Mapa das Malvinas feito por Phillipe Vandermaelen, publicado em Bruxelas em 1827, com a denominação ambígua de “Malouines ou Falklands”
presidente da Assembleia Legislativa das ilhas Malvinas,
Gavin Short, anunciou nesta terça-feira que os kelpers – denominação dos ilhéus
– irão às urnas no primeiro semestre de 2013 para votar em um referendo sobre o
“status político” desse arquipélago no Atlântico Sul. Gavin sustentou que o
objetivo do referendo é o de “enviar uma mensagem à Argentina” sobre a soberania
do arquipélago “e sobre o fato de que os ilhéus querem continuar sendo
britânicos”. As Malvinas (“Falklands” na denominação britânica) são
reivindicadas pela Argentina desde a conquista britânica em 1833.
Segundo Short, “sem dúvida alguma o povo das Malvinas quer que as ilhas permaneçam como um território de ultra-mar da Grã-Bretanha, com um auto-governo…não temos desejo de ser comandados pelo governo de Buenos Aires, algo que é imediatamente óbvio para qualquer pessoa que tenha visitado as ilhas ou ouvido nossos pontos de vista”.
Depois do anúncio do projeto de referendo por parte dos kelpers, o primeiro-ministro britânico David Cameron indicou ontem em Londres que a Grã-Bretanha “respeitará e defenderá” o resultado da votação. Cameron também pediu que a ONU respeite o resultado da consulta popular que será realizada no ano que vem nas ilhas.
Desde a volta da democracia, em 1983, os diversos governos argentinos reivindicaram constantemente a posse das ilhas. No entanto, desde 2010 o governo da presidente Cristina Kirchner intensificou as reclamações nos âmbitos diplomáticos internacionais, coincidindo com a descoberta de petróleo na plataforma marítima das Malvinas.
A presidente aumentou os decibéis destas reivindicações durante as comemorações dos 30 anos da Guerra das Malvinas (1982).
Na quinta-feira, durante seu discurso no Comitê de Descolonização da ONU em Nova York, Cristina exigirá novamente que a Grã-Bretanha sente à mesa de discussões para conversar sobre a soberania das ilhas.
O governo Cameron, nos últimos meses, deixou claro em diversas ocasiões que só conversará com a Argentina sobre as ilhas Malvinas se os kelpers concordarem com isso. No entanto, a administração Kirchner ignora os desejos dos ilhéus e afirma que a conversa somente ocorrerá entre Buenos Aires e Londres, sem passar pela capital das ilhas, Stanley (“Puerto Argentino” na nomenclatura toponímica argentina).
O discurso de Cristina coincidirá com o trigésimo aniversário da rendição argentina na Guerra das Malvinas.
Segundo o jornal “Penguin News”, de Stanley, um grupo de jovens kelpers pretendem viajar à Nova York para falar com a presidente Cristina e comunicar-lhe que querem continuar sendo britânicos e permanecer com sua atual forma de vida. A maioria dos integrantes deste grupo nasceu depois da guerra de 1982.
ILHAS
DISPUTADAS - “Estas ilhas não produzem coisa alguma. Neve,
granizo e gelo. O ar está sempre úmido. Os alimentos daqui restringem-se a
peixe. É para mim este um país cruel. O reino deverá subsidiá-lo”. As ilhas
improdutivas em questão eram as ilhas Malvinas. Estas palavras, do frei Felipe
de Mena, foram pronunciadas em 1767, época que a coroa espanhola ocupava as
ilhas.
As ilhas Malvinas foram descobertas muito antes destes decepcionados
espanhóis nascerem. Diversas especulações indicam que possivelmente Américo
Vespúcio, no início do século XVI passou por elas. Além dele, navegantes
holandeses a teriam avistado e pescado em suas redondezas, bem como os ingleses.
Mas a primeira ocupação somente ocorreu quando o francês Louis Antoine de
Bougainville ali desembarcou, em fevereiro de 1764. Seu navio – e a maior parte
de seus tripulantes – era de Saint-Malo, e por isso chamou as ilhas de
“Malouines”, que em espanhol transformou-se em “Malvinas”.
Os espanhóis permaneceram até 1811, quando deixaram as ilhas. Durante os primeiros anos da independência argentina, o novo governo ignorou as Malvinas, e somente se ocupou delas em 1821.
O governo da província de Buenos Aires (naquela época a Argentina não estava constituída como tal, e a ocupação das Malvinas foi uma decisão da província) fundou Puerto Soledad (Porto Solidão). Na mesma época, as praias do arquipélago começaram a ser visitadas com frequência por caçadores de peles dos EUA e da Inglaterra, o que eventualmente causava conflitos com o governo local.
No dia 2 de janeiro de 1833 chegam os ingleses, de novo, mas desta vez para ficar. A fragata Clio ancorou diante de Puerto Soledad, e depois de apontar seus canhões, exigiu ao governador José Maria Vernet, que partisse dali, com a população, levando seus bens.
A Argentina só voltou a ocupar transitoriamente as ilhas em 1982 (durante 74 dias, do 2 de abril ao 14 de junho). Mas, as tropas enviadas pelo ditador Leopoldo Fortunato Galtieri foram derrotadas pela maior força-tarefa britânica vista desde a Segunda Guerra Mundial, enviadas pela primeira-ministra Margareth Thatcher.
De lá para cá, as ilhas continuam sob domínio britânico. Os “kelpers”, denominação dos ilhéus, afirmam que pretendem continuar como súditos da coroa. Outra hipótese, a de proclamar a independência. O governo argentino ignora os 3 mil kelpers que ali residem e afirma que negociará a soberania das Malvinas de forma direta com Londres. Na capital britânica as autoridades afirmam que não negociarão assunto algum sobre as Malvinas sem a concordância dos ilhéus.
16 de junho de 2012
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