Autor do requerimento de criação de uma CPI para investigar a ligação de políticos com Carlinhos Cachoeira, acusado de comandar uma rede de jogos ilegais no País, o deputado Protógenes Queiroz (PC do B-SP) foi flagrado em pelo menos seis conversas suspeitas com um dos mais atuantes integrantes do esquema do bicheiro goiano: Idalberto Matias Araújo, o Dadá. Os grampos da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, revelam a proximidade do parlamentar com um possível alvo da CPI que deverá ser instalada no Congresso Nacional.
Espécie de faz-tudo do esquema e conhecido araponga de dossiês políticos, Dadá esteve a serviço de Protógenes na Operação Satiagraha e, nas conversas, recebe orientações do ex-delegado sobre como agir para embaraçar a investigação aberta pela corregedoria da PF sobre desvios no comando da operação que culminou com a prisão do banqueiro Daniel Dantas - a Satiagraha. A ligação de Protógenes com Dadá permite questionamentos sobre sua autoridade para integrar a CPI. Os diálogos revelam o empenho do deputado, delegado licenciado da PF, em orientar Dadá na investigação aberta contra ele próprio, no ano passado.
Numa das conversas, Protógenes lembra ao araponga para só falar em juízo. 'E aí, é aquela orientação, entendeu?, diz ele, antes do depoimento de Dadá. As ligações foram feitas para o celular do deputado. Fica evidente a preocupação de Protógenes em não ser visto ao lado de Dadá. Eles sempre combinam encontros em locais distantes do hotel onde mora o deputado, como postos de gasolina e aeroportos. Procurado pelo Estado por três vezes em seu gabinete ontem, Protógenes não foi localizado e também não respondeu às ligações para seu celular.
Dadá foi identificado na Operação Monte Carlo - que o levou e ao bicheiro Cachoeira à prisão, em fevereiro -, como o encarregado de cooptar policiais e agentes públicos corruptos, de obter dados sigilosos para a quadrilha e de identificar e coordenar a derrubada de operações de grupos concorrentes. Ele está preso desde o mês passado, acusado de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e exploração de máquinas caça-níqueis.
Em agosto do ano passado, Dadá tratou de seu depoimento no inquérito da Satiagraha com o próprio Protógenes, com o advogado Genuino Lopes Pereira e com o escrivão da Polícia Federal Alan, lotado na Coordenação de Assuntos Internos da PF(Coain-Coger), uma subdivisão da Corregedoria-Geral. O assunto é o mesmo: Dadá e Jairo Martins, outro araponga ligado a Cachoeira e que esteve informalmente sob o comando de Protógenes na Satiagraha, só deveriam se manifestar em juízo.Se integrar a CPI contra Cachoeira, Protógenes investigará dois de seus colaboradores, como indicam os grampos obtidos pelo Estado. O advogado Genuino Pereira afirmou que não conhece Protógenes e negou que seus clientes tenham combinado a versão que dariam em depoimento à PF. Alega que eles se comportaram daquela forma por coincidência. Alan não foi encontrado no local de trabalho.
Com uma imagem de quem se tornaria o 'xerife' da Câmara, Protógenes foi eleito graças à carona que pegou nos 1,3 milhão de votos do palhaço Tiririca (PR-SP) para preencher o total de votos exigidos pelo quociente eleitoral de São Paulo. A iniciativa de criar uma CPI para investigar Cachoeira e seus colegas é, até agora, o auge de sua promessa de campanha.
Nos áudios da Monte Carlo, Dadá trata o deputado por 'professor' e 'presidente'. Uma das interceptações mostra Protógenes sugerindo a Dadá que o encontre num novo hotel. 'Não tô mais naquele não', avisa, num sinal de que os encontros são constantes. No grampo de 11 de agosto de 2011, acertam o local da conversa, mas se desencontram. 'Tá onde?', pergunta. Dadá responde: 'Em frente da loja da Fiat', ao que o deputado constata: 'Ah, tá. Estou no posto de gasolina'. 'No primeiro?', indaga Dadá. 'Isso', confirma o deputado.
Trechos dos diálogos:
Dia 9/8/2011 - 12h57
Protógenes: Alô.
Dadá: Oi professor.
Protógenes: Como é que tá? Tá tudo bem?
Dadá: Já chegou?
Protógenes: Já cheguei.
Dadá: Ah, tá, beleza, é que eu vou voltar lá às 3 horas e depois quando sair de lá a gente se encontra.
Protógenes: Tá bom. E aí é aquela orientação, entendeu?
Dadá: Não... não, já o advogado já falou com a pessoa de lá e a pessoa tá sabendo, por isso marcou eu e o meu parceiro juntos às 3 horas.
Protógenes: Isso, passe a informação para quem for também. Tá bom?
Dadá: A gente se encontra mais tarde.
Protógenes: Tá bom, falou. Um abraço.
Dia 11/8/2011 - 12h06
Dadá: ... a gente podia se encontrar num café no aeroporto. Não é cara?
Protógenes: Tá bom.
Dadá: Sei que procê é complicado. Eu tou aqui com os meninos almoçando.
Protógenes: Eu vou agora almoçar também. Você tá onde, tá na 400?
Dadá: Não, eu tou aqui na SR (?) almoçando com um colega da antiga, me chamou para almoçar aqui na associação...
Protógenes: Tá bom, a gente se encontra antes de eu ir para o aeroporto. Eu te ligo. Tá bom?
Dadá: Me ligue que eu preciso falar com você, é importante.
Protógenes: Vamos ali na... na... me encontre, é o seguinte, indo para o aeroporto, eu te falo e a gente se encontra no meio do caminho ou antes um pouquinho. Tá bom?...
Dia 23/3/2011 - 10h28
Protógenes: Alô.
Dadá: Professor, eu tou aqui na televisão, assistindo.
Protógenes: Eu tive que vir para uma reunião da Comissão de Constituição e Justiça às 10 horas. Eu tou aqui na Câmara.
Dadá: Ah, tá na Câmara? Vai demorar voltar para o hotel, né?
Protógenes: Vou demorar uma hora mais ou menos.
Dadá: Então, eu vou resolver um problema ali e volto pra cá.
Protógenes: Tá bom.
Dadá: Você vai almoçar aqui?
Protógenes: Não, eu vou ter que almoçar na bancada aqui do partido.
Dadá: Então pra chegar aqui é uma hora da tarde. Então, a uma hora eu venho aqui.
Protógenes: Isso.
Dadá: Tá bom. Então, uma hora eu venho aqui.
Protógenes: Tá bom, falou.
(Matéria do Estadão)
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