"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 27 de abril de 2012

A "OPERAÇÃO DELTA" E O "NÃO TENHO NADA COM ISSO".

Se vocês procurarem nos arquivos dos jornais, sites e portais, verão que a construtora Delta demorou para virar um foco especial de atenção. No dia 8 de abril, escrevi um post a respeito, de que reproduzo um trecho (em azul). Volto depois.

A memória seletiva de certos setores da imprensa faz lembrar, às vezes, a seletividade dos que estão vazando informações sobre a Operação Monte Carlo. A construtora Delta, a empresa que mais toca obras do PAC, aparece, segundo relatório da Polícia Federal, atuando para o esquema de Carlinhos Cachoeira.
Delta, Delta, Delta… Esse nome não nos é estranho, certo?
Como lembrei aqui no dia
2 de dezembro do ano passado, o dono da empresa, Fernando Cavendish, é um homem que tem amigos poderosos. Dois dos mais destacados são Sérgio Cabral, governador do Rio, e José Dirceu, o “chefe de quadrilha” (segundo a PGR). No Rio, a Delta toca obras de R$ 600 milhões. Pelo menos R$ 164 milhões desse total foram contratados sem licitação. Naquele trágico fim de semana de junho, em que um acidente de helicóptero matou sete pessoas no litoral baiano, incluindo a nora de Cabral, o governador integrava o grupo que estava na Bahia para comemorar o aniversário de Cavendish. Cabral viajou àquele estado no avião particular de outro potentado do setor privado: Eike Batista (se quiser mais sobre o mundo cabralino, clique aqui). Adiante.
(…)

Voltei

Depois o papel da empresa foi se agigantando, até se descobrir seus impressionantes tentáculos em vários estados. Mais: finalmente a imprensa se lembrou dos vínculos pólíticos do proprietário da empresa. Ontem, a ministra Miriam Belchior (Planejamento) afirmou que, se a construtora quebrar, o governo não tem nada com isso.
Huumm… Mais ou menos, mais ou menos.
Ninguém celebra contratos de mais de R$ 4 bilhões com o governo e se torna o número 1 do PAC sem que se estabeleça ao menos uma relação de confiança. A pressa com que vemos a Delta ser agora desmontada, creio, há de chamar a atenção dos membros da CPI e da própria Polícia Federal.
Afinal, como se nota, é disto mesmo que se trata: desmonte.
Uma pessoa desconfiada diria que se trata de uma tentativa de apagar pistas. Também seu comandante maior, seu símbolo, decidiu se afastar da direção (ao menos formalmente) sem esboçar nem mesmo resistência. Nunca antes na história destepaiz

O governo não tem nada com isso? Foi o governo que Miriam Belchior representa que fechou mais 31 contratos com a Delta, no valor de quase R$ 800 milhões, mesmo depois de a Controladoria Geral da República, em parceria com a Polícia Federal, ter constatado uma porção de maracutaias no Ceará. E isso é fato.

Mais: uma empresa que assume tal grau de responsabilidade em obras federais é, sim, um problema para o governo caso quebre. Afinal, não basta passar o contrato a outras: em quais condições, com que segurança, com quais valores? 

27 de abril de2012
Reinaldo Azevedo

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