O deputado Miro Teixeira, que vem desenvolvendo uma atuação política excelente, apontou com nitidez a contradição total da maioria governista na CPI do Congresso instalada para identificar até onde se estende (ou estendia) a rede de influência de Carlos Ramos Cachoeira.
De um lado, o Palácio do Planalto, através do ministro chefe da Controladoria Geral da União, Jorge Hage, declara a Delta inidônea. Mas de outro, a base parlamentar do próprio governo bloqueia a convocação do empresário Fernando Cavendish. Este, na sinfonia em Paris que compôs, reuniu-se com vários parlamentares, entre estes o senador Ciro Nogueira e o deputado Maurício Quintela Lessa. Os dois integram a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito.
O bloco majoritário colocou-se acima da vontade da presidente Dilma Rousseff. Não pode haver outra interpretação. Das duas, uma.
O Globo de sexta-feira editou magnífica reportagem sobre a reunião da véspera da CPI, assinada por Chico de Góis e Demétrio Weber. Fotos de Ailton de Freitas e André Coelho. Na Folha de São Paulo a reportagem foi de Andreza Matais e Erich Decat.
O título do meu artigo – claro – é inspirado no grande musical de Vicente Minelli, com Gene Kelly e Leslie Caron nos papeis principais. Filme de grande sucesso do início da década de 50. Obra inesquecível pelo uso da cor e estética dos números dançados.
Miro Teixeira referiu-ser em seu pronunciamento a um almoço ou jantar promovido por Cavendish em Paris, num restaurante do Triângulo de Ouro. Pena que os fotógrafos Ailton de Freitas e André Coelho não tenham estado lá nesse encontro de encantamento. Teriam produzido material visual de alto nível porque Paris é sempre uma festa. Cidade que fascina por sua beleza, arte e atmosfera. Mas este é outro ângulo da questão: o cenário.
Do cenário passamos para a trama. Mais um apontamento inadequado de Fernando Cavendish com autoridades públicas. Não pega bem. Surge sempre a sombra da suspeita, fundada ou não, mas sempre uma dúvida em torno do comportamento humano e dos assuntos tratados.
A dúvida emerge reforçada no palco dos acontecimentos sobretudo diante do temor e do fervor com que o deputado Cândido Vaccarezza, líder do governo, combateu a convocação e a acusação de Miro Teixeira, aliás ex-ministro do primeiro governo de Lula.
Qual a razão do medo? Não se atina qual seja. Principalmente porque a CPI não se encontra, a rigor, investigando Carlos Cachoeira ou Fernando Cavendish. As investigações já foram feitas pela Polícia Federal.
Assim, a CPI do Congresso está, na verdade, confirmando os levantamentos da PF, órgão subordinado ao ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, portanto integrante da equipe de Dilma Rousseff. Na sequência, segundo plano, tentando iluminar a profundidade das ações desenvolvidas em conjunto pelos personagens, estendendo-se às obras da Delta. Contratos muito confusos. Tão confusos que o ministro Jorge Hage, com base neles, declarou a inidoneidade da empresa hoje aparentemente sem proprietários.
Ia ser vendida à JF Friboi, de cujo capital o BNDES participa. Porém a operação foi cancelada depois de articulada. Cancelada, provavelmente, por determinação da própria presidente da República.
A sinfonia em Paris da Delta ainda vai produzir alguns capítulos em série.
Possui todos os ingredientes para isso. Principalmente a partir de agora, quando a liderança de Dilma Rousseff no Parlamento desafina e sai fora do tom do Palácio do Planalto. Não é provável que o ministro Jorge Hage venha a recuar do ato que excluiu a Delta pelo menos de novos contratos públicos. Confirmada a hipótese, como ficará Vaccarezza?
Pedro do Coutto
16 de junho de 2012
De um lado, o Palácio do Planalto, através do ministro chefe da Controladoria Geral da União, Jorge Hage, declara a Delta inidônea. Mas de outro, a base parlamentar do próprio governo bloqueia a convocação do empresário Fernando Cavendish. Este, na sinfonia em Paris que compôs, reuniu-se com vários parlamentares, entre estes o senador Ciro Nogueira e o deputado Maurício Quintela Lessa. Os dois integram a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito.
O bloco majoritário colocou-se acima da vontade da presidente Dilma Rousseff. Não pode haver outra interpretação. Das duas, uma.
O Globo de sexta-feira editou magnífica reportagem sobre a reunião da véspera da CPI, assinada por Chico de Góis e Demétrio Weber. Fotos de Ailton de Freitas e André Coelho. Na Folha de São Paulo a reportagem foi de Andreza Matais e Erich Decat.
O título do meu artigo – claro – é inspirado no grande musical de Vicente Minelli, com Gene Kelly e Leslie Caron nos papeis principais. Filme de grande sucesso do início da década de 50. Obra inesquecível pelo uso da cor e estética dos números dançados.
Miro Teixeira referiu-ser em seu pronunciamento a um almoço ou jantar promovido por Cavendish em Paris, num restaurante do Triângulo de Ouro. Pena que os fotógrafos Ailton de Freitas e André Coelho não tenham estado lá nesse encontro de encantamento. Teriam produzido material visual de alto nível porque Paris é sempre uma festa. Cidade que fascina por sua beleza, arte e atmosfera. Mas este é outro ângulo da questão: o cenário.
Do cenário passamos para a trama. Mais um apontamento inadequado de Fernando Cavendish com autoridades públicas. Não pega bem. Surge sempre a sombra da suspeita, fundada ou não, mas sempre uma dúvida em torno do comportamento humano e dos assuntos tratados.
A dúvida emerge reforçada no palco dos acontecimentos sobretudo diante do temor e do fervor com que o deputado Cândido Vaccarezza, líder do governo, combateu a convocação e a acusação de Miro Teixeira, aliás ex-ministro do primeiro governo de Lula.
Qual a razão do medo? Não se atina qual seja. Principalmente porque a CPI não se encontra, a rigor, investigando Carlos Cachoeira ou Fernando Cavendish. As investigações já foram feitas pela Polícia Federal.
Assim, a CPI do Congresso está, na verdade, confirmando os levantamentos da PF, órgão subordinado ao ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, portanto integrante da equipe de Dilma Rousseff. Na sequência, segundo plano, tentando iluminar a profundidade das ações desenvolvidas em conjunto pelos personagens, estendendo-se às obras da Delta. Contratos muito confusos. Tão confusos que o ministro Jorge Hage, com base neles, declarou a inidoneidade da empresa hoje aparentemente sem proprietários.
Ia ser vendida à JF Friboi, de cujo capital o BNDES participa. Porém a operação foi cancelada depois de articulada. Cancelada, provavelmente, por determinação da própria presidente da República.
A sinfonia em Paris da Delta ainda vai produzir alguns capítulos em série.
Possui todos os ingredientes para isso. Principalmente a partir de agora, quando a liderança de Dilma Rousseff no Parlamento desafina e sai fora do tom do Palácio do Planalto. Não é provável que o ministro Jorge Hage venha a recuar do ato que excluiu a Delta pelo menos de novos contratos públicos. Confirmada a hipótese, como ficará Vaccarezza?
Pedro do Coutto
16 de junho de 2012
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