JOÃO NEVES
João Neves começou a reclamar da brincadeira, Liminha saiu, fechou a porta por fora. Os
funcionários já tinham saído, João Neves ficou ali sozinho, trancafiado na
embaixada. Liminha foi à solenidade, leu seu discurso, tranqüilo e
orgulhoso.
Mal
acabou, chegou João Neves, suado, esbaforido, zangado, indignado, e pior ainda,
mentindo. Pediu desculpas às autoridades portuguesas pelo equivoco quando ao
horário, que o fez atrasar-se. Queria matar Liminha. Voltou ao Rio, contou a
Getulio, que riu :
- E você
não sabia que o Liminha é maluco?
MARIO PALMERIO
Mario
Palmerio, embaixador do Brasil em Assunção, escrevendo seus romances e compondo
belas guarânias (“Saudade” só não é mais popular lá do que o hino nacional do
Paraguai), fez da embaixada um refugio de políticos e intelectuais da oposição.
Uma tarde, chega o então ministro do Exterior Sapeña Pastor
:
- Senhor
embaixador Dom Palmerio, nosso pais deseja e precisa manter as melhores relações
com o Brasil. Mas o senhor tem aqui na embaixada, exilados, mais de 40 inimigos
do governo paraguaio e isso está causando os maiores problemas para nós. O
senhor não podia tomar uma providencia para ajudar nosso governo?
- Pois
não, senhor ministro, já estou tomando. Vamos lá em cima, no segundo andar, para
o senhor ver a beleza de apartamentos que estou preparando para asilados de
luxo.
- Mas, Dom
Palmerio, esta é uma brincadeira de mau gosto.
- Não é
não, Dom Pastor. O general Stroessener, hoje seu presidente, em outros tempos já
foi hóspede da nossa embaixada.
O senhor, em qualquer eventualidade, seja nosso
hóspede.
O ministro
continuou preferindo as guarânias de Palmério.
JANIO
Cassado na
primeira lista do golpe de 64, Jânio passou longos períodos no exterior,
sobretudo na sua Londres querida.
Tinha horror de encontrar brasileiro. Estava caminhando na rua com a filha Tutu e o assessor Ruy Nogueira Neto, um eleitor brasileiro o viu:
Tinha horror de encontrar brasileiro. Estava caminhando na rua com a filha Tutu e o assessor Ruy Nogueira Neto, um eleitor brasileiro o viu:
-
Presidente, o senhor sabe quem sou eu?
Jânio
ficou com ódio, arregalou os olhos :
- Ora, meu
caro, se você, que é você, não sabe quem você é, logo eu é que teria de
sabê-lo?
JURACY
Embaixador
do Brasil em Washington no governo Castelo Branco, em 65 Juracy Magalhães
recebeu telegrama chamando-o urgente para assumir o ministério da Justiça.
Telegrama na mão, Juracy recebeu os jornalistas e um fotógrafo, para deixar uma
foto na galeria dos ex-embaixadores. Mas que foto? O fotógrafo sugeria
:
- Com a
mão no peito, embaixador.
- Não.
Napoleão já tirou assim.
- Então,
com a mão no bolso.
- Não
quero. Olhe o Joaquim Nabuco. Com a mão no bolso.
- De
braços estendidos.
- Também
não. O Amaral Peixoto já tirou assim.
- Então,
embaixador, sem nada. Só o rosto.
- E você
pensa que meu rosto é nada? Me respeite!
O
fotógrafo bateu. A foto está lá. Só o rosto. A foto do
nada.
GIBSON
Gibson
Barbosa, ministro do Exterior de Médici, fez um périplo africano por sete
paises. Gorda comitiva. Na véspera da viagem, percebeu a gafe. Não havia um só
negro na delegação.
A
“carrière” não tinha negro. Gibson convidou um amigo médico,negro,para acompanha-lo.E apresentava
orgulhoso o dr. Jair:
- Meu médico.
Uma noite,
na Nigéria, foram a uma solenidade. O presidente da mesa chamava os que iam
compo-la e perguntava a função :
- Dr.
Jair. Função?
-
Médico.
-
Especialidade?
-
Ginecologista.
E era.
Gibson quase desaparece por baixo da mesa.
ADEMAR
Ademar de
Barros era governador de São Paulo, Leopold Senghor, poeta e presidente do
Senegal veio ao Brasil. Ademar fez as honras da casa. Levou-o a visitar a
cidade, a Assembléia, o Ibirapuera, os cartões de visita. No dia seguinte,
deixou-o em um avião da FAB, a caminho de Brasília, e disse aos jornalistas
:
- Vejam
só. Não sei o que esse pretinho veio fazer aqui.
Comprar o que? Assinar o que? Mal sei onde fica o
Senegal.
MALUF
Paulo Maluf era governador de São Paulo, esteve no Kwait,
deu entrevista a um jornal de esquerda. O deputado cassado Neiva Moreira,
diretor da excelente revista “Cadernos do Terceiro Mundo”, estava passando por
lá, leu. Primeira pergunta do jornalista árabe :
-
Governador, como o senhor se define ideologicamente?
-
Pró-árabe progressista a caminho do socialismo.
11 de abril de 2012
sebastião nery
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