(crônica)
Eu não troco meus amigos surpreendentes, minha vida folgada, minha estimada família, por menos cabelos brancos ou uma barriga menos saliente. Enquanto fui envelhecendo, tornei-me mais amável e menos crítico de mim mesmo. Não tenho mais traumas. Eu me tornei meu próprio amigo. Grande amigo! Enorme amigo! Não me censuro por comer biscoito extra, ou por tomar um pote de sorvete de 750 gramas sozinho, à guiza de almoço, ou para comprar algo bobo que não precisava, como uma coruja de madeira agora pendurada na trave da minha garagem.
Ou duas araras falsas na varanda, que ficam balançando, coloridas, ao sabor do vento. E de criar meus canários-da-terra. Soltos. São meus amigos também. Vem comer todos os dias em casa. Eu até tenho o direito de ser desarrumado. Barba meia branca por cortar. E meio extravagante! Vi muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes de compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento. Quem vai me censurar se resolvo ficar lendo ou no computador até as quatro horas da manhã e dormir até meio-dia? Já sou aposentado. Já trabalhei 48 bons anos da minha vida e não me arrependo.
Agora, até participo de um blog, como redator diletante. Eu ainda danço ao som daqueles sucessos maravilhosos dos anos 60 & 70 e se, ao mesmo tempo, desejar chorar por um amor perdido alhures … eu choro. Ando na praia, fora daquele horário de sol forte, de chapéu e com um short excessivamente esticado sobre um corpo meio decadente, e posso mergulhar nas ondas com abandono, se eu quiser, apesar dos olhares penalizados daqueles outros do jet set, que tem os corpos marombados por muitas horas de malhação.
Não tenho que mostrar mais nada a ninguém. Esses, também, se tiverem alguma sorte, vão envelhecer. Sei que fico, às vezes, esquecido. Mas há algumas coisas na vida que merecem e devem ser esquecidas. É muito mais prático me recordar só das coisas agradáveis e importantes. E faço muito isso…
Claro, ao longo dos anos, alguma vez meu coração foi quebrado. Como não quebrar seu coração quando você perde alguém querido, ou quando uma criança sofre, ou mesmo quando algum amado animal de estimação é atropelado por um carro? Mas, corações partidos são os que nos dão força, compreensão e compaixão. Um coração que nunca sofreu é imaculado e estéril. Nunca conhecerá a alegria de ser imperfeito. Eu sou tão abençoado por ter vivido o suficiente para ter meus cabelos grisalhos, e ter os risos e alegrias da juventude gravados para sempre nos sulcos profundos do meu rosto. Muitos nunca riram; muitos se foram antes que seus cabelos virassem prata. Conforme você envelhece, é mais fácil ser positivo. Você não se preocupa nada com o que os outros pensam. Não me questiono mais. Ganhei o direito de estar errado, nas raras vezes em que isso acontece. A idade nos dá sabedoria para errar muito menos.
Assim, gosto de ser velho. Isso me libertou. Especialmente gosto da pessoa em que me tornei. Eu não vou viver para sempre mas, enquanto ainda estiver por aqui, não vou perder tempo lamentando o que poderia ter sido, ou me preocupar com o que será. E vou comer sobremesa todos os dias, se me apetecer, e… se o meu bom médico homeopata deixar.
Magu (adaptação)
19 de junho de 2012
Eu não troco meus amigos surpreendentes, minha vida folgada, minha estimada família, por menos cabelos brancos ou uma barriga menos saliente. Enquanto fui envelhecendo, tornei-me mais amável e menos crítico de mim mesmo. Não tenho mais traumas. Eu me tornei meu próprio amigo. Grande amigo! Enorme amigo! Não me censuro por comer biscoito extra, ou por tomar um pote de sorvete de 750 gramas sozinho, à guiza de almoço, ou para comprar algo bobo que não precisava, como uma coruja de madeira agora pendurada na trave da minha garagem.
Ou duas araras falsas na varanda, que ficam balançando, coloridas, ao sabor do vento. E de criar meus canários-da-terra. Soltos. São meus amigos também. Vem comer todos os dias em casa. Eu até tenho o direito de ser desarrumado. Barba meia branca por cortar. E meio extravagante! Vi muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes de compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento. Quem vai me censurar se resolvo ficar lendo ou no computador até as quatro horas da manhã e dormir até meio-dia? Já sou aposentado. Já trabalhei 48 bons anos da minha vida e não me arrependo.
Agora, até participo de um blog, como redator diletante. Eu ainda danço ao som daqueles sucessos maravilhosos dos anos 60 & 70 e se, ao mesmo tempo, desejar chorar por um amor perdido alhures … eu choro. Ando na praia, fora daquele horário de sol forte, de chapéu e com um short excessivamente esticado sobre um corpo meio decadente, e posso mergulhar nas ondas com abandono, se eu quiser, apesar dos olhares penalizados daqueles outros do jet set, que tem os corpos marombados por muitas horas de malhação.
Claro, ao longo dos anos, alguma vez meu coração foi quebrado. Como não quebrar seu coração quando você perde alguém querido, ou quando uma criança sofre, ou mesmo quando algum amado animal de estimação é atropelado por um carro? Mas, corações partidos são os que nos dão força, compreensão e compaixão. Um coração que nunca sofreu é imaculado e estéril. Nunca conhecerá a alegria de ser imperfeito. Eu sou tão abençoado por ter vivido o suficiente para ter meus cabelos grisalhos, e ter os risos e alegrias da juventude gravados para sempre nos sulcos profundos do meu rosto. Muitos nunca riram; muitos se foram antes que seus cabelos virassem prata. Conforme você envelhece, é mais fácil ser positivo. Você não se preocupa nada com o que os outros pensam. Não me questiono mais. Ganhei o direito de estar errado, nas raras vezes em que isso acontece. A idade nos dá sabedoria para errar muito menos.
Assim, gosto de ser velho. Isso me libertou. Especialmente gosto da pessoa em que me tornei. Eu não vou viver para sempre mas, enquanto ainda estiver por aqui, não vou perder tempo lamentando o que poderia ter sido, ou me preocupar com o que será. E vou comer sobremesa todos os dias, se me apetecer, e… se o meu bom médico homeopata deixar.
Magu (adaptação)
19 de junho de 2012
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