Por quatro votos a três, o Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) decidiu, na semana que passou, que o trabalho que ele próprio faz de
análise das contas das campanhas eleitorais de nada vale.
Isso mesmo. Centenas de servidores espalhados país afora, que se esmeram na conferência das contas, e outras dezenas de juízes que deferem ou não os documentos comprobatórios de arrecadação e gastos dos candidatos o fazem por mero diletantismo. Um trabalho inútil. Tempo e dinheiro jogados fora, já que, a não ser que o Ministério Público cobre, tanto faz as contas serem ou não aprovadas.
Esse entendimento, por mais absurdo que pareça, foi o que emergiu da sessão da última quinta-feira, quando o ministro Dias Toffoli votou contra a norma aprovada pelo mesmo TSE, em março, que impedia a candidatura daqueles postulantes com contas eleitorais rejeitadas em pleitos anteriores.
Mais de 20 mil políticos contas-sujas foram reabilitados pelo voto de Toffoli. Do inferno, promoveram-se ao paraíso.
Há os que dizem que a regulamentação que o TSE fez em março não poderia valer para outubro de 2012, pois a legislação eleitoral só pode ser alterada com um ano de antecedência. Quisera esse tivesse sido o argumento para derrotá-la. Mas não foi. Derrotou-se o princípio.
Em seu voto, Toffoli diz que a lei exige a apresentação das contas, não a aprovação. E foi mais longe em sua interpretação: “o legislador não estabeleceu a distinção por acaso”.
Só os legisladores não sabiam o que Toffoli sabia sobre a intenção deles.
Tanto é assim que correram desesperadamente atrás do prejuízo. Em maio, a Câmara dos Deputados aprovou, em votação relâmpago, um projeto de lei que permitia a candidatura dos contas-sujas. Em uma única sessão, os deputados aprovaram a urgência e o mérito da matéria. Algo sui generis.
Quase ao mesmo tempo, o PT, seguido por 17 partidos, recorreu à Justiça para fazer valer o direito daqueles que tiveram contas rejeitadas. Quisera o Parlamento se mobilizasse com tamanha destreza e vigor pela correta aplicação de recursos públicos ou para fazer valer o direito dos eleitores.
Resultado: a não ser que os deputados e senadores queiram mudar a lei, algo tão improvável quanto imaginá-los coibindo todo e qualquer tipo de corrupção, ou que o TSE reveja a interpretação que fez, nem neste ano nem nas eleições futuras se exigirá dos candidatos aprovação de contas de campanha. Basta apresentá-las dentro dos prazos, mesmo que erradas, burladas ou maquiadas, e pronto.
Com o endosso da Justiça, sacramentou-se a impunidade.
01 de julho de 2012
Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes.
NOTA AO PÉ DO TEXTO
QUE COISA, SÔ!!! QUE NOJEIRA!!!
m.americo
Isso mesmo. Centenas de servidores espalhados país afora, que se esmeram na conferência das contas, e outras dezenas de juízes que deferem ou não os documentos comprobatórios de arrecadação e gastos dos candidatos o fazem por mero diletantismo. Um trabalho inútil. Tempo e dinheiro jogados fora, já que, a não ser que o Ministério Público cobre, tanto faz as contas serem ou não aprovadas.
Esse entendimento, por mais absurdo que pareça, foi o que emergiu da sessão da última quinta-feira, quando o ministro Dias Toffoli votou contra a norma aprovada pelo mesmo TSE, em março, que impedia a candidatura daqueles postulantes com contas eleitorais rejeitadas em pleitos anteriores.
Mais de 20 mil políticos contas-sujas foram reabilitados pelo voto de Toffoli. Do inferno, promoveram-se ao paraíso.
Há os que dizem que a regulamentação que o TSE fez em março não poderia valer para outubro de 2012, pois a legislação eleitoral só pode ser alterada com um ano de antecedência. Quisera esse tivesse sido o argumento para derrotá-la. Mas não foi. Derrotou-se o princípio.
Em seu voto, Toffoli diz que a lei exige a apresentação das contas, não a aprovação. E foi mais longe em sua interpretação: “o legislador não estabeleceu a distinção por acaso”.
Só os legisladores não sabiam o que Toffoli sabia sobre a intenção deles.
Tanto é assim que correram desesperadamente atrás do prejuízo. Em maio, a Câmara dos Deputados aprovou, em votação relâmpago, um projeto de lei que permitia a candidatura dos contas-sujas. Em uma única sessão, os deputados aprovaram a urgência e o mérito da matéria. Algo sui generis.
Quase ao mesmo tempo, o PT, seguido por 17 partidos, recorreu à Justiça para fazer valer o direito daqueles que tiveram contas rejeitadas. Quisera o Parlamento se mobilizasse com tamanha destreza e vigor pela correta aplicação de recursos públicos ou para fazer valer o direito dos eleitores.
Resultado: a não ser que os deputados e senadores queiram mudar a lei, algo tão improvável quanto imaginá-los coibindo todo e qualquer tipo de corrupção, ou que o TSE reveja a interpretação que fez, nem neste ano nem nas eleições futuras se exigirá dos candidatos aprovação de contas de campanha. Basta apresentá-las dentro dos prazos, mesmo que erradas, burladas ou maquiadas, e pronto.
Com o endosso da Justiça, sacramentou-se a impunidade.
01 de julho de 2012
Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes.
NOTA AO PÉ DO TEXTO
QUE COISA, SÔ!!! QUE NOJEIRA!!!
m.americo
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