"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 17 de julho de 2012

NOTAS POLÍTICAS DO JORNALISTA CARLOS CHAGAS

SOBRE O LULA, GOLBERY E O BRUCUTU

Muitas décadas atrás faziam extraordinário sucesso as tiras em quadrinhos estreladas pelo “Brucutu”, simpático troglodita que através da fantástica máquina do tempo do professor Papanatas passeava pelos principais acontecimentos da História.
Ora nosso herói estava em Roma, aconselhando Julio César, ora na Idade Média, participando da invasão da Inglaterra por Guilherme o Conquistador, sem esquecer suas aventuras com os piratas do Caribe ou nas guerras de Frederico o Grande.
Também esteve na Revolução Francesa e na Independência dos Estados Unidos. Em todos os episódios, era o Brucutu que do alto de sua ingenuidade orientava e definia os rumos da Humanidade.

Por que lembramos daqueles tempos felizes onde a imaginação das crianças permitia a absorção de capítulos inteiros da História?

Porque está faltando um dr. Papanatas na atual realidade brasileira, capaz de levar-nos, se possível junto com o Brucutu, até acontecimentos fundamentais do passado brasileiro que precisam ser elucidados.
O maior deles refere-se à exata participação do Lula no processo político-sindical dos anos do regime militar. Seria verdadeira a versão de ter o hoje primeiro-companheiro sido manipulado pelo general Golbery do Couto e Silva para desenvolver o sindicalismo de resultados, renegando a revolução popular e até congelando as reformas sociais mais profundas?

Serviu, o Lula, de instrumento para neutralizar Leonel Brizola e, ao mesmo tempo, isolar os comunistas e outros radicais? Prestou-se ao papel de inocente útil, algoz do Partido Trabalhista em favor do Partido dos Trabalhadores? Teve consciência de estar sendo usado ou usou aquela oportunidade para afirmar-se no cenário político?

Passou o bruxo-general para trás ou foi passado por ele? Também valeu-se da Igreja, ou de seus setores mais progressistas naquele início de caminhada, pouco se importando depois com o desembarque de bispos frustrados?

Continua obscura aquela gestação de tudo o que se verificou depois, com a ida do Lula para o poder. A chave para se entender os dias de hoje repousa no fundo do poço de onde ele emergiu, claro que por seus próprios méritos e por sua capacidade de conduzir o novo processo em marcha.

Como o dr. Papanatas deve ter-se aposentado e o Brucutu perdeu-se nos meandros da História, a solução seria o Lula revelar o que seus inúmeros biógrafos não descobriram. Terá sido uma criação de Golbery ou Golbery, contrariando sua natureza, deixou-se enganar por um torneiro-mecânico?

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UM TEMA NOVO

O recesso parlamentar que se estenderá até agosto servirá de palco para um novo tema capaz de envolver grandes preocupações políticas: a reforma do ministério. Claro que as campanhas para as eleições municipais, agora, e em especial seus resultados, depois de outubro, é que definirão o contorno das mudanças mais do que prováveis na atual equipe de governo.

Mas será inevitável que a presidente Dilma reexamine o quadro de forças partidárias disposto ao seu redor, diante da ascensão de uns e a queda de outros. Mais ainda, dentro dos grupos e alas dispostos nos partidos de sua base, quais os que merecerão emergir ou submergir em sua administração. Parece óbvio que ainda não será desta vez que a presidente escolherá o seu ministério pessoal, desprezando influências políticas e fixando-se nos melhores de cada setor.

Dependerá do apoio das forças que a sustentam no Congresso, mas fechando um pouco mais o círculo das imposições desvinculadas de sua vontade. Haverá que aguardar a performance das diversas legendas, mas sabendo que novas lideranças precisarão ser prestigiadas, ao tempo em que algumas velhas desaparecerão.

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NOVA CAMPANHA CONTRA A IMPUNIDADE

Quem anda reabastecendo as baterias é o senador Pedro Simon, disposto a desenvolver no segundo semestre nova campanha contra a impunidade, para ele um dos maiores males a assolar o país. Duas alavancas poderão ajudá-lo a impulsionar a luta contra as facilidades que privilegiam especialmente os ladrões de colarinho branco: o julgamento dos réus do mensalão, pelo Supremo Tribunal Federal, e a CPI do Cachoeira, em condições de desbastar o cipoal de corrupção agora sendo investigado.
O senador gaúcho não esmorece em sua cruzada contra a impunidade, apesar do desdém com que é recebido pelas lideranças de seu próprio partido, o PMDB. Desdém que é capaz de ser transformado em medo…

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