"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 11 de julho de 2012

A CUT ESQUECE QUE FOI LULA QUEM DEMITIU JOSÉ DIRCEU DA CASA CIVIL

Trata-se de uma alucinação completa, inédita na política brasileira, a disposição revelada pelo atual presidente da CUT, Artur Henrique, e do que o sucede esta quinta-feira, Vagner Freitas, de tentarem mobilizar os trabalhadores, não em busca de melhores salários, mas para, nas ruas, defenderem os réus do Mensalão. Diga-se de passagem, especialmente o principal personagem, José Dirceu.

Sustentam que o escândalo que explodiu em 2005 foi direcionado para depor o presidente Lula. Mas como podem dizer isso? Esquecem o essencial: foi Lula quem o demitiu da chefia da Casa Civil. Omitem também que o ex-ministro teve seu mandato parlamentar cassado, junto com Roberto Jefferson, com o voto de parte da bancada do próprio PT na Câmara Federal.

Caso contrário, a votação foi secreta, a maioria necessária não teria sido alcançada. Os dirigentes da Central Única dos Trabalhadores devem entender que, se alguém colocou o governo da época em risco, esse alguém foi exatamente José Dirceu.

Excelente reportagem de Mariana Carneiro e Daniela Lima, Folha de São Paulo de terça-feira, destacou o tema. A foto é de Marlene Bérgamo. Acentuado ineditismo do impulso: verifica-se que a mobilização pelo menos anunciada (não creio que se concretize) volta-se tanto contra o Supremo Tribunal Federal quanto contra a presidente Dilma Rousseff.

Sem dúvida. Pois um ato de força, como aquele de 1925 desencadeado a partir de uma cervejaria de Munique, Alemanha, só pode ter como objetivo provocar um abalo no regime institucional e democrático. E só imaginar o efeito de uma concentração em Brasília, na Praça dos Três Poderes, contra a Corte Suprema do país. Pior do que isso só uma invasão do Palácio do Planalto. Tipo da que aconteceu em outubro de 1917 em Moscou.

Não faz o menor sentido. Não possui a menor lógica. Inclusive assinala uma contradição. Os que comandam a CUT sequer acreditam na hipótese de absolvição de José Dirceu. Pois se acreditassem, mesmo de forma remota, não estariam programando a pressão que tentam articular.
O julgamento será decidido pelos votos dos integrantes do Supremo. Procurando levá-los simbolicamente contra a parede assinalam publicamente seu próprio descrédito quanto ao desfecho. Um pensamento leva a outro. Uma atitude impensada conduz a outra.

Se tal marcha contra o STF tivesse sucesso, o que é impossível, do episódio sairia seriamente abalada a autoridade da presidente Dilma Rousseff. Teria sido obtida uma consequência alheia à liderança presidencial. Será que os alucinados da CUT não levam esse elenco de perspectiva em conta? É o que parece.

Afinal. tanto o PT quanto a CUT encontram-se no poder. Rematado absurdo agirem como se estivessem na oposição. Elegeram dois presidentes da República nas urnas democráticas de três eleições, e, por causa de Dirceu, desejam jogar tudo para o alto? O que ganhariam com isso? Não entendem nada. Não vêem que, ao defender o ex-ministro, estão colocando Dirceu acima de Dilma Rousseff e de Lula em matéria de importância política? Parece que não.

Encontram-se tomados pela emoção desvairada que obscurece a visão clara da realidade.
Aconteceu com o governo João Goulart, em 63 a 64. As forças sindicais estavam no poder e atuavam como se fossem da oposição. Em vez de Eros, o Tanatus freudiano, figura enigmática do derrotismo e da destruição. Em alguns casos, até a destruição de si próprio.

O contexto Eros e Tanatus pertence ao universo sensual. A CUT deseja projetá-lo na política? Como a CGT fez no período Goulart? Não é possível. Essa não.

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