"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 10 de maio de 2012

SENTENÇA DE UM JUIZ DE MINAS


Esta aconteceu em Minas Gerais (Carmo da Cachoeira).
O Juiz Ronaldo Tovani, 31 anos, substituto da Comarca de Varginha, ex-promotor de justiça, concedeu liberdade provisória a um sujeito preso em flagrante por ter furtado duas galinhas e ter perguntado ao delegado "desde quando furto é crime neste Brasil de bandidos?".


O magistrado lavrou então sua sentença em versos.


                                                    *** *** *** ***

No dia cinco de outubro / Do ano ainda fluente / Em Carmo da Cachoeira

Terra de boa gente / Ocorreu um fato inédito / Que me deixou descontente.

O jovem Alceu da Costa / Conhecido por "Rolinha" / Aproveitando a madrugada

Resolveu sair da linha / Subtraindo de outrem / Duas saborosas galinhas.


Apanhando um saco plástico / Que ali mesmo encontrou / O agente muito esperto

Escondeu o que furtou / Deixando o local do crime / Da maneira como entrou.


O senhor Gabriel Osório / Homem de muito tato / Notando que havia sido

A vítima do grave ato / Procurou a autoridade / Para relatar-lhe o fato.


Ante a notícia do crime / A polícia diligente / Tomou as dores de Osório

E formou seu contingente / Um cabo e dois soldados / E quem sabe até um tenente.


Assim é que o aparato / Da Polícia Militar / Atendendo a ordem expressa

Do Delegado titular / Não pensou em outra coisa / Senão em capturar.


E depois de algum trabalho / O larápio foi encontrado

Num bar foi capturado / Não esboçou reação / Sendo conduzido então

À frente do Delegado. / Perguntado pelo furto / Que havia cometido

Respondeu Alceu da Costa / Bastante extrovertido / Desde quando furto é crime

Neste Brasil de bandidos?


Ante tão forte argumento / Calou-se o delegado / Mas por dever do seu cargo

O flagrante foi lavrado / Recolhendo à cadeia / Aquele pobre coitado.


E hoje passado um mês / De ocorrida a prisão / Chega-me às mãos o inquérito

Que me parte o coração / Solto ou deixo preso / Esse mísero ladrão?


Soltá-lo é decisão / Que a nossa lei refuta / Pois todos sabem que a lei

É pra pobre, preto e puta... / Por isso peço a Deus / Que norteie minha conduta.


É muito justa a lição / Do pai destas Alterosas. / Não deve ficar na prisão

Quem furtou duas penosas, / Se lá também não estão presos

Pessoas bem mais charmosas.


Afinal não é tão grave / Aquilo que Alceu fez / Pois nunca foi do governo

Nem seqüestrou o Martinez / E muito menos do gás / Participou alguma vez.


Desta forma é que concedo / A esse homem da simplória / Com base no CPP

Liberdade provisória / Para que volte para casa / E passe a viver na glória.


Se virar homem honesto / E sair dessa sua trilha / Permaneça em Cachoeira
Ao lado de sua família / Devendo, se ao contrário, / Mudar-se para Brasília!!!
09 de maio de 2012

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