O tema do cuidado é, nos últimos tempos, cada vez mais recorrente na reflexão
cultural. Primeiramente, foi veiculado pela medicina e pela enfermagem, pois
representa a ética natural dessas atividades. Depois foi assumido pela educação
e pela ética e feito paradigma por filósofas e teólogas feministas,
especialmente norte-americanas.
Ganhou força especial na discussão ecológica, constituindo uma peça central da Carta da Terra. Cuidar do meio ambiente, dos recursos escassos, da natureza e da Terra se tornaram imperativos do novo discurso. Por fim, viu-se o cuidado como definição essencial do ser humano, como é abordado por Martin Heidegger em “Ser e Tempo”, recolhendo uma tradição que remonta aos gregos, aos romanos e aos primeiros pensadores cristãos, como são Paulo e santo Agostinho.
Constata-se, outrossim, que a categoria cuidado vem ganhando força sempre que emergem situações críticas. É ela que impede que as crises se transformem em tragédias fatais.
A Primeira Grande Guerra (1914-1918), desencadeada entre países cristãos, destruíra o glamour ilusório da era vitoriana e produziu profundo desamparo metafísico.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), despontou a figura do pediatra e psicólogo D. W. Winnicott (1896-1971), encarregado pelo governo inglês de acompanhar crianças órfãs vítimas dos bombardeios de Londres. Desenvolveu uma reflexão e uma prática ao redor dos conceitos de cuidado (care), preocupação pelo outro (concern) e conjunto de apoios a crianças ou pessoas vulneráveis (holding), aplicáveis também aos processos de crescimento e de educação.
Em 1972, o Clube de Roma lançou o alarme ecológico sobre o estado doentio da Terra. Identificou a causa principal: o nosso padrão de desenvolvimento, consumista, predatório, perdulário e totalmente sem cuidado para com os recursos escassos da natureza e os dejetos produzidos. Depois de vários encontros organizados pela ONU a partir dos anos 1970, chegou-se à proposta de um desenvolvimento sustentável, como expressão do cuidado humano pelo meio ambiente, mas centrado especialmente no aspecto econômico.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) elaboraram em 1991 uma estratégia minuciosa para o futuro do planeta sob o signo “Cuidando do Planeta Terra”. Aí se diz: “A ética do cuidado se aplica tanto em nível internacional como em níveis nacional e individual; nenhuma nação é autossuficiente; todos lucrarão com a sustentabilidade mundial e todos estarão ameaçados se não conseguirmos atingi-la”.
Em março de 2000, recolhendo essa tradição, termina em Paris, depois de oito anos, a redação da Carta da Terra. A categoria sustentabilidade, cuidado ou o modo sustentável de viver constituem os dois eixos articuladores principais do novo discurso ecológico, ético e espiritual. Em 2003, a Unesco assumiu oficialmente a Carta da Terra.
Em 2003, os ministros ou secretários de meio ambiente dos países da América Latina e do Caribe elaboram o documento “Manifesto pela vida: por uma ética da sustentabilidade”, no qual a categoria cuidado é incorporada na ideia de um desenvolvimento para que seja efetivamente sustentável e radicalmente humano.
Como já observava o poeta romano Horácio, “o cuidado é aquela sombra que nunca nos abandona porque somos feitos a partir do cuidado”.
Hoje, dada a crise generalizada, o cuidado torna-se imprescindível para preservarmos a integridade da Mãe Terra e salvaguardar a continuidade de nossa espécie e de nossa civilização.
Ganhou força especial na discussão ecológica, constituindo uma peça central da Carta da Terra. Cuidar do meio ambiente, dos recursos escassos, da natureza e da Terra se tornaram imperativos do novo discurso. Por fim, viu-se o cuidado como definição essencial do ser humano, como é abordado por Martin Heidegger em “Ser e Tempo”, recolhendo uma tradição que remonta aos gregos, aos romanos e aos primeiros pensadores cristãos, como são Paulo e santo Agostinho.
Constata-se, outrossim, que a categoria cuidado vem ganhando força sempre que emergem situações críticas. É ela que impede que as crises se transformem em tragédias fatais.
A Primeira Grande Guerra (1914-1918), desencadeada entre países cristãos, destruíra o glamour ilusório da era vitoriana e produziu profundo desamparo metafísico.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), despontou a figura do pediatra e psicólogo D. W. Winnicott (1896-1971), encarregado pelo governo inglês de acompanhar crianças órfãs vítimas dos bombardeios de Londres. Desenvolveu uma reflexão e uma prática ao redor dos conceitos de cuidado (care), preocupação pelo outro (concern) e conjunto de apoios a crianças ou pessoas vulneráveis (holding), aplicáveis também aos processos de crescimento e de educação.
Em 1972, o Clube de Roma lançou o alarme ecológico sobre o estado doentio da Terra. Identificou a causa principal: o nosso padrão de desenvolvimento, consumista, predatório, perdulário e totalmente sem cuidado para com os recursos escassos da natureza e os dejetos produzidos. Depois de vários encontros organizados pela ONU a partir dos anos 1970, chegou-se à proposta de um desenvolvimento sustentável, como expressão do cuidado humano pelo meio ambiente, mas centrado especialmente no aspecto econômico.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) elaboraram em 1991 uma estratégia minuciosa para o futuro do planeta sob o signo “Cuidando do Planeta Terra”. Aí se diz: “A ética do cuidado se aplica tanto em nível internacional como em níveis nacional e individual; nenhuma nação é autossuficiente; todos lucrarão com a sustentabilidade mundial e todos estarão ameaçados se não conseguirmos atingi-la”.
Em março de 2000, recolhendo essa tradição, termina em Paris, depois de oito anos, a redação da Carta da Terra. A categoria sustentabilidade, cuidado ou o modo sustentável de viver constituem os dois eixos articuladores principais do novo discurso ecológico, ético e espiritual. Em 2003, a Unesco assumiu oficialmente a Carta da Terra.
Em 2003, os ministros ou secretários de meio ambiente dos países da América Latina e do Caribe elaboram o documento “Manifesto pela vida: por uma ética da sustentabilidade”, no qual a categoria cuidado é incorporada na ideia de um desenvolvimento para que seja efetivamente sustentável e radicalmente humano.
Como já observava o poeta romano Horácio, “o cuidado é aquela sombra que nunca nos abandona porque somos feitos a partir do cuidado”.
Hoje, dada a crise generalizada, o cuidado torna-se imprescindível para preservarmos a integridade da Mãe Terra e salvaguardar a continuidade de nossa espécie e de nossa civilização.
(Transcrito do jornal O Tempo)
Leonardo Boff
19 de maio de 2012
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