"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 19 de maio de 2012

POR ENQUANTO, UMA PANTOMIMA

De vez em quando a gente consegue ver as coisas um pouquinho antes que se concretizem. Mero golpe da sorte. Desde que se constituiu a CPI do Cachoeira que temos referido sua inocuidade, não porque deixasse de ser necessária, até imprescindível, sequer porque as investigações já haviam sido feitas pela Polícia Federal, em termos das trapalhadas do bicheiro e sua relações com políticos, governantes e empresários.

Nossa afirmação inicial foi de que a CPI não daria em nada por falta de ânimo dos partidos que a compõem de apurar as verdadeiras responsabilidades. Seria apenas um campeonato de blindagem, com PT, PMDB, PSDB e outros empenhados em preservar seus integrantes e, como conseqüência, beneficiando o próprio Cachoeira.

Não deu outra. Caracterizou-se quinta-feira o acordão celebrado no grupo de deputados e senadores. Devagar, quase parando, a CPI transformou-se numa pantomima. Salvo milagre, concluirá apenas que Cachoeira é um bandido e que Demóstenes Torres era seu braço parlamentar. Tudo isso era conhecido e tinha sido publicado.

Investigar a participação de governadores, deputados e empreiteiros, nada feito. Verificar se houve corrupção nos contratos de obras do PAC com a Delta Engenharia, também não. Arrastam-se os trabalhos numa espécie de concluio maior do qual escapam poucos parlamentares,do tipo Miro Teixeira e Pedro Taques. Convenhamos, melhor seria esquecer a CPI, se ela continuar preservando bandidos, cúmplices e beneficiários.

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NÃO JOGAR A TOALHA

O senador Álvaro Dias não perdeu a esperança de que a CPI venha a quebrar o sigilo bancário e fiscal dos grandes implicados no escândalo Cachoeira-Delta Engenharia, bem como eles serem convocados a depor.
Não apenas evidências, mas farto material de provas tornaram-se públicos.

Tem gente presa, como o diretor da Delta, Cláudio de Abreu. Por que deixar o chefe dele, Fernando Cavendish, de fora das investigações? Não é possível desistir sem lutar, tornando-se necessário revogar segredos de justiça em nome do interesse público.

Para o representante do Paraná, o escândalo de hoje faz esquecer o escândalo de ontem, mas a grande razão da existência da atual CPI tornou-se promover ampla apuração das atividades da Delta Engenharia e seu conluio com o setor público.
Qual o milagre do crescimento gigantesco da empresa, senão através de obras superfaturadas, entre elas junto ao Dnit.

Álvaro Dias espera que na próxima reunião administrativa da CPI venha a ser aprovada a convocação de governadores, senadores, deputados e empresários.

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VACAREZZA SOB SUSPEIÇÃO

Flagrado pelo SBT enviando mensagem eletrônica ao governador do Rio, Sérgio Cabral, no sentido de não preocupar-se em ser convocado para depor na CPI, o deputado Cândido Vacarezza sofreu ontem duras críticas no Congresso. Os senadores Álvaro Dias e Roberto Requião pregaram a expulsão do deputado das reuniões da CPI. Protegendo explicitamente um dos supostos envolvidos com a Delta Engenharia, o representante do Rio Grande do Sul teria perdido as condições de permanecer nas investigações.

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TEMER ENTROU NA DISCUSSÃO

O vice-presidente Michel Temer entrou na discussão a respeito dos objetivos do Conselho da Verdade. Sustentou deverem ser apuradas quaisquer lesões aos direitos humanos praticadas durante o período da ditadura militar, mesmo não cometidos por agentes do poder público. Seja de que lado for, haverá que investigar atos de tortura, assassinato, seqüestro, ocultação de cadáveres e similares.
Temer pode ter enfiado a mão num vespeiro, porque pelo discurso da presidente Dilma Rousseff, esta semana, o foco da Comissão da Verdade deve ficar nos excessos do regime militar.

19 de maio de 2012
Carlos Chagas

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