"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 11 de abril de 2012

HISTÓRIAS DO FOLCLORE POLÍTICO BRASILEIRO

JOÃO NEVES

João Neves começou a reclamar da brincadeira, Liminha saiu, fechou a porta por fora. Os funcionários já tinham saído, João Neves ficou ali sozinho, trancafiado na embaixada. Liminha foi à solenidade, leu seu discurso, tranqüilo e orgulhoso.
Mal acabou, chegou João Neves, suado, esbaforido, zangado, indignado, e pior ainda, mentindo. Pediu desculpas às autoridades portuguesas pelo equivoco quando ao horário, que o fez atrasar-se. Queria matar Liminha. Voltou ao Rio, contou a Getulio, que riu :

- E você não sabia que o Liminha é maluco?

MARIO PALMERIO

Mario Palmerio, embaixador do Brasil em Assunção, escrevendo seus romances e compondo belas guarânias (“Saudade” só não é mais popular lá do que o hino nacional do Paraguai), fez da embaixada um refugio de políticos e intelectuais da oposição. Uma tarde, chega o então ministro do Exterior Sapeña Pastor :
- Senhor embaixador Dom Palmerio, nosso pais deseja e precisa manter as melhores relações com o Brasil. Mas o senhor tem aqui na embaixada, exilados, mais de 40 inimigos do governo paraguaio e isso está causando os maiores problemas para nós. O senhor não podia tomar uma providencia para ajudar nosso governo?

- Pois não, senhor ministro, já estou tomando. Vamos lá em cima, no segundo andar, para o senhor ver a beleza de apartamentos que estou preparando para asilados de luxo.

- Mas, Dom Palmerio, esta é uma brincadeira de mau gosto.

- Não é não, Dom Pastor. O general Stroessener, hoje seu presidente, em outros tempos já foi hóspede da nossa embaixada.

O senhor, em qualquer eventualidade, seja nosso hóspede.

O ministro continuou preferindo as guarânias de Palmério.

JANIO

Cassado na primeira lista do golpe de 64, Jânio passou longos períodos no exterior, sobretudo na sua Londres querida.
Tinha horror de encontrar brasileiro. Estava caminhando na rua com a filha Tutu e o assessor Ruy Nogueira Neto, um eleitor brasileiro o viu:

- Presidente, o senhor sabe quem sou eu?

Jânio ficou com ódio, arregalou os olhos :

- Ora, meu caro, se você, que é você, não sabe quem você é, logo eu é que teria de sabê-lo?

JURACY

Embaixador do Brasil em Washington no governo Castelo Branco, em 65 Juracy Magalhães recebeu telegrama chamando-o urgente para assumir o ministério da Justiça. Telegrama na mão, Juracy recebeu os jornalistas e um fotógrafo, para deixar uma foto na galeria dos ex-embaixadores. Mas que foto? O fotógrafo sugeria :

- Com a mão no peito, embaixador.

- Não. Napoleão já tirou assim.

- Então, com a mão no bolso.

- Não quero. Olhe o Joaquim Nabuco. Com a mão no bolso.

- De braços estendidos.

- Também não. O Amaral Peixoto já tirou assim.

- Então, embaixador, sem nada. Só o rosto.

- E você pensa que meu rosto é nada? Me respeite!

O fotógrafo bateu. A foto está lá. Só o rosto. A foto do nada.

GIBSON

Gibson Barbosa, ministro do Exterior de Médici, fez um périplo africano por sete paises. Gorda comitiva. Na véspera da viagem, percebeu a gafe. Não havia um só negro na delegação.

A “carrière” não tinha negro. Gibson convidou um amigo médico,negro,para acompanha-lo.E apresentava orgulhoso o dr. Jair:

- Meu médico.

Uma noite, na Nigéria, foram a uma solenidade. O presidente da mesa chamava os que iam compo-la e perguntava a função :

- Dr. Jair. Função?

- Médico.

- Especialidade?

- Ginecologista.

E era. Gibson quase desaparece por baixo da mesa.

ADEMAR

Ademar de Barros era governador de São Paulo, Leopold Senghor, poeta e presidente do Senegal veio ao Brasil. Ademar fez as honras da casa. Levou-o a visitar a cidade, a Assembléia, o Ibirapuera, os cartões de visita. No dia seguinte, deixou-o em um avião da FAB, a caminho de Brasília, e disse aos jornalistas :

- Vejam só. Não sei o que esse pretinho veio fazer aqui.

Comprar o que? Assinar o que? Mal sei onde fica o Senegal.

MALUF

Paulo Maluf era governador de São Paulo, esteve no Kwait, deu entrevista a um jornal de esquerda. O deputado cassado Neiva Moreira, diretor da excelente revista “Cadernos do Terceiro Mundo”, estava passando por lá, leu. Primeira pergunta do jornalista árabe :

- Governador, como o senhor se define ideologicamente?

- Pró-árabe progressista a caminho do socialismo.
11 de abril de 2012
sebastião nery

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