CASAMENTO NA ROÇA
Campanha eleitoral no Nordeste é como casamento na roça antigamente: quem não
montava a cavalo não ia à festa. João Cleofas, 76 anos, duas vezes derrotado
para o governo de Pernambuco, tirou uma foto bonita montado a cavalo, todo
esbelto e saiu para senador contra Marcos Freire em 74.
Dormia cinco horas por noite, levantava-se às 6h30, atendia filas de gente no escritório da Arena em Recife, distribuía bolsas de estudo, telhas para cobrir casas, cartões para receitas médicas e saía para o interior fazendo comícios. Dois meses de guerra. A Arena entrou em pânico, sentindo a derrota a cada passo. Argemiro Pereira, deputado da Arena, lamentava: “Minha mão murcha se eu pedir voto para o dr. Cleofas”.
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CLEOFAS
O governador nomeado, Moura Cavalcanti, ia de dedo no nariz:
– Quem não votar no Cleofas não toma cafezinho no palácio.
Cleofas esperneava, montado nas fotos e ameaçando de dedo duro:
– Marcos Freire é um agente da contestação. D. Helder é comunista!
E o povo, nas esquinas, dava gargalhadas inventando histórias:
Cleofas foi fazer comício em frente à estatua de Maurício de Nassau:
– Povo do meu tempo! Nassau respondeu: – Fala, Cleofas!
Abriram o túmulo de Duarte Coelho, estava lá o apelo:
– Votem em Cleofas! Esse menino vai longe!
Lívio Valença, deputado do MDB, definiu o estrago que Marcos Freire estava fazendo nos redutos oficiais:
– Soltaram a onça no chiqueiro dos bodes.
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PESQUISAS
Eleição é sempre assim. Cada um soltando sua onça no chiqueiro dos bodes. Não adianta dizer que ainda é cedo, que faltam quase seis meses para as eleições e que pesquisa que vale é a da véspera. É verdade, mas não é toda a verdade.
Os políticos ficam agitados com a publicação das primeiras pesquisas sobre as eleições de outubro para prefeito e vereador, porque sabem que a primeira pesquisa, antes da campanha, do horário gratuito do rádio e da TV, dos marqueteiros, reflete o que o povo já pensa dos candidatos.
Quando a campanha começa, o povo também começa a mudar. Mas sempre a partir dessa base inicial, que é o pensamento popular sedimentado, sem campanha. A pesquisa repercute tanto porque é a onça no chiqueiro dos bodes.
A partir da pesquisa, nada será como antes. Cada um vai se mexer, fingindo não dar importância, mas armando esquemas, abrindo o chiqueiro.
Outra lição da sabedoria popular sobre pesquisas: é como lobisomem de novela. Ninguém acredita mas todo mundo abre a janela para ver se há alguma coisa suspeita rondando pela madrugada.
27 de abril de 2012
Sebastião Nery
Dormia cinco horas por noite, levantava-se às 6h30, atendia filas de gente no escritório da Arena em Recife, distribuía bolsas de estudo, telhas para cobrir casas, cartões para receitas médicas e saía para o interior fazendo comícios. Dois meses de guerra. A Arena entrou em pânico, sentindo a derrota a cada passo. Argemiro Pereira, deputado da Arena, lamentava: “Minha mão murcha se eu pedir voto para o dr. Cleofas”.
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CLEOFAS
O governador nomeado, Moura Cavalcanti, ia de dedo no nariz:
– Quem não votar no Cleofas não toma cafezinho no palácio.
Cleofas esperneava, montado nas fotos e ameaçando de dedo duro:
– Marcos Freire é um agente da contestação. D. Helder é comunista!
E o povo, nas esquinas, dava gargalhadas inventando histórias:
Cleofas foi fazer comício em frente à estatua de Maurício de Nassau:
– Povo do meu tempo! Nassau respondeu: – Fala, Cleofas!
Abriram o túmulo de Duarte Coelho, estava lá o apelo:
– Votem em Cleofas! Esse menino vai longe!
Lívio Valença, deputado do MDB, definiu o estrago que Marcos Freire estava fazendo nos redutos oficiais:
– Soltaram a onça no chiqueiro dos bodes.
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PESQUISAS
Eleição é sempre assim. Cada um soltando sua onça no chiqueiro dos bodes. Não adianta dizer que ainda é cedo, que faltam quase seis meses para as eleições e que pesquisa que vale é a da véspera. É verdade, mas não é toda a verdade.
Os políticos ficam agitados com a publicação das primeiras pesquisas sobre as eleições de outubro para prefeito e vereador, porque sabem que a primeira pesquisa, antes da campanha, do horário gratuito do rádio e da TV, dos marqueteiros, reflete o que o povo já pensa dos candidatos.
Quando a campanha começa, o povo também começa a mudar. Mas sempre a partir dessa base inicial, que é o pensamento popular sedimentado, sem campanha. A pesquisa repercute tanto porque é a onça no chiqueiro dos bodes.
A partir da pesquisa, nada será como antes. Cada um vai se mexer, fingindo não dar importância, mas armando esquemas, abrindo o chiqueiro.
Outra lição da sabedoria popular sobre pesquisas: é como lobisomem de novela. Ninguém acredita mas todo mundo abre a janela para ver se há alguma coisa suspeita rondando pela madrugada.
27 de abril de 2012
Sebastião Nery
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