Pobre Dilma. Vista de longe parece que manda com mão de ferro nos seus
ministros, no partido que poderia chamar de seu e nos outros que a apoiam. Vista
de perto não é assim.
Tem uma pessoa que, bem ou mal de saúde, manda mais do que ela. Pior: que lhe dá ordens quando quer. E a quem Dilma obedece por lhe dever favores.
Você sabe quem é...
Aprovada por 77% dos brasileiros, tudo estava ótimo para Dilma até aqui. Desde que a economia não desandasse...
Os partidos reclamavam dos seus maus modos, mas não tinham o que fazer. Ministros tremiam à sua passagem, mas tocavam a vida.
O Congresso estava relativamente em paz – salvo uma marolinha ou outra, o que é natural.
Até que...
Até que Lula se recuperou do câncer na laringe e resolveu mostrar uma vez mais quem é que manda de fato.
Reunido há duas semanas em São Paulo com José Dirceu, Lula estava mais furioso com o noticiário político do que o seu ex-ministro da Casa Civil e coordenador da campanha que o levou em 2002 a se eleger presidente da República pela primeira vez.
Foi durante a reunião que nasceu a ideia de se criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as bandidagens cometidas pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e quem mais tenha se relacionado com eles.
Lula resgatava ali compromisso assumido com Dirceu em novembro de 2010: ao deixar o governo, batalharia para desmontar “a farsa do mensalão”.
Rui Falcão, presidente do PT, foi orientado a reunir os ministros do partido para ouvi-los a respeito da CPI. Dilma estava viajando. Os ministros aprovaram a idéia da CPI.
A Polícia Federal colecionava material contra a gang de Cachoeira desde 2009.
A parte do material que envolvia Demóstenes foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Ricardo Lewandowski, indicado para relator do caso, negou-se a repassá-la ao Conselho de Ética do Senado, onde Demóstenes será julgado por quebra de decoro.
Uma CPI tem poderes para requisitar o material.
Lula e Dirceu viram na CPI do Cachoeira a oportunidade de extrair uma série de vantagens políticas.
A principal: o barulho político provocado por ela deverá impedir o julgamento do Caso do Mensalão pelo STF ainda neste semestre.
Se de fato o julgamento dos 38 acusados ficar para o segundo semestre, dê como certo que ele só ocorrerá no final de 2013.
Em dezembro último, o ministro Joaquim Barbosa entregou 122 páginas com um resumo do processo do mensalão ao colega Lewandowski, encarregado de revisá-lo. Sem que Lewandowski dê a revisão por terminada, não haverá julgamento.
Há 20 dias, em conversa com um amigo, o ministro antecipou que dificilmente concluirá seu trabalho antes do recesso da Justiça, em julho.
No segundo semestre, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) terá sessões diárias por conta das eleições de outubro próximo. Seis dos 11 ministros do STF fazem parte do TSE – três como titulares e três como suplentes. Estarão sobrecarregados.
Cezar Peluzo se aposentará compulsoriamente em três de setembro ao completar 70 anos de idade. Em novembro será a vez de Carlos Ayres Brito, presidente do STF a partir desta semana.
Digamos que Dilma leve de quatro a cinco meses para preencher as vagas de Peluzo e de Ayres Brito.
Nada mais razoável que os novos ministros precisarem também de quatro a cinco meses para estudar os 233 volumes do processo e mais os 495 anexos, num total de 50.118 páginas.
Calcularam? Estamos no segundo semestre do próximo ano. Alguns crimes, a depender das penas, estarão prescritos.
Lula quer a cabeça de Marconi Perillo (PSDB), governador de Goiás, suspeito de tenebrosas transações com Cachoeira. Em 2005, Marconi revelou que alertara Lula para o esquema do mensalão.
Lula não perdoa Marconi por isso. Em troca, e sem verter uma lágrima, entregará a cabeça de Agnelo Queiroz (PT), governador do Distrito Federal, enrolado com Cachoeira e problemas domésticos.
Está pouco se lixando para a Delta, empreiteira das obras do Programa de Aceleração do Crescimento, que anda devagar. E de obras em nove de dez Estados.
Se a Delta for para o vinagre, que vá pelo que fez ou deixou de fazer nos Estados - principalmente no Rio de Janeiro.
Oposição ama CPIs – governos, não.
Dilma está empenhada em abortar a CPI de Lula. Com delicadeza.
O deputado baiano ACM Neto, do DEM, foi visto na semana passada desfilando sorridente no Congresso. Media quase dois metros.
16 de abril de 2012
ricardo noblat
Tem uma pessoa que, bem ou mal de saúde, manda mais do que ela. Pior: que lhe dá ordens quando quer. E a quem Dilma obedece por lhe dever favores.
Você sabe quem é...
Aprovada por 77% dos brasileiros, tudo estava ótimo para Dilma até aqui. Desde que a economia não desandasse...
Os partidos reclamavam dos seus maus modos, mas não tinham o que fazer. Ministros tremiam à sua passagem, mas tocavam a vida.
O Congresso estava relativamente em paz – salvo uma marolinha ou outra, o que é natural.
Até que...
Até que Lula se recuperou do câncer na laringe e resolveu mostrar uma vez mais quem é que manda de fato.
Reunido há duas semanas em São Paulo com José Dirceu, Lula estava mais furioso com o noticiário político do que o seu ex-ministro da Casa Civil e coordenador da campanha que o levou em 2002 a se eleger presidente da República pela primeira vez.
Foi durante a reunião que nasceu a ideia de se criar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as bandidagens cometidas pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) e quem mais tenha se relacionado com eles.
Lula resgatava ali compromisso assumido com Dirceu em novembro de 2010: ao deixar o governo, batalharia para desmontar “a farsa do mensalão”.
Rui Falcão, presidente do PT, foi orientado a reunir os ministros do partido para ouvi-los a respeito da CPI. Dilma estava viajando. Os ministros aprovaram a idéia da CPI.
A Polícia Federal colecionava material contra a gang de Cachoeira desde 2009.
A parte do material que envolvia Demóstenes foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Ricardo Lewandowski, indicado para relator do caso, negou-se a repassá-la ao Conselho de Ética do Senado, onde Demóstenes será julgado por quebra de decoro.
Uma CPI tem poderes para requisitar o material.
Lula e Dirceu viram na CPI do Cachoeira a oportunidade de extrair uma série de vantagens políticas.
A principal: o barulho político provocado por ela deverá impedir o julgamento do Caso do Mensalão pelo STF ainda neste semestre.
Se de fato o julgamento dos 38 acusados ficar para o segundo semestre, dê como certo que ele só ocorrerá no final de 2013.
Em dezembro último, o ministro Joaquim Barbosa entregou 122 páginas com um resumo do processo do mensalão ao colega Lewandowski, encarregado de revisá-lo. Sem que Lewandowski dê a revisão por terminada, não haverá julgamento.
Há 20 dias, em conversa com um amigo, o ministro antecipou que dificilmente concluirá seu trabalho antes do recesso da Justiça, em julho.
No segundo semestre, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) terá sessões diárias por conta das eleições de outubro próximo. Seis dos 11 ministros do STF fazem parte do TSE – três como titulares e três como suplentes. Estarão sobrecarregados.
Cezar Peluzo se aposentará compulsoriamente em três de setembro ao completar 70 anos de idade. Em novembro será a vez de Carlos Ayres Brito, presidente do STF a partir desta semana.
Digamos que Dilma leve de quatro a cinco meses para preencher as vagas de Peluzo e de Ayres Brito.
Nada mais razoável que os novos ministros precisarem também de quatro a cinco meses para estudar os 233 volumes do processo e mais os 495 anexos, num total de 50.118 páginas.
Calcularam? Estamos no segundo semestre do próximo ano. Alguns crimes, a depender das penas, estarão prescritos.
Lula quer a cabeça de Marconi Perillo (PSDB), governador de Goiás, suspeito de tenebrosas transações com Cachoeira. Em 2005, Marconi revelou que alertara Lula para o esquema do mensalão.
Lula não perdoa Marconi por isso. Em troca, e sem verter uma lágrima, entregará a cabeça de Agnelo Queiroz (PT), governador do Distrito Federal, enrolado com Cachoeira e problemas domésticos.
Está pouco se lixando para a Delta, empreiteira das obras do Programa de Aceleração do Crescimento, que anda devagar. E de obras em nove de dez Estados.
Se a Delta for para o vinagre, que vá pelo que fez ou deixou de fazer nos Estados - principalmente no Rio de Janeiro.
Oposição ama CPIs – governos, não.
Dilma está empenhada em abortar a CPI de Lula. Com delicadeza.
O deputado baiano ACM Neto, do DEM, foi visto na semana passada desfilando sorridente no Congresso. Media quase dois metros.
16 de abril de 2012
ricardo noblat
Nenhum comentário:
Postar um comentário