"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 3 de junho de 2012

MARTA FOI HUMILHADA POR LULA NO PROGRAMA DO RATINHO

Humilhada por Lula no Programa do Ratinho, tratada como velharia “sem entusiasmo”, Marta falta à festa de lançamento da candidatura de Haddad e irrita PT

Leiam o que informam Bernardo Mello Franco e Mariana Carneiro, na Folha. Volto em seguida:Preterida na escolha do candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, a senadora Marta Suplicy faltou ontem à festa de lançamento da campanha de Fernando Haddad e causou forte constrangimento à cúpula do partido. A atitude da ex-prefeita, que não deu explicação para sua ausência, irritou o ex-presidente Lula e o pré-candidato, que preparou discurso com elogios à gestão dela no município (2001-2004). “Fiquei chateado, né? Todos nós gostaríamos que ela estivesse aqui”, disse Haddad. Questionado se Marta deu alguma justificativa, ele foi lacônico: “Não”. O presidente municipal do PT, vereador Antonio Donato, afirmou não ter sido avisado dos motivos da senadora: “Pergunta para ela”.

Marta confirmou presença, mas faltou sem avisar a ninguém e deixou o celular desligado, assim como seus assessores. A ausência inesperada levou petistas a cometer gafes em sequência. Num dos primeiros discursos, o senador Eduardo Suplicy, ex-marido da senadora, anunciou que ela chegaria “a qualquer momento”. O deputado Paulo Teixeira chegou a escrever no Twitter que ela estava no ato, mas logo se corrigiu: “Ops, errei! A Marta não está aqui! Rs”.

Apesar do desconforto, os petistas se esforçaram para não melindrar a ex-prefeita. Ela foi elogiada em quatro discursos, inclusive nos de Lula e do pré-candidato. Impaciente com o que ainda parecia um atraso de Marta, Suplicy enviou um torpedo: “Você está sendo fortemente aguardada. Abs, Eduardo”. Ela não respondeu. Na saída, o senador ligou para a ex-prefeita diante de jornalistas, mas teve que deixar recado na caixa postal. “Olá, Marta. É Eduardo. Quando puder, me ligue. Agora já acabou a convenção.”
(…)
Voltei

Marta Suplicy está longe de integrar o grupo de políticos do meu gosto. Muito longe! E acho que ela acabará não resistindo à pressão. Mas covenham: tudo tem limites, não? No “Programa do Ratinho”, a senadora e ex-prefeita foi humilhada, tratada como velharia, o que é obviamente injusto. Atenção! “Injusto”, deixo claro, segundo os critérios e a história do próprio PT. Lula foi notavelmente grosseiro com a “companheira”.
 
No programa, simulando cochichar ao pé do ouvido de Lula, falando baixinho, como quem fosse arrancar do outro um segredo e a revelação de uma grande esperteza, Ratinho pergunta: “Por que é que o Haddad foi escolhido para ser o candidato a prefeito?” Aiatolula, então, assumindo ares de coronel Ramiro Bastos (a novela “Gabriela” está voltando aí…), não se constrange, não se intimida, não doura a pílula. Deixando claro que a decisão foi sua, unipessoal, ato de caudilho, que bate o porrete na mesa (como fazia Ratinho no princípio da carreira) , avançou com a sua sociologia manca:

LULA - Olhe, por uma razão muito simples: convivi com Haddad durante o tempo que eu fui presidente da República; convivi com a Marta durante 30 anos… A Marta já foi prefeita, uma belíssima prefeita em São Paulo, mas eu achava que era o momento de a gente apresentar uma coisa nova para a cidade de São Paulo. Porque um prefeito de São Paulo, qualquer que seja ele, ele começa a nascer é já é um pouco velho. Eu falei outro dia isso… Porque veja: o Fernando Haddad, com essa cara boa, bonita aí…
RATINHO - É, ele é bonitão, um galã…

LULA - ganha as eleições, no dia 1º, dá um temporal aqui em São Paulo, já tá o prefeitozinho com a água até o pescoço. Então eu acho, acho que São Paulo precisa ter alguém que tenha o entusiasmo que ele teve cuidando da educação no Brasil (…)

E Lula seguiu, elencando algumas mentiras sobre os feitos de Haddad, sem destacar uma única ação de Marta na cidade. Com cara de aluninho elogiado pela professora, que a presenteia com uma maçã ao fim da aula (lembram-se desse clichê?), o escolhido de Lula ouvia tudo, embevecido com os elogios e os seus supostos feitos, até ser chamado a integrar a mesa. Ao tomar a palavra, nenhuma menção a Marta, nada! Afinal, ele era a “cara nova”, a “cara bonita”, o “galã”, aquele “cheio de entusiasmo”…

Por enquanto ao menos, Marta parece dizer que há um limite para a humilhação. Como disse, talvez ceda à pressão do partido, dado o clima de guerra que Lula quer criar em São Paulo. Mas ainda não chegou essa hora. Observo que a fala de Lula revela o que é uma estratégia de marketing. Quem estava falando ali era João Santana. Haddad é um candidato saído do laboratório de propaganda, pouco importando a vida partidária, a vontade dos filiados, o que seja…

Só em São Paulo??? Vejam o caso de Recife. Lula decidiu que, na capital de Pernambuco, o prefeito João da Costa não vai disputar a reeleição. E ponto final! Além das divergências locais (e são grandes, nascidas de uma disputa de alas do PT na escolha da empresa que faz a coleta de lixo), uma das exigências do governador Eduardo Campos para o PSB apoiar Haddad na capital paulista é que Costa seja defenestrado. Em São Paulo, o ApeDELTA decidiu que não haveria prévias.
Em Recife, elas aconteceram, o prefeito venceu, mas a Executiva Nacional do PT, por ordem do coroné, anulou o processo.
É isso o que alguns bananas, disfarçados de cientistas políticos isentos, chamam de “modernidade” no PT.

03 de junho de 2012
Por Reinaldo Azevedo

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