O tema mais decisivo para definir a eterna oscilação do Brasil entre civilização e barbárie continua barrado do debate político nacional porque envolve interesses diretos ou aspectos considerados sensíveis pelas empresas de informação que preferem não discuti-los em público.
Mas é contando com isso que Lula, do alto do seu olímpico desprezo por toda e qualquer convenção moral, faz os cálculos que embasam cada um dos seus passos na política.
A momentosa questão é:
Quanto realmente pesa o segmento livre da imprensa do Brasil? De que tamanho realmente é essa imprensa que investiga e faz denuncias no Brasil? Quanta gente ela atinge?
A resposta curta e grossa é: quase ninguém.
Ela é do tamanho dos jornais impressos de São Paulo, do Rio de Janeiro e de uns poucos estados mais com mercados publicitários capazes de sustentar um jornal, e mesmo assim, de nem todos os jornais impressos nessas praças. E atinge uma parcela da parcela (realmente) alfabetizada dessas populações.
O resto da imprensa ou está diretamente nas mãos do governo, ou vive da publicidade oficial ou é censurada - como são o rádio e a TV - pelos artifícios por baixo dos quais se esconde a censura dentro da legislação eleitoral à qual nós já nos acostumamos mas que escandalizariam qualquer súdito de democracias muito menos festejadas que a nossa.
Qual é o verdadeiro alcance do "efeito apagador" que o "horário eleitoral gratuito" proporciona? O que realmente fica gravado na cabeça do povão ao fim dos jornais das TVs: o capítulo do dia da novela da corrupção com os respectivos contraditórios exigidos pelas normas do bom jornalismo, ou as dúzias e dúzias de entradas dos mesmos políticos acusados se apresentando como santos abnegados nos intervalos desses mesmos jornais e ainda antes e depois deles?
Luís Ignácio Lula da Silva, que conhece como ninguém o Brasil dos grotões, sabe exatamente o que chega e o que não chega aos ouvidos do povão. Por isso reage com tanto sarcasmo às ilusões que a imprensa séria alimenta a esse respeito.
Por isso Lula aposta na confusão com tanta desfaçatez.
Esse caso da CPI do Cachoeira é exemplar.
O que teria levado o nosso Maquiavel de Garanhuns a soltar seus cachorros para levantar a caça que traria atrás de si, quando menos, a memória das "negociações salariais" entre Waldomiro Diniz, braço direito de seu chefe da Casa Civil, José Dirceu, e o chefão da jogatina Carlinhos Cachoeira, filmadas na sala vizinha àquela em que Lula despachava como Presidente da Republica no Palácio do Planalto nos idos de 2003?
O presidente do PT, Rui Falcão, foi explícito na declaração que gravou para a página de entrada do site oficial do partido. Não, é claro que não se tratava da reconciliação do PT com a ética na política. Falcão pedia o poio dos seus correligionários à CPI do Cachoeira para a "investigação do escândalo dos autores da farsa do Mensalão" que um STF presidido por um dos últimos ministros anteriores à "safra Lula" promete começar a julgar no máximo até julho.
Fogo de encontro, portanto. A fabricação da prova definitiva de que "eu sou porque todo mundo também é"...
Ok. Lula é um sujeito vingativo e Demostenes Torres foi o senador mais atuante na CPI dos Correios, na qual foi revolvida toda a sujeira do Mensalão.
O homem que ousou apontar um dedo acusador contra "deus" flagrado irretorquivelmente com a boca na botija era bom demais para permitir que passasse sem um carnaval.
Mas será que eles tinham ouvido todas as gravações da PF? Como tinham tanta certeza de que o feitiço não acabaria virando contra o feiticeiro se desde 2004 já havia figuras de proa do PT no bolso de Cachoeira?
A resposta é: não tinham. "Deus" também pode se precipitar e ... errar.
E ha uma particularidade, em especial, que pode tornar esse erro fatal.
Cercado de experimentados "arapongas", Carlinhos Cachoeira julgava-se garantido no quesito "prevenção contra grampos". Acreditou cegamente nos "assessores" que lhe juraram que a Policia Federal não tinha condições de gravar conversas feitas dentro do sistema Nextel de rádio-telefonia, sobretudo se as contas fossem contratadas fora do país.
Foi assim que Cachoeira passou a operar todas as ramificações da quadrilha, dentro e fora do sistema institucional, por meio das várias dezenas de contas Nextel abertas nos EUA.
Mas com um pormenor.
Fazia-o tranquilamente. Usando todos os nomes e números corretos. Dizendo tudo explicita e minuciosamente como se estivesse numa sala entre amigos (onde ele julgava de fato estar). De tal modo que mesmo neste paraíso dos advogados de bandidos que é o Brasil, será muito difícil dar o dito por não dito e tirá-lo da prisão ou manter fora dela os seus principais interlocutores.
O resto é apenas o óbvio.
A roubalheira está onde o governo está. E sendo mais de 80% dos governos do PT ou dos sócios do PT, é assim que se distribuem os negócios das organizações Cachoeira.
Não demorou nada para que, de Demostenes e Perillo, saltássemos para Agnelo e - tchã, tchã, tchan tchaan - Fernando Cavendish, o rei do Rio, o rei da Copa, o rei da Olimpíada, o "brother" do Cabral, unha e carne com Agnelo Queiroz; o rei do lixo de Brasília e a sua famigerada e onipresente Construtora Delta.
E Fernando Cavendish, quem diria, é também o rei do PAC da Dilma!
R$ 884 milhões só no ano de 2011!
A gravação mostra o tipo de cavalheiro de fino trato que o sr. Cavendish é. E, pelo jeito, é mais falastrão que o boquirroto do Cachoeira...
Xii, seu Lula! Vai dar merda!
by fernaslm
16 de abril de 2012
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