Filho (PMDB): “A polícia que reprime na avenida é a mesma que mata na favela!”
Deveria ser usual a reação popular e política contra o fato de um cidadão humilde desaparecer estando sob custódia de um agente de Estado. Mas não é.
Trata-se de uma poderosa novidade, implicando numa mudança qualitativa para a cidadania.
07 de agosto de 2013
Bruno Lima Rocha é cientista político.
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