A obra maior do Querido Líder: o vazio
Desfiles monumentais, manifestações coreografadas e imagens no
plural não são o foco da lente de Guttenfelder. Ele fez um retrato melancólico e
dolorido da solidão de um país
Foi em janeiro passado, com Kim Jong Il ainda cimentado ao poder, que David
Guttenfelder, o chefe de fotografia na Ásia da agência noticiosa Associated
Press, obteve permissão da Coreia do Norte para expandir o seu campo de visão da
isolada nação comunista. Mesmo sem escapar da tradicional coreografia oficial
que o governo de Pyongyang impõe a bisbilhoteiros da imprensa internacional,
Guttenfelder pôde viajar pelo interior do país e registrar a solidão da vida
rural, num cenário ao mesmo tempo majestoso e acachapante.
Da vida urbana, o fotógrafo americano captou ângulos espelhados na mesma melancolia. O coreano, ali, é retratado como figurante de um destino maior que rege seus movimentos e, se necessário, pensamentos. Estado impermeável e absolutista em plena era de levantes de cidadãos comuns com ideias incomuns, a Coreia do Norte conseguiu não se desviar daquilo que George Orwell, em 1984, chamou de sociedade incapaz de conceber um pensamento não ortodoxo.
“O nível de reverência a Kim Jong Il sempre foi subestimado no Ocidente”, observou Han Shik Park, professor da Universidade da Geórgia, nascido na China e negociador, junto com Bill Clinton, da libertação de duas jornalistas americanas presas na Coreia do Norte. “Ele era visto não apenas como um líder superior, mas como alguém para ser admirado pelo seu alto valor moral. Pouco importa se isso tem ou não base na realidade. Quem quiser entender o país precisa entender esse sistema de fé. Percepção é realidade.”
O sucessor do falecido Querido Líder, Kim Jong Un, de 27 anos, já batizado de Farol da Esperança, herda um povo de 24 milhões de figurantes e uma nação blindada contra indivíduos. Guttenfelder talvez tenha captado a última geração de norte-coreanos que vivem no vácuo da realidade.
16 de abril de 2012Da vida urbana, o fotógrafo americano captou ângulos espelhados na mesma melancolia. O coreano, ali, é retratado como figurante de um destino maior que rege seus movimentos e, se necessário, pensamentos. Estado impermeável e absolutista em plena era de levantes de cidadãos comuns com ideias incomuns, a Coreia do Norte conseguiu não se desviar daquilo que George Orwell, em 1984, chamou de sociedade incapaz de conceber um pensamento não ortodoxo.
“O nível de reverência a Kim Jong Il sempre foi subestimado no Ocidente”, observou Han Shik Park, professor da Universidade da Geórgia, nascido na China e negociador, junto com Bill Clinton, da libertação de duas jornalistas americanas presas na Coreia do Norte. “Ele era visto não apenas como um líder superior, mas como alguém para ser admirado pelo seu alto valor moral. Pouco importa se isso tem ou não base na realidade. Quem quiser entender o país precisa entender esse sistema de fé. Percepção é realidade.”
O sucessor do falecido Querido Líder, Kim Jong Un, de 27 anos, já batizado de Farol da Esperança, herda um povo de 24 milhões de figurantes e uma nação blindada contra indivíduos. Guttenfelder talvez tenha captado a última geração de norte-coreanos que vivem no vácuo da realidade.
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