"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 19 de junho de 2012

O ESTRANHO ENCONTRO DE PARIS


Sugestão do Leitor

Caro leitor, neste espaço, você pode participar da produção de conteúdo em conjunto com a equipe do Opinião e Notícia. Sugira temas para pautas preenchendo os campos abaixo. Participe!

article image
À esquerda, o deputado Maurício Quintella Lessa (PR-AL), que reuniu-se com o senador Ciro Nogueira (PP-PI), à direita, e com o dono da Delta Fernando Cavendish em Paris. Denúncia foi do deputado Miro Teixeira (centro) (Divulgação)
É difícil de acreditar que dois parlamentares, membros da CPI do Cachoeira, se encontraram por acaso com o dono da Delta, Fernando Cavendish, na capital francesa

A bela Paris se estende por 105 mil km² , onde 2,2 milhões de habitantes desfilam em suas calçadas, cafés e praças, nos quais parisienses e turistas de todo o planeta alternam suas refeições diurnas tradicionalmente entre 11h e 15h.

Então fica difícil de acreditar que dois parlamentares, membros da CPI mista do Cachoeira no Congresso Nacional em Brasília, se encontraram por acaso com o dono da Delta, Fernando Cavendish, na Semana Santa, duas semanas antes de a CPI ser aberta.

Justamente no mesmo restaurante? E no mesmo horário? Eram eles o senador Ciro Nogueira (PP-PI), o deputado Maurício Quintella (PR-AL) e o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE). Os dois primeiros, membros da CPI que seria aberta poucos dias depois. Um detalhe. Ciro Nogueira é amigo de Cavendish, foi ele quem ajudou a levar a Delta Construções para o Piauí.

O trio voltava de uma agenda oficial do Congresso na África e resolveu esticar o feriado na cidade, onde o voo fazia escala. Não se sabe ainda quanto tempo conversaram e o que falaram. Na CPI, recentemente, Ciro não defendeu nem acusou. Quintela pediu a convocação de Cavendish.

O restaurante seria o L’Avenue, na Av. Montaigne, perto dos Champs Élysées. Muito frequentado por brasileiros. Foi ali que foi visto almoçando, um mês depois, no dia 28 de Maio, o secretário de Trabalho do governo do Rio, Sergio Zveiter.

Se mesmo lá, é uma prova de que Fernando Cavendish, dono da construtora mais enrolada do país, com repasses de mais de R$ 30 milhões a empresas fantasmas do contraventor Carlinhos Cachoeira, não dava a mínima para a CPI. E continua, porque até agora foi misteriosamente blindado na comissão para não depor, com a ajuda da bancada do PT.

Na Av. Montaige circula a nata parisiense e dos turistas endinheirados. Além do L’Avenue, de propriedade dos irmãos Costes – onde os clientes vão para ver e serem vistos, além de desfrutar do bom cardápio -, existem os badalados La Maison Blanche, no topo do Theatre des Champs Élysées e com uma das melhores vistas da cidade.

A mesma avenida sedia também o Alain Ducasse, o mais caro de Paris, que leva o nome do dono, dos mais conceituados chefs do mundo. E o Le Relais Plaza, também no Plaza Athénée, um bistrô chique frequentado pela high society da cidade, com ambiente Art Déco.

Paris tem 6 mil restaurantes. O trio parlamentar se encontraria com Cavendish logo num deles, no mesmo cantinho, numa avenida de três quilômetros e dezenas de outros cafés. O destino, a se confirmar a tese do encontro fortuito dos políticos com o empreiteiro, é mesmo instigante.

Leandro Mazzini
19 de junho de 2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário