O antitabagismo militante jamais teve por meta
proteger a saúde de ninguém. Foi apenas um primeiro e bem sucedido experimento
de engenharia comportamental em escala planetária.
ARTIGOS - GLOBALISMO
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Indignado ante o conformismo servil com que os
americanos, outrora tão apegados às liberdades civis, vão aceitando as intrusões
cada vez mais agressivas do governo nas suas vidas privadas, o economista Walter
Williams finalmente se deu conta de que “o movimento antifumo explica
parcialmente a atual complacência americana".
Diz ele que os zelotes do antitabagismo começaram com
exigências 'razoáveis', como os avisos do Ministério da Saúde nos pacotes de
cigarros. Depois exigiram áreas para não-fumantes nos aviões. Encorajados pelo
sucesso, exigiram a proibição total do fumo nos aviões, e depois nos aeroportos,
nos restaurantes e nos locais de trabalho.
Tudo em nome da saúde. Percebendo a resposta
complacente dos fumantes, passaram a banir o fumo das praias, nas praças e nas
calçadas das grandes cidades. Agora estão clamando por prêmios de seguro-saúde
mais caros para os fumantes".
De acordo com Williams, se tivessem apresentado a lista
inteira de suas exigências logo no começo, não teriam conseguido nada. "Usando a
cruzada antifumo como modelo e vendo os americanos tão complacentes, os zelotes
e candidatos a tiranos estão ampliando mais e mais a sua agenda”. (O artigo
completo está em http://frontpagemag.com/2012/03/16/americans-have-become-compliant.)
Meus leitores e ouvintes são testemunhas de que há uma
década e meia, ou mais, venho lhes explicando o óbvio: a campanha antitabagista
jamais teve nada a ver com a saúde. Como era de se prever desde o início, até
hoje não se verificou em parte alguma, com a patente diminuição do número de
fumantes, nenhuma, rigorosamente nenhuma redução proporcional da incidência das
doenças alegadamente "causadas pelo fumo".
Mas a patente ausência dos resultados prometidos, em
vez de colocar em questão as premissas iniciais da campanha e moderar a retórica
antifumo, como se esperaria de mentalidades soi-disant científicas, é respondida
com novas cargas de exigências cada vez mais prepotentes, mais histéricas, mais
invasivas. O antitabagismo, como o socialismo, vive de redobrar o blefe após
cada novo desmentido das suas pretensões, transfigurando em sucesso publicitário
e político o fracasso crônico das metas nominais
alardeadas.
Não lhe falta, para isso, uma incansável e vociferante
militância espalhada pela Europa e pelas Américas, composta de uma bem
subsidiada elite ativista e uma massa idiota de "verdadeiros crentes" cada vez
mais fanatizados. Tão fanatizados que nem mesmo o uso repetidamente comprovado
de meios de propaganda fraudulentos (como as fotos forjadas que o nosso
Ministério da Saúde estampou nos maços de cigarros) os leva a duvidar, por um
momento sequer, da idoneidade da campanha.
Por trás do que imaginam os crentes, o antitabagismo
militante jamais teve por meta proteger a saúde de ninguém. Foi apenas um
primeiro e bem sucedido experimento de engenharia comportamental em escala
planetária. Foi um balão de ensaio, preparatório à implantação de controles cada
vez mais drásticos, cada vez mais intrusivos, destinados a reduzir a população
de todo o Ocidente a uma massa amorfa incapaz de reagir a qualquer imposição,
por mais arbitrária, lesiva e absurda, que venha da elite globalista
autoconstituída em governo mundial.
A escolha do tema foi especialmente ardilosa, visando a
seduzir conservadores, evangélicos e moralistas em geral, desarmando-os
preventivamente ante quaisquer campanhas subsequentes baseadas no mesmo modelo e
usando a própria força deles para sufocar na "espiral do silêncio" as poucas
vozes discordantes.
Uma vez que você cedeu tudo à pretensa autoridade
científica dos organismos internacionais em matéria de "saúde", fica difícil
reerguer a cabeça quando essa autoridade, em seguida, estende seus domínios para
as áreas da alimentação, da educação escolar, da moral sexual, da vida familiar
e assim por diante. A facilidade estonteante com que a elite revolucionária
instrumentalizou os seus próprios adversários mais ardorosos aparece condensada
simbolicamente num detalhe cômico, ou tragicômico, que denota a fragilidade
estrutural da reação anti-estatista: o uso do tabaco é rigorosamente proibido
nas sedes das organizações "libertarians" que defendem a liberação da
maconha.
Só o que me espanta é que mesmo uma inteligência
privilegiada como a de Walter Williams tenha levado tanto tempo para notar que o
antitabagismo, usando do ardil das exigências progressivamente ampliadas (a
famosa técnica da rã na panela), impôs muito mais do que sua meta nominal de
restringir o consumo de cigarros: impôs, junto com ela, uma nova autoridade, um
novo esquema de poder, um novo procedimento legislativo, um novo sistema de
comandos que pode ser acionado a qualquer momento, com garantias quase
infalíveis de obediência automática, para espalhar entre as massas as reações
padronizadas que a elite global bem deseje.
O triunfo da prepotência antitabagista não trouxe nem
trará jamais os anunciados efeitos benéficos para a saúde da população, mas,
depois dele, a humanidade Ocidental já não será mais a mesma. A complacência
ante o Estado intrusivo parece ter-se arraigado de uma vez por todas no espírito
das massas, pondo um fim à era da livre discussão e inaugurando a da passividade
servil e do ódio à divergência.
11 de abril de 2012
olavo de carvalho
Publicado no Diário do Comércio.
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