O CÔMICO E O GROTESCO NA CRÔNICA DO MENSALÃO
São duas histórias cômicas e grotescas do mensalão, em meio a tantas outras dramáticas.
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A CULPA É DOS AEROPORTOS
Suponhamos, da maneira mais simples,
como as coisas se passavam, cabendo ao Supremo Tribunal Federal confirmar ou desmentir. José Dirceu, chefe da Casa Civil, autorizava; Delúbio Soares, tesoureiro, selecionava; José Genoíno, presidente do PT, assinava; Marcos Valério, publicitário, operacionalizava; e Kátia Rabello, dona do Banco Rural, liberava. No caso, as dezenas de milhões que todo mês viajavam em espécie, de Belo Horizonte a Brasília, a fim de serem distribuídos entre deputados e partidos.
Claro que muitas vezes tudo se passava modernamente, com transferências feitas por ordens bancárias e a utilização de computadores, mas em se tratando de jogo de bandidos, melhor não deixar pistas.
Não era fácil o transbordo. Os partidos indicavam seus pombos-correio, que no mesmo dia viajavam da capital federal à capital mineira e, na volta, carregavam malas repletas de cédulas de 50 e de 100 reais. Certas vezes as quantias eram tão altas, e por isso tão pesadas, que dadas as exigências das companhias aéreas tinham que seguir como bagagem despachada.
A tensão aumentava na hora de entregar a mala no balcão da companhia, ficava maior durante o trajeto e chegava ao paroxismo quando o indigitado responsável aguardava na esteira para recolhe-la. E se a empresa aérea extraviasse a mala? Se pela truculência dos carregadores ao joga-la e tira-la do carrinho, ela se abrisse, espalhando a fortuna pela pista? E se alguém roubasse precisamente aquela mala, avisaria a polícia?
Ficou tão grande o sofrimento que certa tarde um dos portadores teve um ataque de nervos ao receber um malão. Gritou que não se arriscaria e criou um impasse, pois seus chefes partidários, em Brasília, já estavam comprometidos com o recebimento e a distribuição do numerário.
A saída foi o pessoal do banco mandar comprar, às pressas, duas malas menores e uma mochila, para recheá-las de dinheiro, que ele levou no colo como bagagem acompanhada. Incomodou os passageiros à sua direita e à sua esquerda, mas viajou sossegado, livre do péssimo serviço prestado pelas empresas de aviação e os aeroportos…
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DOIS TÁXIS PARA TRANSPORTAR UMA FORTUNA
Belo Horizonte era o centro distribuidor de dinheiro para o mensalão, mas de vez em quando o Banco Rural utilizava-se de uma de suas agencias em São Paulo, singularmente aquela onde se entrava de carro pela garagem, sem necessidade de passar pela calçada. O pombo-correio armou-se de cautelas.
Desceu a rampa num táxi, acompanhado de outro, vazio. Subiu, trocou as senhas necessárias à liberação do dinheiro e voltou à garagem com duas malas repletas de notas. Naquele momento, surpreendeu o funcionário do banco que o acompanhava até os táxis: botou as duas malas no primeiro carro, ordenando ao motorista que tocasse para o aeroporto, sem passageiro. Embarcou no segundo, logo atrás, dizendo ao condutor apenas que “seguisse aquele táxi”.
Chegaram sem problemas, quando o pombo-correio pagou a ambos e embarcou sem dificuldade para Brasília. Depois, na capital federal, explicou a seus chefes partidários estar temeroso de alguma vigilância da polícia. Assim, se o primeiro táxi fosse abordado, simplesmente diria ao seu motorista que dobrasse à direita e sumisse, mesmo diante da evidência de perder aquela dinheirama…
Como todo mundo é inocente até que se lhe prove a culpa, ficamos devendo o nome do portador e o partido ao qual servia. E nem sabemos se esses dois episódios constam dos autos do processo. Pode ser que o Ministério Público nem os conheça. Apenas como indicação, vai uma dica: o pombo-correio, nos dois episódios, é o mesmo, hoje um dos 38 réus do mensalão…
São duas histórias cômicas e grotescas do mensalão, em meio a tantas outras dramáticas.
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A CULPA É DOS AEROPORTOS
Suponhamos, da maneira mais simples,
como as coisas se passavam, cabendo ao Supremo Tribunal Federal confirmar ou desmentir. José Dirceu, chefe da Casa Civil, autorizava; Delúbio Soares, tesoureiro, selecionava; José Genoíno, presidente do PT, assinava; Marcos Valério, publicitário, operacionalizava; e Kátia Rabello, dona do Banco Rural, liberava. No caso, as dezenas de milhões que todo mês viajavam em espécie, de Belo Horizonte a Brasília, a fim de serem distribuídos entre deputados e partidos.
Claro que muitas vezes tudo se passava modernamente, com transferências feitas por ordens bancárias e a utilização de computadores, mas em se tratando de jogo de bandidos, melhor não deixar pistas.
Não era fácil o transbordo. Os partidos indicavam seus pombos-correio, que no mesmo dia viajavam da capital federal à capital mineira e, na volta, carregavam malas repletas de cédulas de 50 e de 100 reais. Certas vezes as quantias eram tão altas, e por isso tão pesadas, que dadas as exigências das companhias aéreas tinham que seguir como bagagem despachada.
A tensão aumentava na hora de entregar a mala no balcão da companhia, ficava maior durante o trajeto e chegava ao paroxismo quando o indigitado responsável aguardava na esteira para recolhe-la. E se a empresa aérea extraviasse a mala? Se pela truculência dos carregadores ao joga-la e tira-la do carrinho, ela se abrisse, espalhando a fortuna pela pista? E se alguém roubasse precisamente aquela mala, avisaria a polícia?
Ficou tão grande o sofrimento que certa tarde um dos portadores teve um ataque de nervos ao receber um malão. Gritou que não se arriscaria e criou um impasse, pois seus chefes partidários, em Brasília, já estavam comprometidos com o recebimento e a distribuição do numerário.
A saída foi o pessoal do banco mandar comprar, às pressas, duas malas menores e uma mochila, para recheá-las de dinheiro, que ele levou no colo como bagagem acompanhada. Incomodou os passageiros à sua direita e à sua esquerda, mas viajou sossegado, livre do péssimo serviço prestado pelas empresas de aviação e os aeroportos…
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DOIS TÁXIS PARA TRANSPORTAR UMA FORTUNA
Belo Horizonte era o centro distribuidor de dinheiro para o mensalão, mas de vez em quando o Banco Rural utilizava-se de uma de suas agencias em São Paulo, singularmente aquela onde se entrava de carro pela garagem, sem necessidade de passar pela calçada. O pombo-correio armou-se de cautelas.
Desceu a rampa num táxi, acompanhado de outro, vazio. Subiu, trocou as senhas necessárias à liberação do dinheiro e voltou à garagem com duas malas repletas de notas. Naquele momento, surpreendeu o funcionário do banco que o acompanhava até os táxis: botou as duas malas no primeiro carro, ordenando ao motorista que tocasse para o aeroporto, sem passageiro. Embarcou no segundo, logo atrás, dizendo ao condutor apenas que “seguisse aquele táxi”.
Chegaram sem problemas, quando o pombo-correio pagou a ambos e embarcou sem dificuldade para Brasília. Depois, na capital federal, explicou a seus chefes partidários estar temeroso de alguma vigilância da polícia. Assim, se o primeiro táxi fosse abordado, simplesmente diria ao seu motorista que dobrasse à direita e sumisse, mesmo diante da evidência de perder aquela dinheirama…
Como todo mundo é inocente até que se lhe prove a culpa, ficamos devendo o nome do portador e o partido ao qual servia. E nem sabemos se esses dois episódios constam dos autos do processo. Pode ser que o Ministério Público nem os conheça. Apenas como indicação, vai uma dica: o pombo-correio, nos dois episódios, é o mesmo, hoje um dos 38 réus do mensalão…
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