"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 7 de agosto de 2013

SÓ AS MULTIDÕES INDIGNADAS CONSEGUIRÃO ENVELHECER O DISCURSO DE JEFFERSON PÉRES

 

Gravado em 30 de agosto de 2006, o vídeo de sete minutos que ilustra o post publicado em 23 de novembro de 2010 com o título

A falta que fazem os homens honrados registrou o profundo desalento do senador Jefferson Péres, do PDT amazonense, com o deserto político brasileiro.
Passados sete anos, a perturbadora atualidade do discurso ajuda a compreender a revolta da rua. E reforça a sensação de que as palavras pronunciadas por um parlamentar exemplarmente íntegro só ficarão grisalhas quando as multidões indignadas resolverem dissolver nas urnas o clube dos cafajestes que domina o país.

Confira o texto reproduzido abaixo:

“Volto a este microfone para manifestar meu desalento com a vida pública deste país”, avisou o senador Jefferson Péres na tarde de 30 de agosto de 2006. Nos sete minutos seguintes, sem minuetos retóricos, sem quaisquer truques de tribuno, o parlamentar do PDT amazonense limitou-se a contemplar a paisagem do inverno eleitoral com o olhar desconsolado de um homem de bem. A plateia diminuta pressentiu que testemunhava um momento histórico. Mas ninguém poderia saber que ouvia o testamento político de Jefferson Péres, morto em maio de 2008 aos 76 anos.

“Não quero mais viver a vida pública”, decidira. Até 2010, seguiria entrincheirado na tribuna, combatendo o presidente então em campanha pela reeleição. Encerrado o mandato, pretendia “continuar pelejando por todos os meios possíveis”, mas longe do coração do poder. Não queria permanecer no cenário do mensalão, “um dos piores escândalos de corrupção deste país”, planejado e concluído com a conivência do presidente da República. Lula sabia de tudo, constatou.

O áudio é uma aula sobre como fazer oposição sem ambiguidades. Pouco importava que Lula fosse vitorioso “com 99,9% dos votos”, ressalvou. “Estarei na tribuna dizendo que ele devia ser destituído, porque o que fez foi muito grave”. Também se recusava a ajustar seu comportamento aos desígnios da maioria. “Podem chamar até o Fernandinho Beira-Mar e fazê-lo presidente”, ironizou. Que não contassem com ele.

Sincero, corajoso, Péres desancou o Executivo e o Legislativo com igual inclemência, mas observou que “a crise ética não é só da classe política, é de grande parte da população”. Indignado com a subserviência de artistas e intelectuais governistas, qualificou de “cínicas e desavergonhadas” as declarações do grupo de abreus e bettis que havia reverenciado Lula, dias antes, na casa de Gilberto Gil.

Se estivesse vivo, o senador não veria uma paisagem muito melhor. Mas certamente o animaria a certeza de que a solidão acabou. Concordariam com homens como Jefferson Péres os milhões de brasileiros que lutam pelo fim da Era da Mediocridade mas não se sentem representados pela oposição oficial.


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