"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 17 de julho de 2012

CURIOSIDADES ETIMOLÓGICAS

O idiota nem sempre foi estúpido



Eric Christian Olsen no filme 'Debi & Lóide 2'

Quando surgiu no grego, a palavra idiotes não era tão pesadamente ofensiva – ou pesadamente precisa, a depender do cidadão a que se refere – quanto acabaria por se tornar depois que, por meio do latim idiota, se espalhou pelo mundo e gerou descendentes em diversas línguas, entre elas o português, o francês e o inglês.
O sentido primitivo de idiotes era o de “homem privado”, isto é, metido com seus próprios afazeres, afastado da gestão da coisa pública. Na sociedade grega da época, isso era o mesmo que dizer “pessoa sem instrução”, pois só tomava parte na vida pública quem tivesse algumas luzes.

No núcleo de idiotes está idios, que tem o sentido de “próprio, particular, peculiar”. Trata-se do mesmo elemento que viria a dar em vocábulos como idioma (“língua pátria”, mas inicialmente “particularidade de estilo”) e idiossincrasia (“característica peculiar de comportamento”). Etimologicamente, a palavra não carregava juízo de valor.

Naturalmente, já no próprio grego a palavra começou a ter uso pejorativo. Afinal, a condição de “homem privado”, de leigo em questões do Estado, era uma marca de inferioridade de classe.
Quando chegou ao latim, idiota já carregava, ao lado da acepção primitiva de “pessoa simples, sem instrução, iletrada”, a de “pateta, parvo, tolo”.

No século 19, o vocabulário psiquiátrico se encarregaria de agravar o peso da palavra, trasformando o termo idiotia em sinônimo de “retardo mental grave”. No entanto, é interessante notar como aquela acepção relativamente branda de idiota – hoje inteiramente obsoleta – persistiu nas línguas que herdaram a palavra, ao lado do sentido moderno, durante a Idade Média e mesmo além dela.

Dois exemplos deixam isso claro. O Webster’s registra que, em meados do século 15, o teólogo inglês John Capgrave podia se referir aos apóstolos de Cristo como “doze idiotas” sem temer a Inquisição.

De modo semelhante, o filólogo brasileiro João Ribeiro conta no livro “Curiosidades verbais” que “[no século 16] havia nas aldeias portuguesas juízes idiotas, simples juízes de paz e de quem não se exigia mais que os bons costumes, a experiência, a probidade”.

17 de julho de 2012
Veja

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