No fim de maio, faz pouco mais de mês, a senhora presidente da República declarou que o Brasil estava preparadíssimo para enfrentar os efeitos da crise que se repetia na Europa; assoalhou que, se em 2008 o Brasil fora o último país a nela entrar, o primeiro a dela sair, agora estava em situação muito mais cômoda, 100%, 200%, 300% melhor; indo à Feira de Hannover, com uma parada no Porto para nutrir-se com memorável bacalhoada, que atrasou sua chegada à Alemanha, distribuiu conselhos aos governantes europeus.
No entanto, a desindustrialização de importante setor da indústria soou como severa advertência acerca da nossa situação. É claro que o inusitado dessa declaração, partindo de uma chefe do Estado e do governo não poderia causar-me boa impressão, a começar de sua gratuidade e da óbvia inconsequência.
De mais a mais, jactar-se de uma superioridade sobre dados estranhos a seu domínio, soa como mera jactância. Outrossim, a assertiva segundo a qual os efeitos da crise estancavam nas fronteiras brasileiras não passavam de vã pretensão. Basta lembrar, v.g., que o fato da China suspender a importação do minério de ferro foi o suficiente para a queda do seu preço e uma queda vertical nas exportações brasileiras.
O Instituto Brasileiro de Economia da FGV, prevê queda de 4,3% da produção industrial, a maior em 32 meses
Mais ou menos coincidente com o fenômeno lúgubre da desindustrialização foi o crescimento do PIB no segundo trimestre, em apenas 0,2%, comparado com o do último trimestre do ano passado.Evidentemente, a proclamada inviolabilidade das nossas fronteiras lembrava a da Linha Maginot… e os fatos se encarregaram de demonstrar. O Banco Central, nada menos que o Banco Central, contestou frontalmente a versão presidencial.
Em audiência pública, na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, o presidente do Banco Central declarou que os sinais de desaceleração econômica “vêm de todos os lados”, isto porque “longe de uma solução, a crise externa fará com que os mercados financeiros operem voláteis e a economia global tenha ritmo fraco em um período de até dois anos” e, para quem ainda duvidasse, aditou que a economia global deveria seguir em ritmo aquém do previsto.
Suponho que ninguém atribuirá malquerença a essa alta autoridade que, em lugar público e perante uma comissão do Senado, fez as declarações ora reproduzidas, bem como ninguém pode deixar de dar-lhes natural importância.
Não ficou nisso. Além da advertência do presidente do Banco Central, o próprio Banco Central em exposição trimestral em que avalia as variações da economia nacional, corrigiu de 3,5% para 2,5% sua projeção para o crescimento do PIB em 2012. É de lembrar-se que quando se tornou conhecido o aumento do PIB no segundo trimestre de 2012, em apenas 0,2%, o ministro da Fazenda entrou a delirar, afiançando que seria tão grande o crescimento no terceiro trimestre que já estava a assegurar um crescimento esplêndido de todo o ano em curso!
Desde o fim do ano passado, o governo fez sete anúncios de pacotes na expectativa de reverter a desaceleração da economia interna. O último, no final de junho, foi recebido com ceticismo, diante de redução da produtividade da economia brasileira. O Instituto Brasileiro de Economia da FGV, prevê queda de 4,3% da produção industrial, a maior em 32 meses e a previsão de redução do PIB para 2%, analistas já admitem chegar a 1,7%.
Não me considero habilitado a opinar em matéria dessa delicadeza, mas me parece claro que a situação não se apresenta como tranquila.
Paulo Brossard
11 de jjulho de 2012
Fonte: Zero Hora
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