"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 16 de junho de 2012

KELPERS FARÃO REFERENDO EM 2013 SOBRE STATUS POLÍTICO DAS MALVINAS


Mapa das Malvinas feito por Phillipe Vandermaelen, publicado em Bruxelas em 1827, com a denominação ambígua de “Malouines ou Falklands”

presidente da Assembleia Legislativa das ilhas Malvinas, Gavin Short, anunciou nesta terça-feira que os kelpers – denominação dos ilhéus – irão às urnas no primeiro semestre de 2013 para votar em um referendo sobre o “status político” desse arquipélago no Atlântico Sul. Gavin sustentou que o objetivo do referendo é o de “enviar uma mensagem à Argentina” sobre a soberania do arquipélago “e sobre o fato de que os ilhéus querem continuar sendo britânicos”. As Malvinas (“Falklands” na denominação britânica) são reivindicadas pela Argentina desde a conquista britânica em 1833.

O líder dos kelpers indicou que o referendo será realizado para deixar claro ao mundo “para mostrar ao mundo que estamos muito seguros sobre o que somos e que futuro queremos”.
Segundo Short, “sem dúvida alguma o povo das Malvinas quer que as ilhas permaneçam como um território de ultra-mar da Grã-Bretanha, com um auto-governo…não temos desejo de ser comandados pelo governo de Buenos Aires, algo que é imediatamente óbvio para qualquer pessoa que tenha visitado as ilhas ou ouvido nossos pontos de vista”.

Depois do anúncio do projeto de referendo por parte dos kelpers, o primeiro-ministro britânico David Cameron indicou ontem em Londres que a Grã-Bretanha “respeitará e defenderá” o resultado da votação. Cameron também pediu que a ONU respeite o resultado da consulta popular que será realizada no ano que vem nas ilhas.

Desde a volta da democracia, em 1983, os diversos governos argentinos reivindicaram constantemente a posse das ilhas. No entanto, desde 2010 o governo da presidente Cristina Kirchner intensificou as reclamações nos âmbitos diplomáticos internacionais, coincidindo com a descoberta de petróleo na plataforma marítima das Malvinas.
A presidente aumentou os decibéis destas reivindicações durante as comemorações dos 30 anos da Guerra das Malvinas (1982).
Na quinta-feira, durante seu discurso no Comitê de Descolonização da ONU em Nova York, Cristina exigirá novamente que a Grã-Bretanha sente à mesa de discussões para conversar sobre a soberania das ilhas.
O governo Cameron, nos últimos meses, deixou claro em diversas ocasiões que só conversará com a Argentina sobre as ilhas Malvinas se os kelpers concordarem com isso. No entanto, a administração Kirchner ignora os desejos dos ilhéus e afirma que a conversa somente ocorrerá entre Buenos Aires e Londres, sem passar pela capital das ilhas, Stanley (“Puerto Argentino” na nomenclatura toponímica argentina).

O discurso de Cristina coincidirá com o trigésimo aniversário da rendição argentina na Guerra das Malvinas.
Segundo o jornal “Penguin News”, de Stanley, um grupo de jovens kelpers pretendem viajar à Nova York para falar com a presidente Cristina e comunicar-lhe que querem continuar sendo britânicos e permanecer com sua atual forma de vida. A maioria dos integrantes deste grupo nasceu depois da guerra de 1982.



ILHAS DISPUTADAS - “Estas ilhas não produzem coisa alguma. Neve, granizo e gelo. O ar está sempre úmido. Os alimentos daqui restringem-se a peixe. É para mim este um país cruel. O reino deverá subsidiá-lo”. As ilhas improdutivas em questão eram as ilhas Malvinas. Estas palavras, do frei Felipe de Mena, foram pronunciadas em 1767, época que a coroa espanhola ocupava as ilhas.

As ilhas Malvinas foram descobertas muito antes destes decepcionados espanhóis nascerem. Diversas especulações indicam que possivelmente Américo Vespúcio, no início do século XVI passou por elas. Além dele, navegantes holandeses a teriam avistado e pescado em suas redondezas, bem como os ingleses. Mas a primeira ocupação somente ocorreu quando o francês Louis Antoine de Bougainville ali desembarcou, em fevereiro de 1764. Seu navio – e a maior parte de seus tripulantes – era de Saint-Malo, e por isso chamou as ilhas de “Malouines”, que em espanhol transformou-se em “Malvinas”.

Enquanto que Bougainville ficava na ilha do lado leste, os ingleses desembarcaram em 1766 na ilha do lado oeste. No entanto, o governo espanhol, que nunca havia ocupado as ilhas, ao ser informado da presença francesa ali, reclamou o arquipélago. O rei Luis XV aceitou o pedido, e Bougainville teve que entregá-las à Espanha. Assim, em 1767, os espanhóis se instalaram ali. Os ingleses também partiram, em 1774, sem no entanto renunciar às ilhas.

Os espanhóis permaneceram até 1811, quando deixaram as ilhas. Durante os primeiros anos da independência argentina, o novo governo ignorou as Malvinas, e somente se ocupou delas em 1821.
O governo da província de Buenos Aires (naquela época a Argentina não estava constituída como tal, e a ocupação das Malvinas foi uma decisão da província) fundou Puerto Soledad (Porto Solidão). Na mesma época, as praias do arquipélago começaram a ser visitadas com frequência por caçadores de peles dos EUA e da Inglaterra, o que eventualmente causava conflitos com o governo local.

No dia 2 de janeiro de 1833 chegam os ingleses, de novo, mas desta vez para ficar. A fragata Clio ancorou diante de Puerto Soledad, e depois de apontar seus canhões, exigiu ao governador José Maria Vernet, que partisse dali, com a população, levando seus bens.

A Argentina só voltou a ocupar transitoriamente as ilhas em 1982 (durante 74 dias, do 2 de abril ao 14 de junho). Mas, as tropas enviadas pelo ditador Leopoldo Fortunato Galtieri foram derrotadas pela maior força-tarefa britânica vista desde a Segunda Guerra Mundial, enviadas pela primeira-ministra Margareth Thatcher.

De lá para cá, as ilhas continuam sob domínio britânico. Os “kelpers”, denominação dos ilhéus, afirmam que pretendem continuar como súditos da coroa. Outra hipótese, a de proclamar a independência. O governo argentino ignora os 3 mil kelpers que ali residem e afirma que negociará a soberania das Malvinas de forma direta com Londres. Na capital britânica as autoridades afirmam que não negociarão assunto algum sobre as Malvinas sem a concordância dos ilhéus.

16 de junho de 2012



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