"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 1 de julho de 2012

SEM NOME E SEM ROSTO, O TORTURADOR TAMBÉM É UM TORTURADO

Falando à imprensa na fase final da Rio+20 sobre a publicação agora, pelo Correio Braziliense e Folha de São Paulo, do depoimento que prestou em 2001 a respeito das torturas que sofreu na década de 70 em porões militares e policiais, a presidente Dilma Rousseff afirmou não odiar nem perdoar seus torturadores. A reportagem, de Fernando Rodrigues está publicada na FSP de 23 de junho. Os torturadores escondiam (e tentam esconder) os seus nomes e os seus rostos – acrescentou.

Esta, digo eu, é a maior autoconfissão possível. Pois quem oculta o nome e a face, além da expressão de ódio e prazer sob o capuz, sabe que sua atitude representa uma enorme ruptura moral. Pois quem deseja permanecer nas sombras dos calabouços, ladeado por grades, gritos de dor e desespero, tem plena consciência do papel imundo que estava representando. Pode estar anistiado, mas nunca será um ser humano livre. Transforma-se em prisioneiro eterno de si mesmo. Sua prisão é a casa em que mora com sua mulher, seus filhos, seus netos, sua família. Não conseguirá escapar de sua consciência. Do reflexo de seus olhos no espelho.

Um dia, em 1961, numa entrevista para o Correio da Manhã sobre o reatamento de relações diplomáticas com a antiga União Soviética, ao rebater ataques do governador Carlos Lacerda, o ministro Santiago Dantas colocou uma frase definitiva, não só no plano político, mas quanto ao comportamento humano. Disse ele textualmente: Nenhuma posição é legítima quando aquele que a ocupa não puder dizer o seu verdadeiro nome. Perfeito.

Ninguém pode dizer a si e aos outros que foi um torturador, que é um contraventor, que é um ladrão, que é um assassino. Pode praticar tudo isso, mas não conseguirá auto definir-se assim.

É exatamente esse o caso dos que torturaram Dilma Rousseff e tantos outros seres humanos. O pretexto é a confissão. Porém, sob o ângulo freudiano, não é apenas isso. Trata-se da tortura pela tortura, o prazer quase sensual de causar dos e sofrimento. Ou assistir a sessões de horror. Neste caso, empresários que pagavam complementações (vamos dizer assim) à Operação Oban do delegado Fleury, em dependências do Exército. São ou eram seres sub-humanos, imitadores do nazismo de Hitler e dos processos de Moscou determinados. Mas ele e o líder soviético Stalin são, sem dúvida, os maiores assassinos da história.

Um dos aspectos, inclusive, que mais destacam sob o ponto de vista histórico a capacidade política de Vargas é o fato de que ninguém governou o Brasil num contexto internacional tão difícil. Stalin, em 35, autorizou apoio à tentativa de uma revolução comunista, cujo desfecho seria o assassinato de Getúlio. Fracassou totalmente.

Hitler, em 38, armou o braço integralista para assassinar Vargas no Palácio Guanabara. Quase conseguiu. Vargas havia colocado o Partido Nazista fora da lei. Só declarou guerra à Alemanha em 42. Relativamente a Stalin, terminou sendo seu aliado contra o eixo, da mesma maneira que Roosevelt e Churchill. Mas este é outro capítulo.

Os torturadores, tenham sido eles da Polícia de Filinto Muller, ditadura varguista, tenham sido os da ditadura militar de 64 a 85, serão sempre, homens e mulheres, eternamente desprezíveis, rejeitados por si mesmos. Não são capazes de amar ou ser amados. São pessoas destrutivas, capazes de destruir as próprias consciências. O espelho será uma maldição eterna para eles. Não escapam do destino. E da verdade.

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