Por 95 segundos a mais.
O PP de Paulo Maluf confirmou ontem a sua adesão à candidatura do petista Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo. Com isso, o candidato terá 1 minuto e 35 segundos a mais em cada sessão do horário eleitoral. Na segunda-feira da semana passada, foi o PR do mensaleiro Valdemar Costa Neto que fechou com o tucano José Serra, dando-lhe assim outro 1 minuto e 35 segundos para pedir os votos dos presumivelmente perplexos eleitores paulistanos.
Maluf preferia apoiar Serra, com 30% das intenções de voto, e seria recebido de braços abertos pelo candidato a quem, ao longo de sua trajetória, não faltou ocasião de aprender uma coisa ou outra de políticos com o senso de integridade de um André Franco Montoro ou de um Mário Covas. O dito do cronista Ivan Lessa, recentemente falecido, de que a cada 15 anos os brasileiros se esquecem dos 15 anos anteriores segue atual.
A parceria só não se consumou porque o governador Geraldo Alckmin se recusou a nomear um apadrinhado de Maluf para a Secretaria da Habitação, enquanto a presidente Dilma Rousseff não se fez de rogada para entregar-lhe a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental. Com a costumeira agilidade, Maluf se bandeou para Haddad.
Nos seus anos verdes, quando Lula era carrancudo e fazia praça de sua brabeza, o PT paulistano tinha aversão pela figura que encarnava, aos olhos da militância, tudo que precisava ser removido da cena política nacional. O enlace entre ambos se dá dias depois de o Banco Mundial incluir o ex-prefeito em um banco de dados que contém os nomes de 150 protagonistas de casos de corrupção no mundo.
Se Serra já não detivesse o direito autoral da expressão, que utilizou, sem enrubescer, para disfarçar o odor da sua aliança com o cacique perrepista Costa Neto - que tucanou porque a presidente não quis ressarcir o partido dos lucros cessantes da faxina ministerial do ano passado -, bem que Haddad poderia dizer, a propósito de sua associação, que "estamos fazendo uma aliança com o partido e não com pessoas".
Vá convencer disso a sua companheira de chapa, a ex-prefeita Luiza Erundina. Haddad anunciou o seu nome no mesmo dia em que fechou negócio com Maluf. Ela se disse surpreendida com o acerto, comentou que, se consultada, "faria ponderações" e resumiu numa palavra - "desconfortável" - o seu estado de espírito diante do fato consumado.
No metafórico palanque de que fala o noticiário político, um Haddad imprensado entre Erundina e Maluf seria o cúmulo da incoerência - para usar um termo do gosto do deputado. Mas na rotina dos leilões por tempo de TV que prevalece na política, incoerente é o candidato que desperdiça oportunidades de ganhar uma eleição.
Ou de se manter à tona no ofício. Erundina vinha criticando duramente a direção nacional do PSB, comandada pelo governador Eduardo Campos. Em São Paulo, o partido - que ocupava uma Secretaria no Estado e recebeu outra na Prefeitura - tendia a ir com Serra. Mudou de ideia depois que o ex-presidente Lula garantiu o apoio do PT ao partido em cinco municípios prioritários para Campos. Mas o desconcertante no caso de Erundina foi ela comparar a eleição a uma luta de classes, fazer a apologia do socialismo e anunciar que ia para a campanha "em nome dessa utopia". Diria um cínico que ela pregou o "socialismo em um só município", em vez do "socialismo em um só país" de Josef Stalin.
As convicções de Erundina são autênticas. A manifestação é que primou pela inoportunidade. Dificilmente acrescentará a Haddad um único voto na periferia e poderá reforçar a resistência a seu nome dos eleitores antipetistas de todas as áreas da cidade. Segundo o DataFolha, 100% do eleitorado conhece Serra - e 32% o rejeita. Haddad é conhecido por 49% dos votantes e rejeitado por 12%. É cedo para dizer se Erundina preencherá na campanha a lacuna deixada pela autoexilada Marta Suplicy. Ou se valeu a pena ter 1 minuto e 35 segundos a mais na temporada de propaganda graças a Paulo Maluf.
(Editorial publicado pelo Estadão intitulado Com Maluf e Erundina)
19 de junho de 2012
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