"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 19 de junho de 2012

OSTRACISMO É A SOLUÇÃO


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Longe da presidência desde 2010, Álvaro Uribe se tornou um crítico ferrenho de seu sucessor, Juan Manuel Santos
Depois de conseguir um segundo mandato e fracassar na tentativa de um terceiro, Álvaro Uribe ameaça um novo retorno à presidência da Colômbia

Costuma-se dizer que os ex-presidentes são como móveis velhos. Originalmente, a analogia poderia trazer à mente lembranças de velhos baús, admirados por sua bela aparência, porém deixados de lado, à mercê de cupins vorazes. No entanto, com os avanços da medicina moderna, os países passaram a acumular tais antiguidades. Quatro ex-presidentes norte-americanos vivem nos Estados Unidos, e há uma enorme probabilidade de que o atual presidente, Barack Obama, mantenha-se como “parte da mobília” até a metade do século XXI.
Mas na Colômbia, o ex-presidente Álvaro Uribe, como ocorre no Brasil com o ex-presidente Lula, se recusa a assumir esse papel.

Durante muitos anos, a presidência colombiana seguiu o modelo mexicano: um mandato único, sem reeleição, elaborado como uma vacina contra figuras que pudessem se enamorar pelo poder do cargo. Era uma sábia decisão, considerando que os líderes da América Latina preferem sistemas mais semelhantes ao do Vaticano, no qual os presidentes permanecem no cargo até que morram ou estejam muito doentes para desempenhar as funções presidenciais. Fidel Castro é um desses exemplos, e – depois de orquestrar reformas constitucionais que permitiram suas reeleições – Daniel Ortega na Nicarágua e Hugo Chávez na Venezuela sonham em seguir seus passos. No Brasil, Lula ainda mantêm grande influência nos rumos políticos de seu partido e, apesar do câncer na laringe, não emitiu, até agora, nenhum sinal de que pretende desencarnar do poder ou sair do foco dos holofotes tão cedo. O mesmo acontece com o ex-presidente colombiano.

Graças a seu bem sucedido combate às FARC, Uribe foi um presidente popular que resgatou a fé dos colombianos no futuro. Em 2006 ele conseguiu a aprovação de uma emenda constitucional que o permitiu permanecer na presidência por oito anos ao invés de quatro; em 2010 tentou levar adiante um referendo que lhe daria a chance de disputar as eleição, podendo chegar a um terceiro mandato, mas a proposta foi considerada inconstitucional . Uribe abriu mão do poder, não sem antes escolher seu sucessor, Juan Manuel Santos, que venceu as eleições sem dificuldade.

Revolta contra o sucessor

Esperava-se que Uribe voltasse para seu rancho e criasse uma fundação para defesa de seu legado político. Ao invés disso, ele decidiu viver em um quartel policial em Bogotá, onde pode se reunir com membros das forças armadas, um grupo entre o qual sempre foi popular por sua dura posição contra os guerrilheiros, e vociferar contra seu sucessor, a quem chama de “traidor” no Twitter.
Para Uribe, Santos vendeu sua alma a terroristas e a Hugo Chávez, e a tão sofrida paz colombiana está em vias de desaparecer com o país afundando no caos e as guerrilhas do narcotráfico ressurgindo.
A fúria de Uribe levou alguns militares a discutirem a possibilidade de um golpe contra o atual presidente.
Um golpe contra Santos é algo um tanto improvável, mas outra reforma constitucional, que permita que Uribe dispute as eleições presidenciais de 2014 é bastante possível, e sua base eleitoral já se move nessa direção. Em dois anos a Colômbia pode se ver diante de um plebiscito disfarçado de eleição, com eleitores novamente contra ou a favor de Uribe.

Os gregos da Antiguidade tinham uma grande defesa democrática contra a tirania: o ostracismo. De acordo com Plutarco, o ostracismo – que consistia na expulsão da cidade-estado por dez anos – não era uma punição, mas sim uma medida de proteção, e uma forma de devolver a humildade aos líderes. Muitos na Colômbia prefeririam ver seu ex-presidente dando palestras importantes no exterior, mas infelizmente ele optou por ser um fardo na Colômbia, disparando críticas no Twitter e regozijando-se cada vez que as FARC tentam assassinar algum político.

E é por isso que tantos colombianos – que vivem um momento econômico positivo e que veem seus índices de homicídios caindo – gostariam que Álvaro Uribe, aquela velha peça de mobília, parasse de ocupar espaço na sala de estar da nação.

Opinião e Notícia
19 de junho de 2012

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