Ricas nações ocidentais estão financeiramente esgotadas e sem vontade de se comprometer a ajudar o desenvolvimento verde nas nações mais pobres
O que acontece se você sediasse uma conferência da ONU sobre desenvolvimento sustentável, os líderes mundiais fizessem discursos e assinassem tratados, e depois nada acontecesse? Isso, é claro, seria um absurdo. O problema, diz Bill Easterly, especialista em desenvolvimento da Universidade de Nova York, é que nada aconteceu nos 20 anos desde a primeira Cúpula da Terra, a chamada Eco92, em que todas as nações do mundo se reuniram no Rio e prometeram enfrentar os graves problemas ambientais e, em seguida, realizaram mais encontros ambientais, e mais conferências e mais cúpulas.
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A maneira mais caridosa de olhar os 20 últimos anos de conferências ambientais é vê-los como o início de uma discussão global sobre as ameaças das emissões de carbono e uma maior consciência sobre as terríveis consequências que todos iremos enfrentar se as nações não levarem a sério o desenvolvimento limpo e sustentável.
O secretário-geral do ONU, Ban Ki Moon, disse ao Guardian que a Rio+20 é importante demais para fracassar: “Se nós realmente não tomarmos medidas firmes, nós podemos estar caminhado para o fim do nosso futuro”, disse Ban.
De onde virá o dinheiro?
A principal questão discutida é como os países pobres podem se desenvolver sem criar toda a poluição que os países ricos colocaram no mundo para alcançar o patamar atual. Os países em desenvolvimento argumentam que as nações mais ricas devem financiar projetos de energia limpa – como a solar e a eólica – para os países pobres, mas como o correspondente da BBC, Richard Black, salientou, as nações desenvolvidas não estão fazendo nenhuma promessa. O presidente dos EUA, Barack Obama, a chanceler alemã, Angela Merkel e o primeiro-ministro britânico David Cameron sequer virão para a Rio+20.
As preocupações dos países ocidentais parecem ser outras. A maioria deles está tentando encontrar maneiras para pagar dívidas. O Brasil, anfitrião da conferência, tem oferecido passagens, alimentação e alojamento a qualquer nação pobre que não pode se dar ao luxo de gastar para participar de um encontro como este. E os EUA, com sua enorme economia livre da recessão pesada, com seus líderes políticos centrados na eleição presidencial de novembro, simplesmente não estão dando muita atenção ao Rio+20.
Como Francis Vorhies, repórter da revista Forbes escreveu: “O elefante na sala, é claro, é a questão financeira. Com os europeus menos dispostos e capazes de transferir recursos para os países em desenvolvimento, de onde virá o dinheiro para cumprir qualquer novo compromisso firmado na Rio+20?”
Sem comprometimentos
A falta de atenção dos líderes ocidentais com a conferência foi traduzida como uma falta de compromisso para promover mudanças ambientais. O jornal Guardian observou que durante as discussões no Rio nesta semana, o verbo“incentivar” foi usado mais de 50 vezes, mas que o firme verbo “dever” apenas três vezes.
Sem promessas de apoio dos países ricos e da China, – em vias de se tornar o maior poluidor do mundo – os países em desenvolvimento devem assumir a liderança na Rio+20. Isso significa que, como disse o britânico príncipe Charles, o mundo “dorme enquanto caminha para uma catástrofe”. Talvez. É tentador ver a Rio +20 como uma catástrofe inevitável, um exercício de discussão inútil e sugerir que cada nação deve simplesmente se afastar.
Às vezes a falha em si pode ser um alerta. Grupos de ativistas ambientais têm se esforçado nos últimos anos para conseguir que a mídia aborde a questão da sustentabilidade. Os órgãos de imprensa têm a responsabilidade de transformar o problema de “concentrações de dióxido na atmosfera” em algo inteligível, para promover um debate construtivo sobre o que se pode fazer para diminuí-lo e evitar a catástrofe.
Escolas também têm papel importante ao educar as crianças sobre as questões ambientais. As empresas privadas – cujo poder econômico muitas vezes supera as economias de vários governos nacionais – também têm maneiras de alterar a forma como fazem negócios, reduzindo seu consumo de energia e as emissões de fábricas e escritórios. Os consumidores podem recompensar as empresas que são ambientalmente responsáveis pagando mais por seus produtos ecológicos.
A catástrofe não é inevitável, mas vai demorar a ser abordada, o que só acontecerá quando houver pressão pública e alguns líderes chaves acharem no assunto um interesse político. Isso já aconteceu antes. Na década de 1970 e 1980, protestos estudantis contra as armas nucleares pareciam loucura, quando os líderes norte-americanos e soviéticos estavam no auge de sua rivalidade. Mas em 1987 em Washington, Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev assinaram o Acordo de Forças Nucleares de Médio Alcance, o primeiro tratado para limitar o número de armas nucleares no mundo. A União Soviética estava exausta e afundada em dívidas. Às vezes, as dívidas tornam as pessoas flexíveis e criativas.
Opinião e Notícia
19 de junho de 2012
Não se preocupem que o Brasil banca tudo...
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